♥ DANIEL ♥

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— Onde você estava? — assim que piso no último degrau da escada, ouço a sua voz. Elena está parada na porta em frente ao meu quarto e mantém as duas mãos na cintura. — Eu acordei praticamente de madrugada, sabia?

Escondo a pequena caixa preta de veludo no bolso da minha calça de moletom e me aproximo.

— Eu sempre tenho que bater à porta do seu quarto e te esperar porque você está sempre atrasada. — ela aperta os olhos, mas o canto direito da sua boca começa a se curvar para cima.

— Eu estou morrendo de fome. — aperto a boca para não rir, mas, acima de tudo, faço isso para não beijá-la porque nesse momento, ela está fazendo beicinho. E meu corpo inteiro está despertando.

— Eu vou tomar uma ducha bem rápida e já te encontro lá embaixo.

— Bem rápido.

Entro no quarto, guardo a pequena caixa no fundo da minha mochila, tiro minha roupa de corrida e me enfio sob a água gelada. Mas nada é capaz de aplacar o desejo que estou sentindo por ela nesse momento.

♥♥♥

Logo depois do almoço, Elena resolve que quer ir embora. Tento argumentar e dizer que ainda há uma infinidade de coisas para fazer em Florença, mas ela bate o pé. Diz que gosta de fazer apenas o que tem vontade e acabo concordando com ela porque eu também sou assim. Paramos em uma pequena cidade para caçar trufas e jantamos em Pisa. Mas o nosso destino é Siena.

— Meu Deus!

— O que foi? — pergunto quando ela estaca no meio da rua.

— Você disse que alugou um quarto nesse hotel?

— Dois quartos.

— Nesse hotel? — pergunta outra vez, apontando para o antigo prédio de tijolos à nossa frente.

— Você não gostou? — passo a mão pelos cabelos sem saber por que estou tão ansioso.

— É claro que eu gostei! — ela ri e empurra a velha porta de madeira. Eu a sigo. — É que você é tão cheio de frescuras quando o assunto é hotel.

— Talvez eu tenha mudado de ideia. Ou talvez tenha feito uma grande besteira — digo assim que dou uma olhada geral na recepção.

— Você quer ir embora? — ela se inclina na minha direção e murmura para que o recepcionista não nos ouça. E eu sei que ela está me testando.

— Não.

Estamos tão cansados nesse dia que acabamos não saindo. Depois que fizemos o check-in, ela foi para o seu quarto e não saiu mais. Eu passei a noite inteira encarando o teto e imaginando o que aconteceria se eu cedesse ao que estou sentindo. Será que eu conseguiria seguir em frente? Será que eu saberia ou conseguiria ser o tipo de homem que ela merece? Acho que não.

No dia seguinte, resolvemos conhecer os castelos da região e degustar os vinhos e os queijos. Castello Il Palagio foi nosso quarto e último castelo daquele dia. Quando estamos na estrada, de volta para Florença, Elena recosta a cabeça no banco e adormece rapidamente. Coloco a mão na sua testa e noto que pequenas gotas de suor se formam próximo à raiz de seu cabelo. E ela está pálida, muito pálida. Quando pergunto se ela está bem ou se precisa de alguma coisa, ela só murmura um sim e volta a dormir.

Tenho que ajudá-la a sair do carro e praticamente carregá-la para dentro do hotel. Ainda bem que dessa vez reservei duas suítes no Four Seasons e não preciso carregá-la até o terceiro andar por estreitas escadas de madeira. Eu sei que é horrível dizer isso, mas continuo detestando hotéis que não sejam cinco estrelas.

♥ POR TRÁS DAQUELES OLHOS - Degustação ♥Onde as histórias ganham vida. Descobre agora