Capítulo dois - Arianas

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Rio de Janeiro, Brasil

23 horas e 30 minutos

– Eu quero levar uma vida moderninha… Deixar minha menininhaaaa sair sozinhaaa…

Olhando torto para o rapaz ao seu lado, Shermmie se perguntou se poderia haver no mundo qualquer pessoa que conseguisse cantar pior.

Maurício, entretanto, ignorava totalmente tanto os pensamentos quanto o olhar da sua amiga e, com os fones do ‘mp3-player’ nos ouvidos, continuava a cantarolar:

– … Mas eu me mordo de ciúmeeee… Mas eu me mordo de ciúmeeee…*

Shermmie bufou e continuou a olhar para o casarão, até, finalmente, avistar o que eles tanto esperavam: Anne, um pouco atrapalhada, saía por uma janela lateral, carregando, como podia, três enormes malas.

– Dá pra acreditar numa cena dessas? – Resmungou Shermmie.

Maurício tirou um dos fones e olhou para a amiga:

– Disse alguma coisa?

– Olha pra aquilo! – Ela apontou para Anne e Maurício seguiu os olhos nessa direção – Consegue aceitar que uma criatura dessas possa ser uma Guardiã?

– Nem todos têm a nossa “sorte”, de ter um tirano opressor como treinador desde criança.

– Essa daí, nem com o melhor treinamento vira guerreira. Pra isso precisaria morrer e nascer de novo. Saca só, ela tá procurando pela gente.

– Até aí tudo bem, né Shermmine? Ela não tem a obrigação de enxergar duas pessoas escondidas dentro da casinha de um cachorro. – Ele olhou para trás deles, onde um grande pastor alemão estava amarrado pelas patas e pelo focinho, e sorriu. – Er… Foi mal aí, amiguinho.

Shermmie saiu da casinha do cão e acenou para Anne:

– Aqui, sua tapada!

Ao avistá-la, a loira se aproximou, arrastando as malas pelo chão:

– Como vocês conseguiram entrar aqui? – Ela olhou para o estado em que se encontrava o cachorro – Er… Esse cão é bravo.

– Que nada! – Brincou Maurício, dando dois tapinhas na cabeça do animal, que o encarava com profunda raiva – É um bom garoto. Qual o nome dele?

– Eu não sei. – Respondeu Anne, ainda perplexa.

– Como não sabe o nome do cachorro da sua casa?

– Não é um bicho de estimação, é da equipe de segurança. Aliás, onde estão os seguranças?

– Dormindo. – Respondeu Shermmie, tranquilamente – Fiz um acordo com o Mau: ele cuidava do cachorro e eu dos seguranças. Foi moleza. Agora me responde, garota, tá achando que vai pra onde? Pra um cruzeiro de férias? Me diz, pra que tantas malas?

– Você não me deu uma previsão de quanto tempo ficaríamos fora, então trouxe o básico pra pelo menos um mês.

– Tem roupa aí pra dez pessoas se vestirem por um ano.

– Deixa isso pra lá, Shermmine – Pediu Mau, saindo de dentro da casinha e trazendo consigo duas mochilas, entregando uma delas à amiga – Melhor irmos logo, senão perdemos o voo.

A garota concordou:

– É, e não queremos que isso aconteça. Vamos logo encarar nossas vinte e tantas horas de viagem.

Dizendo isso, virou-se e seguiu em direção ao portão de saída da mansão. Maurício ajudou Anne, pegando duas de suas malas, e seguiu a amiga.

A loira olhou por um momento para a sua casa. Suspirou, e já ia seguir os outros dois quando olhou, perplexa, para o cachorro que se sacudia, tentando se soltar.

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