ATO 18

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Podemos fugir de nossos problemas, mas não podemos fugir das consequências.

     Novamente sozinha, ensopada, e com alguns ferimentos na perna e na barriga, retornei para a floresta com passos cansados

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Novamente sozinha, ensopada, e com alguns ferimentos na perna e na barriga, retornei para a floresta com passos cansados. A dor sentida parecia muito real, o medo da morte também. E os que morrem no desafio? Como fica? Meu braço possuía queimaduras que passaram despercebidas ao fazer o círculo de fogo para espantar as aves mutantes.

Estava devastada.

Gritos ecoaram por perto e não parecia ser de uma criança, mas de várias. Retomei o folego e de passos leves fui averiguar o ocorrido. Adiante, uma vasta moita. Os gritos fortaleciam-se conforme me aproximava.

Embrenhei-me entre os matos e do outro lado do campo, vi mais dois Tigres-Guaxinins que dilaceravam pequenos corpos, pelo menos, cinco deles.

— Nunca imaginaria que caçar lebres na floresta fosse tão difícil — disse Dante, quase como um fantasma, parado ao meu lado, camuflando entre a grande moita, observando a chacina.

— Deus! Quer terminar de me matar, garoto? — reclamei, com um pulo ao vê-lo sujo e repleto de lama.

— Vi você atravessando o lago. Tem sorte de estar viva!

— É, eu sei. Pelo visto, você também — continuava encarando-o. Dante segurava um saco, provavelmente com seu animal capturado.

— Melhor se apressar garota. Sobraram poucos de nós e Patrick conseguiu achar a lebre. A maioria já está indo para a colina.

— Droga. Se encontraram ela, então não tenho mais nenhuma chance — reclamei, passando a mão no rosto.

— Não conte com a derrota antes do tempo — sorriu — Agora, se me der licença, preciso passar despercebido por essas bestas sanguinárias. Estão atrapalhando o caminho até a colina, para variar.

— Dante, só um momento — murmurei.

— Sim?

— Sei que não é um bom momento, mas o que realmente aconteceu com você e Petúnia na sala de utensílios? O que viu nas coisas dela que a fez te atacar? — perguntei enquanto ele se locomovia lentamente pelos cantos escuros do vasto campo onde os tigres terminavam suas refeições.

— Petúnia guarda muitos segredos. Quando terminarmos esta disputa, mostro a você o que ela esconde naquele saco velho — Dante seguiu em frente sem olhar para trás até desaparecer entre a escuridão da floresta.

Eu estava mesmo derrotada.

Metade das crianças morreram e as que permaneceram já seguiam para o fim da disputa. Perder logo de primeira seria humilhante. Pensei na Luna e em tudo o que estou lutando para manter. Se eu quisesse sair deste orfanato, teria que seguir as normas, ganhar importância, conquistar pessoas. Para compreender melhor as coisas eu precisava de respostas claras, mostrar que tudo o que vivem aqui era como Petúnia dizia, uma completa loucura.

Inclusive a própria Petúnia. Como as demais se afoga em seus segredos. Encontrar a tal Lola, é minha única chance de descobrir mais coisas. Um interliga o outro. Petúnia, Brok, Dante, Lola, os funcionários. Na verdade, eu nem sabia por onde começar. São poucas deduções e nenhuma evidência forte. Arrisquei, entrando nesta disputa doentia e agora estou perdendo.

Enquanto minha mente fuzilava reflexões, reparei em algo extremamente conveniente e desliguei meu discernimento.

— Ei! Guaxinins idiotas! — gritei para os tigres que logo voltaram a atenção em mim. Largaram os restos de carne que preenchiam suas bocas, e dispararam ao meu encontro. Corri o mais rápido que minhas curtas pernas podiam aguentar. Havia um plano que me mataria, ou daria certo.

As criaturas corriam velozes.

Sem hesitar, pulei no lago novamente, que desencadeou o pulo de todos os ingênuos tigres também. Nadei até a outra margem e os observei.

Não sabiam nadar. Se debatiam na água, dando curtos grunhidos. Afundaram um por um. Mergulhei e os vi ficarem inconscientes. Usei o pouco folego que me restava e nadei até um deles, pegando-o pelo rabo com as duas mãos. Subi para a superfície puxando-o.

E não deu outra. Os polvos surgiram das profundezas e atacaram as demais criaturas. Foi a distração perfeita para poder chegar a salvo na superfície sem que me alcançassem. Coloquei a cabeça para fora da água, respirei fundo e agarrei em um tronco perto da margem. Dali usei a força que me restava para puxar o tigre para o gramado.

— Pan! Venha! — exclamou Dayse, a bailarina, estendendo suas mãos para me ajudar a tirar a criatura do lago. De repente um tentáculo enorme, azulado, com textura viscosa, me puxou para dentro novamente, derrubando Dayse também.

— DROGA! — gritei apavorada, sem soltar o braço do tigre. Estávamos sendo puxadas com força. Dayse tirou de suas costas um arco com flechas e mirou no enorme tentáculo enquanto estava sendo arrastada.

Com muita precisão, ela disparou a flecha e rasgou o membro da criatura aquática, soltando-nos.

— Obrigada, Dayse. Eu estaria desclassificada se não fosse por você — gaguejei ofegante.

— Não há de que. Mas que raios você está fazendo com este tigre?! — perguntou conforme me ajudava a deixá-lo no gramado.

— Levarei para o topo da colina. Será meu presente para Srta. Pompoo.

— Bem ousado — respondeu surpresa — Então vamos, ou seremos as últimas!

Dayse tinha pegado um marsupial espinhoso. Diferente dos outros, carregava-o amarrado na cintura. No meu caso, teria que arrastar o pesado tigre com as duas mãos. O caminho era extenso até a colina.

— Nunca fui Alfa. Tenho uma imensa curiosidade de visitar alguns lugares que minha classe impossibilita.

— É um cargo bem disputado pelo que vi — dizia a ela, olhando à frente. As juntas de meus braços pareciam ceder a qualquer instante devido a força que usei para puxar a criatura.

Dali em diante, estávamos torcendo para não sermos mortas.

     Dali em diante, estávamos torcendo para não sermos mortas

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I - Onde Vivem Crianças IrrecuperáveisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora