Cap 11

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Uma coisa era planejar um ato de rebeldia, outra coisa completamente diferente era executá-lo.

Enquanto Ally atravessava a loja masculina até os fundos, onde uma atendente deveria encontrá-la, ela sentiu um medo repentino. Externamente, ela se parecia com qualquer outra jovem bem-sucedida profissionalmente, vestida de maneira conservadora, com um objetivo nas passadas e confiança no balanço do curto cabelo castanho. Internamente, porém, Ally se encontrava repleta de receios.

Ela sentia como se fantasmas invisíveis a segurassem, a detivessem. Impedindo-a de pisar naquele elevador proibido. Havia seu pai, um homem que, durante toda a infância de Ally, reprimiu a afeição dos filhos até que eles a merecessem por meio de conquistas e honrarias especiais, um homem de quem, um dia, o que ela mais quis foi aprovação e o amor. Também houve os padres das escolas que governaram acima das freiras e todo o corpo estudantil, homens distantes e formidáveis cujas palavras eram a lei e a ordem. E depois John, a quem ela acreditava amar, mas que frequentemente a confundia e a enchia de dúvidas sobre si mesma. Eles não queriam que ela subisse para os quartos secretos do Scorpion.

Mas Dinah não dizia repetidamente para Ally que ela tinha de ser a dona do próprio nariz? Que era hora de John lhe entregar as rédeas de sua vida? Por oito anos, Ally acreditou ser um indivíduo, mesmo dentro do casamento, que mantinha a própria identidade, separada do marido.

Seu escritório de advocacia, seus clientes, seus dias no tribunal provavam isso, não? E, mesmo assim, desde que o espectro do Scorpion penetrou em sua vida, tomando conta de um lugar em sua mente de onde ele não saía, Ally começara a se questionar. E sua primeira pergunta fora: por que não posso entrar? Sou livre para fazer isso, não sou? Foi então que ela percebeu que sua autonomia fora uma ilusão todos esses anos, que a sua identidade foi moldada por John, que ela não era, no final das contas, dona do próprio nariz. E por isso ela decidira dar o primeiro passo para a liberdade pessoal. Naquele dia, Ally estava de fato fazendo algo, pela primeira vez na vida, para o qual não havia recebido permissão.

— Boa tarde, senhora — disse a atendente com um escorpião bordado na blusa. — Por aqui, por favor.

O que John, seu pai e a igreja fariam se descobrissem sobre aquilo?
Quando as portas do elevador começaram a se fechar atrás dela, excluindo o movimento da Fanelli e o barulho da Rodeo Drive, Ally deu um empurrão nos fantasmas que atormentavam sua mente, desligando-os, deixando-os fora daquilo, e subitamente ela estava sozinha e livre a caminho de encontrar a sua fantasia.

— O que você faz no Scorpion? — perguntou a Dinah. — Você só precisa entrar no quarto e lá está ele?

— Você faz o que quiser. Você precisa dizer a eles o que quer que aconteça.

O que quer que aconteça...

Ao seguir a atendente pelo corredor acarpetado, Ally olhou para as portas fechadas pelas quais passavam. Nenhum som passava de nenhuma delas; um tipo estranho de silêncio pairava no ar. Haveria alguma mulher trás delas àquela hora? — perguntou-se. E que sonhos estariam realizando?

A atendente parou diante de uma das portas fechadas e disse:

— Por favor, queira entrar.

Ally percebeu que seu coração estava acelerado. A porta se parecia com qualquer outra de hotel. O que encontraria do outro lado?

Abriu a porta e entrou.

No meio da sua fantasia.

Tudo estava exatamente como em seu sonho: o feno espalhado no chão, as mesas simples, o jukebox tocando Kenny Rogers, a luz baixa, um bar numa ponta no qual um vaqueiro solitário estava parado com um pé apoiado na barra de bronze, vestindo jeans e uma camisa xadrez com o chapéu Stetson puxado para trás na cabeça. Ele escutava a canção e levava o drinque para os lábios.

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