Abditory

70.4K 4.6K 2.6K
                                    



Lauren's pov

Abditory (n.): um lugar dentro do qual se pode desaparecer. Um lugar escondido.

As pessoas só descobrem quem são, quando são testadas. Não há lugar mais certo para encontrar a si mesmo do que dentro de si. Eu não sabia disso até precisar desesperadamente de mim mesma para tomar decisões e não me encontrar, e perceber que eu não sabia quem eu era.

Lauren Jauregui, filha de Michael e Clara, garota hétero que jamais pensara em se envolver com uma mulher ou Lauren Jauregui, estudante de Harvard que não conseguia controlar a si mesma e assim, estar se apaixonando pela professora? E se eu fosse lésbica, qual era a vantagem em ser uma lésbica apaixonada por uma pessoa que me fazia mais mal do que bem?

As dúvidas surgiam cada vez mais intensas em minha cabeça e em um ritmo cada vez mais acelerado, que acompanhava a chuva torrencial e absolutamente inesperada de outono, que caía em Cambridge naquela tarde de sábado.

Normani, Dinah e eu, havíamos voltado ao dormitório na manhã daquele dia, apenas para tomarmos banho e trocarmos de roupa e, logo em seguida, havíamos voltado para a mansão da fraternidade dos ômega chi delta, onde acompanhamos todo o processo de Tori e Chace para "despejar" as pessoas ( que não eram poucas) que ainda estavam por ali. Esperamos por, mais ou menos, uma hora e meia, todas as coisas serem resolvidas e Tori arrumar-se para irmos ao lago, atrás da mansão, onde haveria o almoço pós festa, que era tradição da fraternidade. O almoço, no geral, havia sido legal e, não fosse pelo meu cansaço extremo, eu teria me divertido como nunca.

Assim, depois de todas as festas concluídas, eu, Normani e Dinah estávamos no carro, rumo ao dormitório dos freshman, encarando a chuva descomunal que caía, que resultava em um trânsito estranhamente intenso que não acontecia na cidade em situações normais.

O cansaço físico era tão grande, que cansou também a minha mente e assim, fraca e sem barreiras, permiti que o meu assunto proibido invadisse os meus pensamentos outra vez. Cansada de tentar omitir de mim mesma o que a minha mente passara o dia anterior inteiro tentando falar, permiti que os pensamentos corressem soltos por minha mente. E a sensação foi a mesma de ter aberto as compotas da barragem de um rio, permitindo que toda a água presa se libertasse e assim, com fúria incontrolável, inundasse tudo à sua frente.

E assim eu estava, inundada pelos pensamentos furiosamente incontroláveis sobre Camila.

"Por que ela havia me tratado daquela forma na sala de aula?", pensei, vendo as gotas de chuva escorrendo desordenadamente pelo vidro de trás do banco do carro, enquanto Dinah e Normani conversavam descontraidamente qualquer coisa que eu não dava atenção alguma. "Por que me tratou com tanta frieza? Por que me olhou com tanto desprezo?", eu pensei e tentei trancar as respostas que vieram, mas elas eram mais fortes. "Ela não gosta de você", a frase veio com força, como se chutasse a minha garganta. "Ela ficou com raiva porque você não quis fazer sexo com ela", apertei a testa contra o vidro gelado do carro e apertei os olhos. "Você não significa nada para ela", conclui, finalmente, e apertei os braços em volta do meu próprio corpo, sentindo o frio incomodar-me exageradamente. O que eu não sabia era se o frio vinha de fora ou se vinha de dentro.

Dinah parou o Ford Scape na frente do edifício do dormitório e nós três corremos para dentro, sem escapar do banho de chuva que nos deixou completamente molhadas, no caminho.

- Laur, eu vou com Dinah até o quarto dela, pegar algumas coisas, hoje ela vai dormir com a gente. – Normani disse, torcendo o cabelo com as mãos, depois que atravessamos a porta e estávamos seguras dentro do edifício. – Eu sei que você tá muito cansada e não vai querer ir, certo?

WonderfallOnde as histórias ganham vida. Descobre agora