11. O verdadeiro significado de paraíso.

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Era um dia nublado, e talvez isso deixasse o ambiente extremamente cinza e assustador, principalmente naquela floresta. Mas não, não eram as nuvens carregadas que davam ao ambiente um peso grotesco e sombrio. Não eram as árvores antigas e velhas, que estavam ali como se só existissem, mas não estivessem realmente vivas. Era algo mais obscuro e pesado

E Blair teve a certeza do que era quando, de forma involuntária, se aproximou da cabana de madeira que ficava no meio da floresta. Aquela cabana... Ela reconhecia aquela cabana. Se aproximava, atenta aos detalhes. Quando uma voz feminina atraiu a sua atenção.

- Não é como se fossem iguais aquelas malditas crianças sarnentas da aldeia! - Disparou a voz feminina, claramente irritada. A garota se aproximou da porta da cabana, que estava aberta. A ruiva de cabelos cacheados e olhos verdes estava em pé, perto da porta. Usava um vestido preto, que lhe caia muito bem, mesmo que sua barriga estivesse grande e protuberante. Indicando uma gestação em seu estágio final. A morena ficou paralisada. Ela sabia quem era aquela ruiva, já tinha sonhado com ela outras vezes antes.

- Sim, Miranda. Mas só estou dizendo que para evitar boatos, seria melhor permitir que frequentassem a aldeia. - Falou a voz de uma mulher mais velha. Cabelos grisalhos presos em um coque e mais magra do que realmente deveria ser. Que Blair também reconhecia. Já tinha visto ela em seus sonhos.

- Isso nunca acontecerá, Zillah. - Falou a ruiva, firme em sua decisão. Seus olhos se voltaram para a parte de fora da casa, e Blair seguiu o olhar da mulher. Tinham duas crianças ali, agachadas perto de uma das árvores. Como se estivessem caçando algo interessante que despertou suas curiosidades. Duas meninas. Pareciam ter 3 e 2 anos no máximo.

A maior, e mais velha, tinham cabelos platinados, que estavam soltos e chegavam até os seus ombros. A pele da cor alva mais pura. A segunda, que estava ao lado da irmã, tinha cabelos vermelhos como fogo, que iam até um pouco acima do pescoço dela. A pele é igualmente branca a da menina ao seu lado. Vestiam vestidos simples, de cores neutras. Blair não conseguia enxergar o rosto das garotinhas do lugar de onde estava, mas havia algo nelas que avisava que elas não eram somente crianças. Algo em sua postura, algo em sua aura... A garota não estava gostando do que sentia, o medo apertou seu peito.

- Vai escondê-las de todos, então? - Perguntou a mulher mais velha, se aproximando, que Blair agora sabia que se chamava Zillah.

- Esconder? Não. Preparar. - Rebateu Miranda, tocando na barriga de modo sugestivo, enquanto observava as outras duas garotinhas. Um sorriso perverso surgindo em seus lábios. De repente, as meninas se levantaram e caminharam calmamente até a mãe. Foi então que Blair as viu com mais detalhes.

A menina mais velha, de cabelos platinados, tinha feições frias e implacáveis, não parecia uma criança, mesmo tendo as características de uma. Seus olhos pareciam profundos e antigos, como se tivesse o poder de ver além de tudo e todos. Como se pudesse enxergar cada pecado existente em sua alma. Os olhos dela eram de uma cor prateada bem clara, as iris brilhavam em um tom branco albino único, que a morena nunca tinha visto. Seus cílios também eram brancos como a própria neve.

A outra garotinha, a menor, tinha olhos da mesma cor. Apesar de ter sardas no rosto e cabelos cor de fogo. Esta parecia mais com a mãe. Seu semblante não fazia jus à uma criança de 2 anos. Ela olhava tudo como se fosse capaz de colocar fogo no mundo. E Blair se pegou questionando se ela não era realmente capaz disso. Era parecida com a mãe, mas conseguia parecer ser de um jeito ainda pior... O sangue de Blair gelou, sabendo exatamente quem era o pai daquelas garotas.

As crianças se aproximaram da mãe, e nada falaram, a mais velha ergueu as mãos, mostrando um cadáver aberto de um pássaro ali em suas palmas. O peito da ave estava aberto e exposto, um buraco fundo na carne da criatura, que estava sem os órgãos internos. A outra ergueu as mãos igual, mostrando os órgãos do pássaro ali em sua palma. O coração, o pulmão, os rins... A cena fez o estômago de Blair se contorcer. As mãos das garotinhas sujas com o sangue do animal morto e torturado. Miranda sorriu, analisando a arte de suas filhas.

A ruína dos Anjos.Where stories live. Discover now