Sia - Chandelier

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Vida. É para isso que todos vimos ao mundo, para viver a vida.

Há uns que a sabem aproveitar da melhor maneira, outras que gostam de passar a vida a seguir regras, outros que nem sequer a vivem como deve de ser, outros que não sabem o que têm e põem termo à vida, outros que vêm ao mundo, apenas para testemunhar a dor, a perda, a tragédia.

Os meus olhos passavam pelo ecrã do computador, lendo tudo o que a internet dizia sobre o tema "sobrenatural". Até havia uma série televisiva com este título e tudo. Nada respondia às milhares de questões que flutuavam na minha mente, neste momento.

Haverá criaturas sobrenaturais vivendo em forma humana?

Haverá caçadores do sobrenatural?

Haverá demónios? E fantasmas?

Haverá alguém como eu? Com o ADN alterado?

Uma batida na porta faz-me baixar a tampa do meu computador e quando olho para a frente, vejo água a correr pelo símbolo da maçã, rapidamente retiro as minhas mãos no pc e limpo-as às calças.

- Shayenne, posso? – A voz de Megan ouve-se do outro lado. Respiro fundo, deixando as minhas mãos molharem as minhas calças de ganga.

- Entra, Meg. – Digo. A grávida abre a porta e sorri-me, fechando-a atrás de si. A sua barriga carrega a vida que estás prestes a sair, está maior que nunca e suspeito que o bebé seja grande. Com alguma dificuldade, Megan senta-se na minha cama, imediatamente achando uma posição confortável, colocando as suas mãos na sua grande barriga.

- Vai sair em duplicado. – Fala, quando sou apanhada a olhar para a sua grande barriga. Abano a cabeça, piscando os olhos por várias vezes, antes de olhar para o imenso castanho esverdeado da sua iris.

- Hm?

- São gémeos. – Ela massaja a barriga. Abrindo os olhos e limpando a garganta, desvio o olhar para o chão.

- Rapazes?

- Sim. O Theo e o Tim. – Olho novamente para ela, vendo que sorri com felicidade e amor às suas crianças.

- Parabéns. – Digo.

- Não foi para isso que vim aqui. – Ela mete uma cara mais séria, fazendo-me remexer na cadeira desconfortavelmente. – O Charlie contou-me o que se passou ontem. A Jess está preocupada contigo.

- O que aconteceu ontem não se vai repetir. – Disse, engolindo em seco. A incerteza das minhas palavras a descerem pela minha garganta, como ácido. A minha mão direita está apoiada na cadeira, enquanto passo a esquerda nervosamente pelo cabelo vermelho escuro comprido.

- Não podes garantir isso. – Olhou-me séria. Fecho os olhos, mordendo o lábio inferior. O meu interior é um monte de borboletas rebeldes e as lágrimas querem-me saltar pelos olhos, como se tivessem pressa de sair.

- Eu posso. – Levantei-me. – Eu vou conseguir!

- O Charlie quer-nos na sala todos juntos daqui a cinco minutos. – Ela levanta-se, mantendo as mãos na grande barriga e sai do quarto.

Levanto a minha mão e olho para a fechadura, vendo-a a congelar, devido à minha concentração. Suspiro e volto a sentar-me na cadeira em frente ao computador. Só tenho mais cinco minutos até o Charlie me dar na cabeça pela minha fraca capacidade de conter o meu ADN. De facto, começo a pensar que o que tenho dentro de mim são poderes, coisa anormais, paranormais. Eu não posso ter tomado este rumo só pelo facto de ter o meu ADN modificado.

Outra batida soa na porta e rapidamente me levanto, o gelo que impedia as pessoas de abrir a porta derrete, deixando a água no chão e rapidamente caminho, deixando o quarto. Charlie está do outro lado, a olhar-me.

- Que se passa? – Ele pergunta.

- Uh... Nada. – Respondo, limpando as mãos discretamente nas calças.

- Vamos. – Ele indica com a cabeça e sigo-o. Sinto as pernas a tremer e tenho que estar constantemente a limpar as mãos às calças. Quando chegamos à sala, já toda a gente está à espera, sentados no sofá. Cruzo nos braços e sento-me na poltrona. – Ok. – Ele respira. Levantei o braço. – Diz.

