Prólogo: Encontro

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— Foram dois livros. A Última Caçada e A Flor do Oriente.

Atônito, ele suspirou. Sua irmã fora sempre assim, louca por leitura. E isso era bom, pois ela lia de tudo, desde livros de fantasia até livros técnicos ou educativos. Por causa disso, sabia de quase tudo. Suas notas eram altíssimas, a maioria resumia-se a gabaritos. E os que não eram, tinham certa explicação. Como por exemplo, as notas de educação física. Apesar de seu irmão não ler tanto e não ser tão inteligente quanto ela, os dois compartilhavam do mesmo sentimento de repulsa pela prática esportiva. Mesmo assim, não deixavam de manter o corpo e a alimentação de maneiras saudável. Afinal, para eles de nada adianta uma mente astuta em um corpo indisposto. Os dois eram magros e cuidavam da estética visual para parecerem minimamente apresentáveis no trabalho.

A irmã era naturalmente bela, com seus longos cabelos loiros e pele bem cuidada e lisinha. Já o irmão utilizava de roupas formais, pois seu visual não passava impressão alguma. Até poderia conseguir passar a sensação de ser nerd ou até mesmo de simplesmente ser recluso, mas nem isso conseguia. Era... da forma mais literal possível, comum. E justamente por ser comum demais, não tinha nada que chamasse a atenção. Seus ombros largos, nenhum músculo treinado e pele ligeiramente oleosa nada diziam às outras pessoas que não o conheciam. Mas assim como os livros, ele acreditava que não se deveria julgar o conteúdo pela capa. Logo, aquela aparência tão comum poderia logo tornar-se incomum depois das pessoas conhecerem-no melhor. Pelo menos, assim acreditava.

— Você não tem jeito mesmo, né? — Ele dizia à irmã enquanto ainda bufava de cansaço. — Vamos logo arrumar esses livros, estou necessitando desesperadamente de um banho.

— Certo. Eu dito a numeração das prateleiras em que devemos colocá-los e você posiciona eles.

— ...

— O que foi? — Ela dizia olhando para o rosto decepcionado do irmão.

— Por que é sempre assim?

— É o destino, irmão. O destino. — Brincava, com um curto riso que fazia Terry sentir-se revigorado.

Destino. Essa era uma palavra engraçada. Tudo até aquele breve momento de descontração entre irmãos parece algo trazido pelo destino. Se no mundo tudo acontece por um motivo e não há coincidências, então é muita sorte alguém como Rin ter toda uma biblioteca à sua disposição para alimentar seu vício, assim como é uma sorte imensa a de Terry ter uma irmã tão inteligente e adorável como ela. Os dois completavam-se como Yin e Yang, e o que lhes faltava era logo acobertado pela biblioteca. Algo que, desde criança, possuíam livre acesso. E hoje em dia, é o que dá dinheiro e permite-os sustentar o apartamento em que vivem. Como não se interessam por nada em comum além de livros, o custo para entretenimento é praticamente nulo.

A Biblioteca Tesouros de Bem é a mais cobiçada e querida livraria da cidade. E talvez, até mesmo do país em que vivem. E isso para alguém que mora em um local como o Canadá é um feito e tanto. O governo era intimamente ligado à biblioteca e sempre dava uma boa quantidade de dinheiro para adquirirem bons livros. Tanto é que seu acervo não pode ser contado tão facilmente. E mais do que isso, os dois partiram em uma jornada em busca de livros raros, algo que aumentou ainda mais o valor daquela biblioteca. Títulos esgotados, proibidos, edições de poucas tiragens... aquela era quase a capital literária do mundo. Seria se não fossem duas bibliotecas que dizem ser maiores, coisa que Terry, especificamente, discordava. Sua teimosia e orgulho não o deixavam aceitar a realidade. E talvez, fosse melhor assim.

— Pronto. Arrumado. — Dizia Terry, colocando o último livro adquirido no lugar.

— Agora eu vou resumir a leitura de "O Grande Homem", de Marcus Feitiz.

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