SALTO NO ABISMO

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CHAPTER

― 1 ―

#2 CAHTERINE PAULA

─ Butte MT, 2014

Eu acordei suando frio, outra vez. O mal-estar se estendia por todo o meu corpo e se alojava, principalmente, no meu peito. Era uma sensação maldita, cheia de arrepios atrás do pescoço. E muito frio. Um frio que parecia congelar meu sangue, carne e ossos. Um frio infernal!

― Nossa, Cah! Você só vive no mundo da lua ― A voz da Juh despertou minha atenção para o mundo exterior. O mundo fora da minha cabeça. ― Dormindo em pé outra vez, peixinha?

Lancei meus olhos em sua direção, sentindo as pancadas do meu coração contra a minha caixa torácica. Estava tão atordoada por causa do sonho que nem havia notado o sarcasmo no apelido pronunciado.

Sem dizer uma única palavra, enquadrei as mangas do casaco de algodão nos punhos, sentindo meus joelhos querendo fraquejar.

Eu estava tremendo.

Ao não receber uma reposta verbal, Juhlia desviou sua atenção para a frente da estação rodoviária de Butte MT, procurando por Eduarda.

Percebendo que havia escapado do interrogatório trabalhista que Juhlia podia proporcionar-me à força, baixei meus olhos para o meu pulso direito. Afastando o tecido do casaco discretamente, enxerguei o que estava me causando desconforto. Outro hematoma─ uma enorme mancha azulada no centro, e nas bordas, arranhões quase em carne viva.

Escondi o machucado e puxei a minha agenda da bolsa, fazendo mais uma anotação. Já era a quarta nas últimas duas horas.

Meus pesadelos não eram tão frequentes assim. Geralmente eles ocorriam trimestralmente, às vezes uma ou duas vezes no mês, ou no pior dos casos uma vez por semana. Mas, quatro vezes em duas horas? Isso nunca havia acontecido!

Eu não entendia o real motivo que me levava a ser aterrorizada todos os anos pelo mesmo sonho. E as feridas no meu corpo sem explicação? Fazia anos que eu já havia descartado a hipótese de terem sido feitas por mim.

Desde a época que tentei cometer suicídio, com dez anos de idade, que passei a ser assombrada por criaturas demoníacas. Nos pesadelos, eu os vejo, olhando para mim, bem no fundo da minha alma, me esperando, gritando para que eu não acorde, para que eu não os deixe sozinhos... com ele.

Há, também, a voz do desconhecido. Uma voz masculina e que sempre se mostra familiar, sussurrando coisas para mim, promessas de um reencontro. Ele sempre diz coisas ─ que demônios existem e estão entre nós, que eu preciso ouvi-lo, que ele não deixará minha alma em paz até que eu me lembre.

Fazem mais de oito anos que eu já parei de procurar explicações para meus pesadelos. Porque, por mais que eu busque uma explicação lógica, o sobrenatural sempre se mostra mais plausível. No entanto, eu sabia que era mais do que isso. Era um complexo, um enigma, que cabia unicamente a mim, solucionar.

― Cah...? Sonhando de novo?

Saltei com o impacto da presença de Juhlia bem ao meu lado, juntando as sobrancelhas ruivas enquanto me olhava, atentamente.

― Estava apenas pensando ― Eu disse, desviando minha atenção para Eduarda que trazia um panfleto sobre a testa, protegendo-se dos fracos raios solares.

A expressão de Juhlia denotava incredulidade, porém, também, preocupação.

― Vocês já estão brigando outra vez? ― Eduarda quis saber, pousando sua bagagem ao lado da minha.

Após o Anoitecer - Introdução à Legião dos CaídosWhere stories live. Discover now