SOBREVIVENDO AO INFERNO

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CHAPTER 

― 3 ― 

Não consegui reagir rápido o suficiente, fui lançada escada abaixo como um saco de batatas. Respirei fundo, uma, duas, três vezes, tentando me acalmar. O medo, o pânico, o terror, estavam dominando meu corpo por inteiro. Por alguma força divina eu me mantinha lúcida, apesar de meu cérebro ora ou outra ameaçar se quebrar. Eu não estava sabendo lidar com a perda da minha liberdade, muito menos com a morte das minhas duas melhores amigas, nem o maldito mau cheiro que impregnava o chão úmido e poroso. Bem dentro de mim, tão profundamente, eu demorei a admitir que minha situação era irreversível. Todas as minhas decisões foram burras e infantis, eu ignorei a situação e brinquei com o perigo eminente, achando que por alguma razão aqueles homens pudessem ter compaixão e piedade. Em algum dado momento eu esqueci que eles eram criminosos, assassinos cruéis e de sangue frio, e agora eu me encontrava na pior situação imaginável. 

Eu não tinha forças para gritar, ou bater contra o portão de ferro, nem implorar por algum resquício de piedade. O xerife Helsing, Christian e todos neste lugar infernal já haviam me feito experimentar o gosto amargo da humilhação e do desprezo. Ninguém no mundo iria intervir ao meu auxílio. Eu estava sozinha, apavorada e presa num lugar esquecido por Deus e comandado pelo diabo. 

Talvez fosse esse o motivo de eu me entregar a morte covardemente deitando-me no chão enlameado e entre os ratos. O cheiro pútrido era forte e nauseante. Eu sentia que estava presa no inferno, um horrível calabouço, escuro, sujo, fedido. 

Meu corpo estava desistindo.

Em algum momento antes da morte sabemos o que de fato na vida valeu a pena, a família, os amigos, os amores; tentamos ter esperança mesmo que em vão, acreditando que se houvesse a mínima oportunidade de salvação aceitaria. As lembranças ardiam no meu coração, me crucificando, punindo, culpando pelo destino cruel e trágico que eu infligia as pessoas que eu amava. 

Meu único contato com o mundo exterior se dava por uma abertura acima da minha cabeça, bem próximo ao teto, quase como uma janela. Exceto, claro, pelas grossas barras de ferro puro que mantinha tudo o que estava dentro preso. A escuridão já era dominante no céu absoluto, apenas a lua cheia emitia seus raios de tom azul escuro e prata, e iluminava parcialmente os degraus apodrecidos rente aos meus pés. 

Eu estava com medo, tão apavorada. Temia meu futuro, meu destino. Não sabia a forma como eles me descartariam, mas sabia que o meu fim estava próximo. Eu podia sentir a morte me rondando, ali bem pertinho de mim. Aquela terrível sensação de estar sendo observada, com aqueles arrepios afiados subindo pela espinha e eriçando os pelos dos braços. 

Butte era uma maldita cidade para se estar sozinho. A noite era sombria, escura demais, congelante e nevoada. Um palco perfeito para filmes de terror ou imaginações férteis. A névoa entrava preguiçosamente pelas barras de ferro, descia e se espalhava como fumaça, impregnando o chão e os degraus de barro.  A visão por si já era perturbadoramente macabra e assustadora, e unida com os últimos eventos ocorrentes, produzia um cenário tão apavorante que eu mal conseguia respirar ante o pânico. 

A noite se aprofundava e tudo ficava cada vez mais silencioso, como se o lugar fosse realmente inabitado. A cada minuto que se passava a névoa adentrava mais e esfumaçava a visão, o vento uivando melodias macabras, rompendo as barras de ferro, e açoitando meu pequeno corpo ferido como várias navalhas afiadas. O som ecoava disparadamente pelo lugar e se misturava a escuridão, sendo sufocado um segundo à frente apenas para ser reproduzido de novo; a sensação como uma tempestade a caminho. A temperatura também havia caído consideravelmente. 

Após o Anoitecer - Introdução à Legião dos CaídosWhere stories live. Discover now