♥ ELENA ♥

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 Por que eu fui me apaixonar por ele? Por quê?

Passo a noite chorando e repetindo a pergunta na minha cabeça. Mas acho que não há resposta para isso, somente o fato de que eu sou uma idiota que vê apenas o que quer. Porque apesar de tudo o que já passei, continuo sendo aquela garotinha que ainda acredita em príncipe encantado.

Já passa das duas da manhã quando adormeço, exausta, e sonho com ele. E é tão real e tão palpável, que sinto como se tudo estivesse realmente acontecendo. E no meu sonho, ele não foge. No meu sonho, ele me toma nos braços e me beija. No meu sonho ele também está apaixonado por mim.

Desperto com lágrimas escorrendo por meu rosto no mesmo instante em que batidas à porta chamam a minha atenção. Eu sei que é ele, mas ainda não quero vê-lo.

— Elena? — ele bate com um pouquinho mais de força. Olho pela janela e percebo que ainda não amanheceu. Penso seriamente em não abrir a porta, deixá-lo esperando até que ele desista, mas meu coração não quer isso. E ele também não porque parece que não vai desistir. — Elena? — chama mais uma vez e eu me levanto.

Somente quando abro a porta percebo que ainda estou usando o vestido da noite anterior. Devo estar toda borrada também. Daniel sorri para mim e é um dos sorrisos mais tristes que eu já vi. Um sorriso amargo que deixa seus olhos cobertos por sombras escuras.

— Eu quero te mostrar uma coisa. — inspiro profundamente e me preparo para dizer que não vou a lugar algum com ele, mas ele me interrompe com a voz suplicante. — Por favor?

Relutante, faço que sim e peço para que ele espere um pouco. Fecho a porta, tiro o vestido e coloco um jeans confortável e meu tênis marrom. Sei que está quente lá fora, mas visto uma camisa leve de manga comprida. Lavo meu rosto, que está assustador, escovo meus dentes e prendo meu cabelo do jeito que dá.

Quando deixo o quarto, encontro Daniel sentado com as costas apoiadas na parede. Ele está arrasado.

— Aonde nós vamos? — pergunto colocando meu cartão no bolso de trás da calça. Ele fica em pé e coloca as mãos nos bolsos.

— Eu preciso te mostrar uma coisa.

Ele não disse 'eu quero'. Ele disse 'eu preciso'. E pela maneira como ele me encara sei que isso está sendo muito mais difícil para ele do que eu posso imaginar. Também sei que ele está tentando, apesar de não saber fazer isso direito sei que ele quer, de alguma maneira, me fazer enxergar tudo o que ele está tentando esconder.

Fizemos uma caminhada de cerca de trinta minutos até o Monte Stella. Sei que esse é o nome do parque porque vi uma placa e não porque Daniel falou comigo. Ele não disse uma palavra desde que deixamos o hotel. Quando encontramos um banco ele sai da trilha e se senta. Faço o mesmo, mantendo uma distância ampla e segura. Quanto mais longe eu ficar dele, melhor para mim e para o meu coração.

O céu está começando a mudar de cor. O sol parece tímido ao despontar no horizonte, mas aos poucos, vai ganhando espaço entre as nuvens levemente acinzentadas. Aos poucos, a escuridão vira luz e a sombra que parecia estar prestes a levar o brilho do azul dos olhos de Daniel, desaparece. Aos poucos ele se aproxima de mim e pega a minha mão.

Minha respiração falha quando ele leva a minha mão até a boca e a beija demoradamente.

― Eu gosto de ver o sol nascer ― diz, olhando para frente. — Eu saio para correr todas as manhãs quando ainda está escuro e me sento em algum lugar para observar o sol nascer. ― então ele me olha e tenho a impressão de que seus olhos estão marejados. Aperto a sua mão e ele sorri, um sorriso fraco que não chega aos seus olhos e, quando volta a falar, sua voz está mais baixa. — É o melhor momento do dia para mim. ― sua voz falha um pouco, mas ele logo se recompõe. ― É como se a cada dia eu tivesse uma nova chance de fazer tudo diferente, melhor.

― Daniel... ― ele me interrompe.

— Eu estou tentando, Elena.

— Fale comigo.

Ele olha para mim frustrado. Suas olheiras estão escuras e profundas.

— Eu quero te contar tudo, eu preciso te contar tudo. Só... — ele aperta a base do nariz com força. E quando volta a me olhar, parece ainda mais cansado. — Eu não consigo fazer isso agora.

Engulo em seco enquanto minha cabeça começa a trabalhar sem parar. Milhares de teorias começam a se formar na minha mente. Milhares. E em todas elas, quem acaba saindo machucada, sou eu. Mas mesmo assim, não sou capaz de me afastar. Porque mesmo que eu saiba que isso é o certo, mesmo que eu tenha certeza de que preciso ir embora, meu coração não quer isso. Meu corpo não quer isso.

Deito minha cabeça em seu ombro e ele parece aliviado quando beija meus cabelos e aperta a minha mão com mais força. Quando o dia já está claro, levantamos e, em silêncio, caminhamos de volta para o hotel. Durante o trajeto, ele não me toca mais. E está completamente distante e diferente do Daniel que estava sentado comigo naquele parque trinta minutos atrás. — Eu vou tomar um banho e depois nós podemos sair ou fazer o que você...

— Por que você não me beijou? 



♥ POR TRÁS DAQUELES OLHOS - Degustação ♥Onde as histórias ganham vida. Descobre agora