Scorpion

Cap 23

Hollywood, 1969

Ann Hastings queria transar mais do que qualquer coisa no mundo. Ela concluiu que ser virgem aos trinta e um anos de idade era uma coisa terrível. Ainda mais naquela época!

Ao estacionar seu na vaga reservada do pequeno estacionamento atrás do Tony's Royal Burgers (Eddie manteve a placa por motivos sentimentais), ela pensou em todas as garotas que tinha acaba de ter visto para cima e para baixo na Avenida Highland, em jeans bordados, descalças e com cabelos longos, os quadris e polegares expostos na esperança de uma carona. Uma carona elas conseguiam sem pestanejar!

Ann, às vezes, se via perplexa por aquela nova era. Ela frequentemente se sentia como se tivesse adormecido há muitos anos e só agora tivesse despertado, uma estranha em uma terra ainda mais estranha. Como uma senhorita . Havia revoluções acontecendo à sua volta: raciais, contra as guerras, culturais, sexuais...

E sexo era o que habitava a sua mente naqueles dias.

Como não pensar?, ela se perguntava ao passar pela porta dos fundos da lanchonete, acenar para os empregados e seguir para a porta com a placa de particular. Com filmes como , e por todos os lados, mostrando pele, pele, pele?

Os noticiários na TV mostravam os jovens em Woodstock, nus, fazendo amor na grama, livres e felizes. As mulheres passaram a tomar a pílula. Finalmente, permitiram que elas fossem ativas na sexualidade. Era uma época de amor livre e sexo liberal. Pelo amor de Deus, todos estavam fazendo!

Bem, talvez nem todos, Ann concluiu ao entrar silenciosamente no escritório e fechar a porta atrás de si. Luna estava à escrivaninha, verificando a correspondência da manhã. Demi estava na outra mesa, os dedos voando pelas teclas da calculadora.

Elas não pareciam estar envolvidas na revolução sexual. Há quantos anos Ann conhecia Luna Maaujre? Dez, calculou. Tinham-se conhecido em 1959 naquele antigo prédio de apartamentos na Cherokee. Mas mesmo tendo trabalhado juntas para o Eddie desde então, Luna ainda era um tipo de mistério para Ann.

Por mais incrível que pudesse parecer, não havia homem algum na vida de Luna Maaujre, mesmo ela sendo absolutamente linda. Não só na aparência, que era espetacular, mas na maneira como andava, em seus modos, na sua alma, Ann pensou.

Luna parecia andar direito e falar direito; ela era gentil, equilibrada e afável. E ficava absolutamente perfeita em sua minissaia Mary Quaint e meias brancas estampadas. Ela até levara adiante o coque banana naquela era espacial de penteados Sassoon e Nigel Davies. E Luna também estava bem financeiramente. Não exatamente rica, mas ela tinha feito alguns investimentos inteligentes no Vale, além de possuir parte da cadeia Royal Burgers. Ela era uma das solteiras mais cobiçadas em L.A. e, mesmo assim, até onde Ann sabia, ela não estava envolvida com homem algum.

Em dez anos, Luna não teve namorado. Nem mesmo tinha encontros. A vida inteira de Luna, Ann veio a saber, era exclusivamente dedicada ao trabalho. Na verdade, ela era tão devotada ao trabalho, e dedicava tantas horas gerenciando a empresa que Eddie e Laverne saíram de cena quase que completamente. Por que, Ann se perguntava agora assim como se perguntou tantas vezes antes, Luna evitava os homens?

E também havia Demi Lovato a contadora da empresa. Naquele primeiro dia há seis anos,quando Luna levou Demi para a lanchonete e anunciou que ela trabalharia com eles, Ann pensou: ahá!, acreditando ter encontrado a resposta finalmente. Luna preferia mulheres, simples assim. Mas aí a barriga de Demi começou a crescer e, quando entrou em trabalho de parto, ela amaldiçoou um homem chamado Wilmer.

Em cinco anos desde o nascimento de Mel, Carmen levou uma vida celibatária. Ela também não parecia querer nada com os homens.

Mas, pelo menos, Ann pensou, Demi havia tido um homem, ao menos uma vez. Ann não tinha tanta certeza a respeito da tão reservada. Luna, que nunca se permitia ficar social ou fisicamente próxima de alguém. Seria possível, Ann se perguntou e não pela primeira vez, que Luna fosse tão inocente sexualmente quanto ela?