Capítulo dezenove - A verdadeira Guardiã de Câncer

2.9K 266 98
                                    

Ao abrir os olhos, Hayato sentiu sua consciência pesar. Afinal, não era um sonho ou um delírio ocasionado pelo álcool: Anne estava ao seu lado. Viu algo brilhando abaixo do olho esquerdo dela e passou a mão, levemente. A pele estava úmida, ainda devido às lágrimas.

Sentou-se na cama, ainda olhando para ela. Passou as mãos pela cabeça, perguntando-se como fora capaz de fazer aquilo. Anne era apenas uma menina! Uma menina que teve sua inocência manchada por um ato monstruoso, de puro egoísmo.

Mas... Não! Ele não era um monstro! Tentou justificar, para si mesmo, os seus próprios atos: fora o desespero pela forma com que Sofie o tratara. Fora consequência da bebida. Contudo, ele sabia que nenhuma dessas duas razões poderia justificar os seus atos. NADA justificaria aquilo.

Ainda dormindo, Anne virou-se de lado, ficando de costas para Hayato. Ele, novamente, colocou a mão sobre a cabeça e fechou os olhos, pensando nas consequências daquilo. O que diria quando ela acordasse? Como se desculparia pelo que fez? Como dizer a uma menina que o amava, a qual ele de forma coercitiva forçou a manter relações com ele, que tudo aquilo fora um engano? Como explicar que, mesmo ela tendo se entregado para ele, seus sentimentos não poderiam ser correspondidos, ainda que, de certa forma, ela só tivesse permitido aquilo por conta de uma promessa mentirosa com esse propósito? Como assumir para ela, e para si mesmo, que ele não passava de um canalha?

– Como? – Ele sussurrou para si mesmo, abrindo os olhos.

Ele a fitou enquanto dormia. Tal visão não despertava nele qualquer desejo, apenas o sentimento de culpa que continuava a corroê-lo. Ao olhá-la melhor, de repente, ficou estático, mantendo seus olhos num ponto fixo. O lençol escorregara pelas costas dela, deixando uma cicatriz à mostra. Seu cérebro ainda relutou a entender que aquilo não se tratava de uma cicatriz, mas, sim, de uma marca de nascença... Marca essa que ele conhecia muito bem.

– Não pode ser... – Murmurou.

Levantou-se da cama num pulo, vestiu sua calça que estava jogada no chão e saiu, quarto a fora, procurando desesperadamente por Sofie.

----------

Sofie saía de seu quarto, quando foi abordada por Hayato, vestido tão somente com uma calça jeans. Ela estranhou aquela maneira tão "informal" de ele transitar pelo corredor da base, mas deixou isso de lado. Abriu a boca para dizer algo relativo à barreira e aos youkais, mas antes que pronunciasse uma única palavra foi surpreendida com a forma aflita com a qual ele a segurou pela mão, começando a, sem mais nem menos, puxá-la em direção ao quarto onde Anne dormia.

Ela não compreendeu a atitude dele, e entendeu menos ainda quando, ao entrarem no quarto, ela se deparou com Anne dormindo, com seu corpo coberto somente por um lençol. As roupas dela estavam espalhadas pelo chão, juntamente com a camisa de Toshihiko.

– Mas... O que... – Sofie olhou para Hayato, exigindo uma explicação – Mas o que você tem na cabeça?

– Sofie, preste atenção... Essa menina...

– Ainda bem que você sabe que ela é uma menina. – Sofie o cortou, irritada – Não se envergonha do que fez?

– Sofie, guarde os sermões para depois e me escute...

– Escutar? Escutar o quê? Aliás, você nem precisa me explicar nada. Não tenho nada com a sua vida, nem com a dela, apenas acho que você não deveria iludir uma menina desse jeito, já que ainda ontem disse que não sentia nada por ela. Mas ela é maior de idade, e já que é dada a essas atitudes...

Hayato viu-se obrigado a falar alto, para se fazer ouvir:

– Sofie, me escuta!

Ela se calou. Já conhecia aquele rapaz o suficiente para entender que ele estava tenso e, seja lá o que tinha a dizer, era verdadeiramente importante.

GuardiansOnde as histórias ganham vida. Descobre agora