O SEGREDO DA NOITE

TRÊS: QUANDO O PERIGO MORA AO LADO.

Olho para a área externa, vendo o jipe vermelho de Liam adentrar ao meu campo de visão e em questões de segundos ser estacionado pelas mãos hábeis de meu primo ao outro lado da rua, em frente à entrada da casa de Claire - vulgo minha vizinha''barra'' melhor amiga. Liam aciona a buzina determinado mais algumas vezes e sei que é exatamente direcionado para sua namorada, que possui uma certa mania de atraso.

Meu primo muda seu foco de atenção até nós, acenando com um gesto de mão breve e fazendo eu perceber que não era direcionado a minha pessoa e sim a Harry, que retribui o mesmo gesto, evidenciando que ambos já se conhecem e que talvez possam nutrir uma certa amizade entre eles também. 

Volto rapidamente até o escritório na intenção de pegar minha bolsa com meus pertences. Caminho em direção à saída, notando que Harry está concentrado novamente em seus afazeres com o carro.

─ Harry, caso meu pai pergunte, você pode avisá-lo que sai com o Liam?      

O moreno desvia sua atenção voltando-a a mim, e seus olhos analisam-me e mesmo sem dizer nenhuma palavra é perceptível o que Harry deseja ressignificar "Não sou sua garota de recados e nem caixa de mensagem!"

─ Deixa pra lá. ─ Respiro fundo, contando mentalmente até o número três. Afinal o que custaria a ele repassar o recado. Saio andando, mas não deixo de ressaltar minhas últimas palavras. ─ Valeu pela ajuda! ─ A ironia e o deboche sobressaem em meu tom de voz, e eu não direciono nem por um segundo meu olhar até Harry, pelo contrário, continuo andando até o jipe chamativo de meu primo.

Liam por sua vez, está totalmente alheio ao som da música latina que toca no rádio do automóvel. Alguns gestos dançantes são feitos por ele, que não são nem um pouco visualmente bonitos por assim dizer. Sem delongas adentro ao veículo, no banco traseiro, enquanto ainda aguardamos pela presença de Claire.

─ Vamos pa' la playa? ─ Meu primo tenta a sua melhor versão na língua espanhola, com um 'Vamos para a praia?' . Mas o seu bilíngue é um fracasso eminente. ─ Pelo visto você já conheceu o Harry, seu pai gosta bastante dele. ─ Liam muda repentinamente de conversa o que surpreende-me, enquanto ele encara a faixada da mecânica do outro lado da rua.

─ Ele parece ser uma pessoa tranquila. ─ Digo, sabendo que ainda não confio plenamente nessa pontual afirmação feita por mim.

─ É, mas a Claire não ia concordar com você.

─ O que você está dizendo que eu não concordo Liam James? ─ A voz mandona e persuasiva de Claire surge, enquanto ela adentra ao carro, acomodando-se no banco do passageiro.

─ Mia disse que acha o Harry gente boa, e eu disse que você não concordaria com isso.

─ Aí, não é bem assim! ─ Claire protesta, ajeitando os óculos escuros ao rosto, enquanto vira para trás em minha direção e em suspense ela sussurra, como se ninguém pudesse saber os seus motivos. ─ Ele é estranho.

─ Por que? ─  Questiono, e vejo de relance pelo retrovisor central do carro o olhar pitoresco de Liam, que revela o quanto ele acha a opinião de Claire cômica, sem a necessidade de ser levada a sério.

─ Ele não é de muita conversa, está sempre com aquela cara fechada. E eu já vi diversas vezes durante a madrugada as luzes do interior da edícula acessas. ─ Claire opina, e diferente de meu primo, ela usa suas palavras com seriedade, por meio de sua fonte de informações, a janela de seu quarto que dá a visão ampla e perfeita dos fundos da minha casa.

─ Já pensou que ele pode ter insônia? Pessoas sofrem de insônia! ─ Liam é irônico, fazendo com que sua namorada role os olhos em desaprovação.