Denominar

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- E esse aqui? - Caroline perguntou enquanto virava o celular para que Rosamaria visse a roupinha que ela estava prestes a colocar no carrinho virtual. Carrinho esse que já tinha uns dez itens que, segundo ela mesmo, eram indispensáveis.

Rosamaria, que estava sentada ao seu lado com as costas apoiadas em uma montanha de travesseiros, se inclinou para olhar o aparelho mas, como havia se tornado costume desde que elas começaram aquela atividade, a oposta fez uma careta. - Hm, não sei.

Sem se deixar abalar, até porque Caroline sabia que sua esposa não estava desanimada de propósito, a mais velha passou para o lado para mostrar uma outra versão do conjunto de camiseta e calça. - Tem outras cores também.

- Ai, assim é muito ruim escolher, - Rosamaria reclamou antes de jogar a cabeça para trás para olhar para o teto. Ela cruzou os dedos de suas mãos em cima de sua barriga que já estava inchada com os sinais da gravidez. - Eu precisava ver, pegar, tocar, sei lá. E se chegar aqui e a cor for diferente da foto? - Ela havia dito a mesma coisa para todas as outras roupas de bebê que Caroline tentou mostrar para ela antes. Ela estava frustrada, isso era óbvio, mas a outra mulher não desistiu.

- Amor, é só uma roupinha. - Caroline desceu um pouco a página no celular para ver a descrição da roupa. - Se ela vier em laranja neon ao invés de verde floresta, a gente usa igual. Ela vai cagar nisso aí mesmo, - concluiu com um pequeno sorriso, já olhando para sua esposa com a cabeça meio inclinada. Caroline estava meio sentada e meio deitada na cama com uma xícara de chá já frio na mão do braço que estava apoiando seu peso no colchão.

- Para, - Rosa avisou, revirando os olhos. Gattaz, no entanto, apenas sorriu e adicionou aquela roupinha no carrinho também.

O silêncio que se seguiu foi indicativo o suficiente para Rosamaria saber que sua esposa estava procurando mais coisas para comprar e, depois de outro suspiro, a oposta virou a cabeça para o lado. Seus olhos verdes fixaram no perfil de sua esposa, notando cada detalhe, cada linha e cada curva que ela já deveria estar cansada de ver. Não estava, é claro, porque ela jamais iria cansar de ver e admirar Caroline. Desde os seus cabelos claros e naturalmente lisos, até as rugas que enfeitavam o canto do seu olhos. As rugas Caroline havia tentado se livrar com procedimentos estéticos antes, mas Rosamaria só conseguia ver beleza nelas. Uma vida cheia de sorrisos e risadas que marcaram seu rosto da forma mais bela.

Seu fascínio ia além, entretanto. A curva da mandíbula, o nariz pequeno, o queixo pontudo mas que ficava para trás da linha do seu nariz, os ombros fortes que ela conseguia ver porque sua esposa estava usando uma regata. Até o formato de sua orelha, toda enfeitada com piercings diversos, fazia Rosamaria tentar conter um sorriso.

Ela havia sonhado com uma criança que tivesse todos esses pequenos detalhes, características herdadas da genética de sua esposa. Ela via Alice, a sobrinha de Caroline que poderia facilmente se passar por sua filha, e não podia deixar de imaginar como seria um bebê que tivesse sido gerado por ela. Será que teriam o mesmo nariz? Será que teriam a mesma cor dos olhos? Será que suas bochechas também teriam pequenas covinhas que só apareciam durante um sorriso particularmente alegre?

Agora, Rosamaria pensava o mesmo, porém, usando sua própria imagem como comparação. Ela havia operado seu nariz assim que ficou maior de idade, então ela se via obrigada a desejar que seu bebê não tivesse o azar de puxar aquela parte da sua genética. Ou ela ia começar a guardar dinheiro para uma rinoplastia desde cedo.

De repente se sentindo a pior pessoa do mundo por estar pensando aquilo, Rosamaria fechou os olhos, respirou fundo, e tentou afastar todos os pensamentos negativos por pura força de vontade. Quando ela abriu os olhos de novo, Caroline estava olhando um conjunto de roupinhas para recém nascido com várias cores e estampas diferentes, o que a fez morder o lábio inferior por um momento. Aquela gravidez não estava sendo nem um pouco parecida com o que ela imaginou que seria e, agora, Rosamaria não podia sequer agir como todas as mães malucas que saem comprando mil coisas para os seus bebês em uma única tarde no shopping.

Drops of JupiterWhere stories live. Discover now