- Para minha defesa, eu não sabia que a poça estava lá. – Comecei e Charlie revirou os olhos.

- Como eu ia para dizer... Todos nesta sala sabemos o que se passa. Hoje estive a pesquisar. Há um homem que estuda situações paranormais aqui, em Londres. Eu falei com ele e... Ele deve de estar a chegar. – A minha boca abriu-se e levantei-me.

- Charlie! – Quase gritei. – Tanto tempo a esconder isto para agora contares isto a um homem que estuda situações paranormais?

- Eu confio nele, Shay. Tu podes dar-lhe uma oportunidade. – Ele respondeu, tentando acalmar os nervos que estavam mesmo à flor da pele.

- Pois eu não confio em ninguém! E sabem que mais? Conclui que nem na minha família eu posso confiar! – Atiro, desesperada, só de pensar no que me poderiam fazer.

Eu não consigo controlar o que tenho no meu ADN e não sei até que ponto isto me pode levar. Voltei a sentar-me no cadeirão cruzando os braços e as pernas. Charlie olhava-me com insegurança a transparecer-lhe pelos olhos, ele sabia que estava chateada com toda a situação. Ele sabia que nunca devia de ter feito isto e que eu nunca iria aceitar, mas pelo outro lado, eles são meus pais e cuidaram de mim estes anos todos, quando nunca ninguém o quis fazer. Seja qual for a situação, apenas tenho que fazer transparecer que sou forte e consigo lidar com isto.

A campainha soa e olho para o relógio no meu pulso. São agora oito e meia e ainda nem jantámos. Mesmo que se quisesse jantar, não conseguia, estou com o estômago às voltas e os nervos à flor da pele. Charlie move-se pela sala, indo até ao hall de entrada e abrindo a porta ao estranho que me iria ajudar. Olho para Jess, que tem o olhar preso na lareira da sala, já acesa devido ao frio de Setembro. Parece estar em profundo pensamento. Megan, Calib, Malia e Daisy estão de mãos dadas, também nervosas com a situação.

Não vou negar que neste momento não sou um perigo para esta família, porque sou. A Megan está grávida e, com o descontrolo que tenho sobre o meu corpo neste momento, não sei o que poderá vir a seguir. Acho que só o tempo o pode dizer e mesmo assim... Nunca podemos confiar.

- Boa noite. – Uma voz soa da entrada da sala.

As nossas cabeças viram-se e quase me espanto quando não vejo um velho, com ar de psicopata e grandes barbas, à espera de me cortar a cara, ou os pés, ou as mãos, para poder fazer testes ao meu sangue. O meu cérebro apenas me pregou uma partida.

O seu cabelo é castanho, penteado em várias direções, rebelde. Os seus olhos são azuis vivos, brilhando com expectativa de quem poderia ser a rapariga que iria ajudar, o seu nariz é fino, perfeito e os seus lábios coincidem com o resto todo: finos, perfeitos.

Ele não é muito alto, mas posso ser que faz musculação, só pela forma como sinto os seus músculos a contraírem-se, quando ele agarra no seu pulso esquerdo com a sua mão direita e nos olha, esperando que Charlie denuncia-se quem iria ser a sua "vítima", durante tempo indefinido.

- Louis, sê bem-vindo. Esta é a nossa numerosa família. – Charlie aponta para nós. – A minha mulher, Megan, e os meus filhos: Malia, Daisy, Calib, Jessica e Shayenne. – Os olhos do moreno aterram em mim e não consigo não me sentir nervosa, quando os seus olhos ganham mais brilho e um dos lados dos seus lábios se curva para cima, num sorriso maldoso.

- Boa noite. – O rapaz, Louis, disse, desta vez, esfregando as mãos, uma na outra. – O meu nome é Louis William Tomlinson. – Os seus olhos encontram os meus, fazendo um arrepio percorrer-me. Não sei se foi medo, frustração ou desafio. – E sou eu, quem vai ajudar a Shayenne, neste capítulo tão difícil da sua vida. – Engulo em seco, enterrando-me mais no cadeirão. Porque é que aquilo me soa tão a sarcasmo? 


The Twins // h.s.Where stories live. Discover now