⌜hunted • tk⌟

⌜02 • cheiro⌟

⌜nota: a palavra niran é de origem tailandesa e significa eterno.⌟

A primeira vez em que sonhou com o lobo de Jeongguk, Taehyung havia acabado de ser resgatado pelos Min. Em meio aos inúmeros pesadelos que agitavam seu sono, sonhar com o lindo animal de pelos dourados parecia um presente.

Estava sempre perdido em uma floresta, um lugar que sequer sabia se existia além de seus sonhos. A mata era fria, escura, e o som dos animais selvagens correndo entre as árvores, batendo suas patas contra as folhas secas o deixava em alerta. Vestia as mesmas roupas do dia em que matou o pai, manchadas com o sangue do alfa. Um lembrete do que havia feito. Um lembrete do monstro em que se transformou devido à violência e ao desejo de vingança. Assim como as roupas, suas mãos estavam sujas de vermelho carmesim. A sujeira parecia tatuada em sua pele, incrustada entre as linhas da vida nas palmas, um retrato perfeito de como a vida dele foi marcada pelo sangue e pela violência.

O cheiro do orvalho o rodeava e as pequenas gotículas o fascinavam desde criança. Seu próprio cheiro exalava fortemente, com medo e tentando afastar inimigos. Em boa parte do sonho, Taehyung caminhava pela floresta, perdido, à procura de um caminho que o levasse de volta para casa. No entanto, devido ao cansaço, o pensamento de que não existia uma casa para a qual retornar o assombrava.

Sentia-se agitado, com a sensação de que sufocaria. O ar mal chegava aos pulmões, as mãos tremiam, suadas e frias, assim como o resto de seu corpo. De repente, tudo ao redor era inundado por um cheiro doce e intenso que o envolvia como um abraço, como se o perfume se transformasse em uma fumaça espessa que o contornava e abraçava cada parte de seu corpo, afastando os sentimentos ruins e os substituindo pelos bons. A sensação de conforto era quente, e quando se deixava dominar, conseguia identificar o doce do mel e as notas de fundo de baunilha que o faziam lembrar dos bolos que sua mãe assava nos finais de semana. Ao abrir os olhos, Taehyung via a fumaça cheirosa se deslocar, indicando o caminho que precisava seguir.

Rodeado pelo cheiro, ele não sentia mais medo ou insegurança, mas curiosidade em descobrir para onde aquilo o levaria. A seguindo, sempre chegava a uma clareira. A escuridão se transformava em luz devido à lua que se infiltrava através das copas das árvores e, no centro da clareira, um lobo descansava, deitado em suas patas traseiras, enquanto as da frente permaneciam cruzadas, como se estivesse posando para uma foto. Sua pelagem dourada brilhava refletida pela lua, uma visão etérea. Os olhos dourados eram intensos e ameaçadores em um primeiro momento, mas doces e inocentes quando observados com mais cuidado, da cor do mais puro mel, deixando óbvio o porquê daquele cheiro o pertencer.

Taehyung se aproximava hipnotizado todas às vezes. Não apenas seus pés eram atraídos para o lobo, mas sua alma. Sentia-se puxado por uma força sobrenatural, sem chance de recusar a ir. Parado em frente ao lobo, o encarava diretamente nos olhos. A presença forte, mas, ao mesmo tempo, delicada e gentil, lhe mostrava que se tratava de um ômega.

Os sons da floresta foram silenciados, Taehyung ouvia apenas a própria respiração, alterada pela expectativa do momento. A troca de olhares durou apenas alguns segundos, mas sentiu que foram vidas.

Então, o lobo dourado se levantava majestoso, fazendo-o cair de joelhos, curvando-se assim como seu lobo. A força com que a presença do ômega dobrou a ele e seu lobo o fez ofegar. O animal de pelos cinzas dentro de si rosnou em seu peito, mas o som saiu através de seus lábios, fraco e submisso. Um som de reconhecimento, uma demonstração de profundo respeito e adoração.

O lobo dourado, ao invés de responder com outro rosnado, se aproximou e acabou com o espaço que ainda os separava, respirando forte contra o rosto de Taehyung. Frente a frente, Taehyung viu os olhos verdes de seu lobo refletidos no dourado. O focinho do ômega o farejou, sentindo o cheiro ardido e, ao mesmo tempo fresco, o inundar. Em seguida, lambeu sua bochecha em uma silenciosa declaração de reconhecimento.