♥ ELENA ♥

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— Não! Não! NÃO!

Sento na cama ainda gritando e sinto alguém tocar meu rosto. Assustada e sem saber onde estou, encolho-me e abraço meus joelhos. Começo a inspirar e expirar bem devagar, tentando me acalmar, mas isso não está me ajudando. Os tremores não passam e as lágrimas escapam de meus olhos a todo instante.

— Está tudo bem.

Somente nesse momento percebo onde estou e que é Daniel quem está ao meu lado. Percebo que ele está envolvendo meu corpo com seus braços fortes e me apertado com força contra seu peito. Agarro sua camisa e tento trazê-lo para mais perto enquanto minhas lágrimas e meus soluços levam toda a dor que ainda mora dentro de mim. Mesmo depois de tantos anos.

— Desculpe. — peço enxugando o rosto com as costas da mão e me afastando um pouco. Daniel mantém as mãos no meu pescoço e seus polegares desenham pequenos círculos no meu queixo.

― O que aconteceu?

― Eu não... — desvio os olhos quando lágrimas se empoçam neles outra vez. — Minha mãe — digo com a voz trêmula.

— O que tem a sua mãe?

— Faz tanto tempo que eu não sonho com ela que...

— Você estava gritando, Elena e parecia bastante apavorada. Isso não foi um sonho.

— Não — murmuro com a voz embargada porque não foi apenas um sonho. Nunca era apenas um sonho.

— Você quer me contar? — nego com um discreto gesto de cabeça, tão discreto que ele não percebe. — O que aconteceu com seus pais? — sua voz é tão doce e tão tranquila que, pela primeira vez, desde que tudo aconteceu, não sinto que vou morrer se falar sobre isso.

― Meu pai morreu em um acidente de carro. ― começo e ele assente. Seus olhos se movem por meu rosto, dando-me coragem para continuar. — Minha mãe se matou seis meses depois. — uma ruga profunda se forma entre suas sobrancelhas e ele solta o ar. Consigo ver no seu rosto que ele não sabe o que dizer. Ninguém nunca sabia o que dizer quando ouvia a minha história, mas não vejo pena. Vejo carinho e isso me dá coragem para continuar. — Eu estava com meu pai quando aconteceu. Eu tinha ido dormir na casa da Jess, mas acabei passando mal por causa de alguma coisa que comi e liguei para ele ir me buscar. Ele saiu correndo do jantar de gala que minha mãe o obrigou a ir. — dou uma risada triste e limpo o nariz com a manga da blusa. — Meu pai odiava esses eventos. Chovia tanto naquela noite que eu... — inspiro o ar com força quando um soluço ameaça irromper de minha garganta. — Chovia tanto e ele acabou... Meu pai perdeu o controle do carro e... — Daniel me abraça quando eu começo a chorar outra vez. — Eu não me lembro de nada. N-nada — digo contra seu peito e ele me aperta ainda mais. — Eu só me lembro do sorriso dele quando entrei no carro e dele dizendo que ia cuidar de mim.

— Quantos anos você tinha?

— Doze. — desprendo-me dos seus braços e ele segura a minha mão e eu gosto disso. Porque quando ele está assim tão perto, sinto-me mais forte. Melhor. — eu passei três dias no hospital e minha mãe não foi me ver um dia sequer. Eu entendia que ela estava triste, mas eu precisava dela, sabe? — ele aquiesce. — Quando eu voltei para casa, ela não falou comigo. Nem quando eu segurei a sua mão durante o funeral. Ela não olhou para mim em nenhum momento. Então, uma noite, eu tive o meu primeiro pesadelo com o acidente e corri para o quarto dela em busca de conforto e... Se você visse a maneira como ela me olhou, cheia de ódio. Ela disse que a culpa pela morte do meu pai era minha.

♥ POR TRÁS DAQUELES OLHOS - Degustação ♥Onde as histórias ganham vida. Descobre agora