09. Pomo de Adão

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Eduardo chegava em frente ao prédio antigo de tijolos à vista por volta das dez da noite. Estava garoando quando o Mustang parou do outro lado da rua, enquanto Felipe desligava o motor e observava a perna de Edu balançar, inquieta.

— Vai dar tudo certo. — Felipe falou, confiante, na esperança que Edu internalizasse aquilo.
— Eu espero que sim. — Edu respondeu, mais para si mesmo do que para Felipe, enquanto olhou ao redor, na rua repleta de bares com toldos e pessoas boêmias e corajosas o suficiente para enfrentar os primeiros indícios da chegada do outono.
— Tem certeza que não quer que eu fique com você?
— Não precisa, Lipe. Você tem o compromisso com seus amigos e eu não quero que você desmarque por minha causa. Além do mais, acho que te ver lá me deixaria mais nervoso.
— Bom, se você mudar de ideia, eu venho mais cedo. De qualquer forma, assim que acabarmos lá, eu venho te buscar. Posso ficar um pouquinho só pra te ver em ação?

Edu semicerrou os olhos, mas Felipe fazendo beicinho era a maior das injustiças. Vencido, desarmou a cara e sorriu, dizendo:

— Tá bom.

Felipe sorriu de volta, o tanto quanto sua boca permitia, e as rugas que formaram em volta de seus olhos faziam com que eles também sorrissem.

— Espero que eles gostem de mim. — Edu confessou, depois de revirar aquelas palavras por um certo tempo ao longo do dia.
— Eu não tenho dúvidas de que você vai tirar de letra. Essa vaga é sua. — Felipe prometeu, pegando a mão de Edu para plantar um beijo. Sentir o toque de Felipe era inebriante e talvez ele jamais fosse se acostumar com aquilo.

— Bom, eu vou nessa, então. Me deseja sorte.
— Toda a sorte do mundo.

Edu se curvou para beijar Felipe e, um segundo depois, estava saindo para a noite consideravelmente mais fria do que todas as anteriores desde que haviam chegado em Porto Alegre. O brilho no asfalto por conta da chuva e as poças refletiam o letreiro neon em vermelho, onde dizia "The Red Beetle".

Edu virou para trás e viu que Felipe ainda estava lá, o vidro abaixado, observando-o entrar, como um anjo da guarda. Edu fez um sinal de dedos cruzados e Felipe imitou. Edu, por fim, respirou fundo e entrou no pub.

Após cruzar o pequeno corredor que servia de hall, Edu subiu as escadas que davam para a recepção do primeiro andar e percebeu o ambiente relativamente pequeno, mas aconchegante, que parecia abraçar-lhe e transportar-lhe em uma viagem do tempo. No pequeno palco, ao fundo do salão, uma moça de pele preta e cabelos volumosos se movia de maneira envolvente, em um vestido de paetês vermelho, cor que combinava com o batom em seus lábios, enquanto sua voz potente entoava Ella Fitzgerald para uma plateia relativamente grande. Seus olhos, escuros e confiantes, faziam contato direto com Marina, que lhe admirava próxima do bar, enquanto You Do Something To Me se tornava uma declaração de amor e uma homenagem ao blues, tudo ao mesmo tempo. Por um instante, a pele de Edu se arrepiou, simplesmente por estar ali. Percebeu que havia um homem ruivo acompanhando Ella no piano, e ao julgar pelas semelhanças com Marina, deveria ser Bernardo.

Marina, que notou a presença de seu novo amigo e provável futuro colega de trabalho, acenou com uma animação fora do comum, indicando para que ele fosse em sua direção.

— E aí, caipira. O que achou do ambiente?
— Eu tô simplesmente encantado. Onde eu assino pra começar hoje?

Marina sorriu, feliz com a euforia de Edu.

— Primeiro você vai ter que convencer a Rossana. Não que isso seja tarefa difícil, pois ela tem um coração mais mole que manteiga fora da geladeira. Inclusive, ela está esperando você lá em cima. Vem que eu te mostro. — Marina disse, claramente torcendo para que Edu terminasse a noite com um avental e uma bandeja em mãos.

Os Garotos do Apartamento 13Where stories live. Discover now