♥ ELENA ♥

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Quando abro os olhos ainda está amanhecendo, tímidos raios de sol invadem o quarto através da fina cortina branca. Olho ao redor — mais precisamente para a cama ao lado da minha — e percebo que ela está vazia, porém desarrumada. O que quer dizer que ele dormiu aqui. Estava tão cansada ontem que acabei desmaiando depois que ele inventou aquela história absurda de pegar o computador no carro. Não vi a que horas ele voltou. Dou uma olhada geral no quarto, apenas para ter certeza de que suas coisas continuam aqui. Sorrio aliviada quando percebo que sim.

Vou até a varanda e me espreguiço demoradamente. O céu ainda mantém tons alaranjados. Resquícios do início da manhã. Corro até a minha bolsa dentro do quarto para pegar a minha câmera no mesmo instante em que a porta do quarto se abre.Daniel entra todo suado e o chão se move sob meus pés. A camiseta cinza que ele usa está colada ao seu corpo dando-me um vislumbre do seu abdômen definido. Definido demais. O quadril estreito é acentuado pela calça de moletom preta e...

― Bom dia. ― ele passa por mim e se abaixa para pegar uma garrafa de água dentro do frigobar. Meus olhos o seguem de maneira quase obsessiva e isso é ridículo pelo amor de Deus! ― Tirando fotos?

― O quê?

Aquele sorriso torto me deixa ainda mais atordoada. Ele inteiro me deixa atordoada.Respire, Elena! Apenas respire!

― O dia está muito bonito hoje, pensei em fazermos um passeio de barco. ― ele levanta a barra da camisa e enxuga o rosto suado com ela. Meus olhos se perdem naquele 'V'. — O que você acha?

— Acho do quê?

— Você está bem?

— Claro, eu só... Eu... — agito uma mão no ar e saio para a varanda. Somente quando chego lá, percebo que não estou respirando. Daniel vem atrás de mim e se posta ao meu lado. Seu braço suado roça de leve no meu e uma borboleta bate as asas dentro da minha barriga. E depois outra e mais outra.

― Eu acho que nós poderíamos ir embora amanhã, passar em Verona outra vez e depois Florença. Você vai gostar de ver a plantação de girassol em Siena e caçar trufas pela região. ― faço que sim com a cabeça e dou um passo para o lado. — Você tem certeza de que está bem

Não consigo encará-lo. Tenho certeza de que meu rosto está mais vermelho do que um tomate. Seguro a minha câmera com força, para que ele não note que minhas mãos estão tremendo e finjo fotografar a paisagem — mesmo que eu não esteja enxergando nada.

― Impressão sua.

Ainda sinto seus olhos em mim.

— Tem mais uma coisa que eu queria te perguntar.

— O quê? — acho que acabo de fotografar um pássaro.

— Depois de Milão você já...? — ele limpa a garganta e isso chama a minha atenção porque sua voz não parece tão confiante. Parece ansiosa. Abaixo a câmera e me viro para fitá-lo melhor. Só preciso manter o foco no seu rosto. — Você já sabe para onde vai depois de Milão?

Dou de ombros.

— Não sei. Talvez Paris.

Ele assente, olha para além dos meus ombros e volta a me encarar. E dessa vez, seus olhos estão ainda mais intensos e brilhantes.

— Eu queria que você fosse para São Francisco comigo.

— São Francisco? — ele assente. Uma mecha do meu cabelo cai na frente dos meus olhos e ele não hesita em colocá-la atrás da minha orelha. Acho que não sei mais como respirar.

♥ POR TRÁS DAQUELES OLHOS - Degustação ♥Onde as histórias ganham vida. Descobre agora