PRÓLOGO

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Carolina do Norte, Abril de 2014

ELENA

No momento em que as portas se abrem e a música — que eu não me lembro de ter escolhido — começa a tocar, sei que a minha vida mudará para sempre. A partir de agora devo abrir mão de todos os meus sonhos, de tudo o que acredito ser importante e passar a viver os sonhos de outra pessoa. Os sonhos de Adam.

Não tem que ser assim!

Penso enquanto dezenas de olhares curiosos me encaram.

Você ainda pode fugir, Elena!

Ainda há tempo!

Uma voz grita dentro da minha cabeça há dias, mas hoje, ela está particularmente insistente.

Merda!

Adam está com as mãos cruzadas na frente do corpo, olhando-me ansioso. Um lindo sorriso surge em seus lábios assim que me vê e me sinto tentada a sorrir de volta. Mas meus lábios não se movem. Minhas pernas travam e tenho quase certeza de que meu coração vai sair pela boca.

Eu não acredito que vou fazer isso!

Respiro fundo e dou de ombros tentando me desculpar. Ele percebe o que estou prestes a fazer. Sei disso porque seu sorriso desaparece e uma expressão de pânico toma conta de seu rosto quando ele leva a mão direita à nuca. Murmuro um 'sinto muito', levanto a barra do meu vestido, dou meia volta e corro.

Corro, atravessando a pequena praça onde fica a igreja restaurada há apenas um mês. Deixo meus sapatos para trás e avanço pelas ruas sem saber para onde estou indo. Continuo correndo até não ouvir mais nada. Lágrimas quentes escorrem pelo meu rosto e eu não sei se são de tristeza ou alívio.

Corro até a enorme casa branca de janelas azuis e atravesso o gramado onde passei a maior parte da minha infância. O mar está calmo e sem ondas. É um lindo fim de tarde, o céu está pintado de laranja e um pôr do sol incrível acontece nesse momento. 'Um dia perfeito para se casar', penso, enquanto entro em casa ainda sem acreditar na loucura que acabei de fazer.

Deus do céu! O que foi que eu fiz?

A porta da frente se abre em um rompante e quase tenho um ataque do coração.

― Você podia ter tido a delicadeza de me avisar o que pretendia fazer! ― Minha avó fala enquanto avança pela sala de estar. Sua voz está calma e baixa. A minha está tão estridente que nem eu sou capaz de reconhecê-la.

― Eu não sei o que aconteceu!

― Essa cidade vai falar disso por muito tempo.

― A senhora está brava comigo?

― Brava? ― pergunta enquanto vai até o bar e se serve de uma generosa dose de uísque e a bebe em um único gole ― É claro que eu estou brava. Você sabe como eu odeio salões de beleza e eu passei a tarde toda lá por causa de um casamento que não aconteceu.

Ela não está brava.

Minha avó prefere sujar as unhas de terra em seu jardim a passar horas no salão ouvindo futilidades. Com setenta anos, nunca pintou os cabelos, mas eles estão sempre bem cortados graças ao seu cabeleireiro, que deixa seu salão a cada vinte dias para cortar os cabelos dela em casa. Ela havia passado por tanta coisa, mas nunca perdeu seu espírito aventureiro e é sem dúvida a mulher mais forte, a mais carinhosa e a mais inteligente que eu já conheci.

♥ POR TRÁS DAQUELES OLHOS - Degustação ♥Onde as histórias ganham vida. Descobre agora