Eu ri e mordi sua cintura com carinho.

- Não há nada de estranho comigo, só estou mais cansada que o normal. - falei, usando a justificativa mais óbvia para encerrar o assunto. - Vamos falar de você. Como foi na escola?

- Ah, foi normal, você sabe, as mesmas pessoas, as mesmas aulas, o mesmo tudo. Não aguento mais o ensino médio. Não sei como você gostava de ir pra escola. - minha irmã falou, levantando ligeiramente a cabeça para desprender o rabo de cavalo em seu cabelo.

- Eu gostava de estudar, é diferente. A escola era indiferente pra mim. - respondi, concentrando-me em esticar os pés para me livrar da cãibra por ter ficado muito tempo na mesma posição.

- Ah é, às vezes esqueço que você é um gênio. - Sofia falou em um tom brincalhão.

- Genialidade é uma questão de ponto de vista, Sofi.

- Você tenta ser modesta, mas as coisas que você faz não deixam, Camila. Aceite, você é um gênio. - ela decretou.

Minha irmã tinha todo o jeito da minha mãe. Em tudo o que falava, em tudo o que fazia, Sofia me lembrava nossa mãe. Sempre mandona, sempre cheia de razão. Ter só quinze anos não a impedia de se posicionar diante do mundo e das coisas que queria e nas quais acreditava.

- Tudo bem, tudo bem. - concordei, apenas para encerrar uma discussão que, por mais "gênio" que eu fosse, nunca ganharia, porque a satisfação de Sofia era sempre mais importante do que qualquer coisa para mim.

- Quer comer? Eu estou azul de fome! - minha irmã perguntou, mas já estava me empurrando de cima de si e levantando da cama.

- Eu já comi, Sofi, não estou com fome. - falei, quase me deitando novamente, mas ela me segurou pelo braço, fazendo-me ficar sentada na cama.

- Quando eu perguntei se estava com fome, na verdade estava querendo dizer "vamos pra cozinha comigo, eu não quero ficar sozinha". - ela disse, escancarando um sorriso mais do que convencido no rosto.

Sorri para ela e sua juventude e concordei com um aceno de cabeça.

- Tudo bem, vamos lá.

Eu mal havia acabado de falar e Sofia estava me puxando quarto a fora, segurando-me pela mão.

Sofia e eu éramos tão unidas quanto qualquer pai e mãe gostaria que seus filhos fossem. Ela havia nascido quando eu tinha doze anos e desde o momento em que meus olhos se encontraram com os dela, no exato instante em que meu pai abriu a porta do quarto da maternidade, ela se tornou o meu mundo. Meus sentimentos por ela eram tão intensos e genuínos que com toda facilidade do mundo eu daria a minha vida por ela.

Quando eu tinha quinze anos e estava fazendo os testes para admissão em Harvard, perdemos nosso pai em uma tragédia que Sofia jamais tivera conhecimento e desde então, embora nossa mãe ainda estivesse presente e tentando ser forte em nossas vidas, eu assumira, ainda que internamente, toda a responsabilidade sobre minha irmã.

Sofia nunca soubera a realidade sobre a perda de nosso pai, pensava que ele havia sofrido um acidente de carro, mas a verdade era que...

- Você tem certeza que não quer comer? Eu vou preparar macarrão ao molho de queijos. - Sofia disse, largando a minha mão assim que entramos na cozinha.

- Que golpe baixo o seu, Sofia Cabello! - Falei, indignada. - Você sabe que venero massas demais para me dar ao luxo de não comer.

- Você venera COMIDA demais para se dar ao luxo de não comer qualquer coisa, maninha. - ela falou com um sorriso irônico nos lábios.

WonderfallWhere stories live. Discover now