Capítulo 11

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As aulas começaram há menos de meia hora, e já estou farta destas quatro paredes. Apetece-me sair, e correr por aí sem destino. Apenas quero estar sozinha.

Ontem não consegui dormir mais, o medo foi mais forte que o sono. Eram seis horas da manhã e fazia tudo menos dormir, portanto decidi estudar e fazer projetos antecipadamente. Não devem estar grande coisa mas, pelo menos fiz alguma coisa.

Agradeço ao café que bebi antes de sair de casa, se não fosse por ele não estaria aqui ainda acordada.

Ouve-se um bater na porta e observo o moreno-que-causa-dores-de-cabeça-pela-manhã entrar na sala. Trazia uma camisola azul-escura, e umas calças pretas que se podem considerar justas visto que delineava cada centímetro das suas longas pernas. Um sorriso convencido forma-se nos seus lábios quando repara que eu o observava, e eu reviro os olhos. Ele caminha até à mesa que se encontra ao meu lado e senta-se.

"Trouxeste o meu casaco?" ele dirige-se a mim sussurrando. Os seus olhos pousam nos meus, e eu bato-me mentalmente por não me ter lembrado do casaco.

"Esqueci-me completamente" suussurro de volta.

"Com esta idade e já a esquecer-se de coisas?" ele sorri.

"És sempre assim tão engraçado pela manhã?" pergunto.

"Diz que sim." ele responde.

"Annie e Liam, agradecia que não interrompessem a minha aula enquanto leciono matéria nova." o professor pede num tom reprovador.

"Pedimos desculpa." rapidamente afirmo para que este pudesse prosseguir com a aula. Até parece que era necessário desviar todas as atenções para nós desta maneira. Um olhar discreto bastava.

Estava a fazer alguns apontamentos no caderno, quando sinto o telemóvel vibrar no bolso das minhas calças. Quando este para, discretamente levo a minha mão até ele, e pouso-o na mesa.

A mensagem era de Liam e dizia: Professores, sempre a interromper as nossas conversas.

Um sorriso formou-se na minha cara, e eu tento não rir.

O professor explica que agora só faríamos exercícios sobre a nova matéria durante o resto da aula e eu desligo completamente.

Pego na minha mochila e pouso-a encima da mesa, e após retirar o caderno que procurava, volto a pousá-la no chão.

A capa inicialmente branca do caderno, está agora repleta de desenhos e palavras, sendo mais preto do que branco. O caderno não é nada demais, é apenas algo que uso para me exprimir quando com pessoas não é possível.

O professor Heartz, disse que por vezes uma folha pode ser a nossa melhor amiga. Depois de tudo pelo que passei, estas palavras significaram muito mais, do que no momento em que as ouvi. Não é que não tenha pessoas em quem confie na minha vida, apenas não acho que entenderiam o que sinto. Os meus olhos exploram cada folha daquele livro e uma dor bate no meu peito. Fecho-o, como se ao fechá-lo a dor também se iria embora. Tantas palavras repletas de mágoa, tantos desenhos e rabiscos que tentavam desesperadamente tomar a forma de algo.

Novas palavras surgem na minha mente, e eu desenho-as nas partes vazias da capa. Viro o caderno, e observo a parte de trás ainda em branco. Mas eu sei o que quero nesse branco. Quero que palavras de alegria a preencham. Mas o fato de ainda estar vazia, diz algo sobre mim, não diz? Por mais que o tente negar e esconder com um sorriso, há algo em falta na minha vida. Vários ''algos'' para ser honesta.

Quando ouço um enorme silêncio dentro da sala de aula, penso rapidamente se será o professor a perguntar-me algo. Por sorte, apenas estavam a copiar alguns exercícios do quadro, porque pelos vistos faltava pouco para o fim da aula. Até passou rápido. ''Ou então apenas não estavas atenta para ter noção do tempo'' o meu subconsciente atira.

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