Laranja

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- Vida, tu quer levar qual?

Naiane se virou segurando dois chinelos diferentes para que Júlia pudesse ver de onde ela estava sentada na cama com as costas escoradas na cabeceira e as pernas esticadas no colchão. Júlia abaixou o celular um pouco para conseguir olhar e sua boca entortou para um dos lados enquanto ela considerava as opções dadas. Elas haviam feito aquilo com outros itens durante toda a manhã, mas ela já estava na esperança que elas iriam terminar em breve.

- Pode ser o de cá, - Júlia respondeu e moveu a cabeça para a esquerda.

Naiane apenas acenou em acordo e colocou o outro chinelo de volta no lugar antes de se virar para achar um espaço na mochila de Júlia para colocar o chinelo. Ela havia passado o começo da manhã lavando as roupas depois de fazer café para as duas e, depois de xingar até a quarta geração de qualquer pessoa que ela conseguia pensar enquanto passava a calça de linho que Júlia estava procurando fazia dias, Naiane começou a arrumar as mochilas das duas. A sua, para o jogo daquela noite, colocando dois uniformes, tênis, garrafa de água, meia e umas barrinhas de cereal. A de Júlia só seria usada na manhã seguinte quando elas dessem entrada no hospital para realizar a cirurgia no joelho da central, mas o jogo ia começar tarde na noite e, com certeza, nenhuma das duas ia ter energia de chegar em casa e arrumar as coisas de Júlia para o internamento. E não tinha chance alguma de Naiane acordar ainda mais cedo que o necessário no dia seguinte para fazer aquilo, ainda mais sabendo que corria o risco de acabar esquecendo alguma coisa por fazer as coisas na pressa.

Naiane estava, inclusive, preocupada com o jogo e com seu próprio desempenho. Ela mal havia conseguido dormir nos últimos dias com tudo que estava acontecendo e também com medo de acabar se movendo de alguma forma que fosse acabar machucando Júlia ainda mais, mesmo depois de sua namorada falar várias vezes que não havia a menor chance daquilo acontecer. Aquele não era o jeito que Naiane queria que Júlia voltasse para casa depois de estar fazendo uma temporada tão perfeita jogando fora e havia um gosto amargo na sua boca quando ela se via feliz por ter Júlia por perto de novo.

Com um suspiro que ela sequer percebeu que deu, Naiane ajeitou o chinelo em cima da camiseta que Júlia havia escolhido levar - uma das camisas velhas de Naiane de quando ela ainda jogava na Polônia - e aproveitou para conferir se ela havia colocado os exames de Júlia lá dentro. O médico falou que não precisava levar, mas era melhor prevenir. Depois de garantir que estava tudo lá dentro, a paraense fechou o zíper lentamente para não ficar preso em nada, então ajeitou a carteira de Júlia com seus documentos no bolso da frente. Por fim, ela colocou a mochila no chão perto da cama e pegou a sua só para fechar o zíper.

Na cama, Júlia já havia voltado a mexer no celular enquanto sua outra mão fazia um carinho distraído em Caramelo, que estava esparramada ao seu lado no colchão. Bayley estava deitada no chão onde, um tempo atrás, ela havia largado um de seus bichinhos de pelúcia depois de Naiane prometer que brincava com ela mais tarde. Naiane colocou sua mochila ao lado da outra e respirou fundo enquanto olhava em volta para garantir que nada havia ficado perdido por ali. Ela também checou o chão para garantir que não havia nada no caminho que pudesse fazer Júlia tropeçar caso ela tentasse andar por aí.

- Amor, vem cá.

Naiane olhou para a cama e viu que Júlia havia deixado o celular de lado e agora estava olhando para com um pequeno sorriso, mas ela balançou a cabeça. - Já vai, vida. Eu preciso pegar as coisas no banheiro ainda.

- Vem cá, - a menina insistiu.

- Ju, tem um monte de coisa pra pegar no banheiro ainda e eu ainda preciso almoçar antes de sair.

- Se você não vier, eu vou levantar e vou até você.

Naiane ergueu uma sobrancelha em desafio, mas ela logo mudou de tática porque ela sabia que, no fim, Júlia ia fazer exatamente o que ela havia ameaçado fazer. Com outro suspiro, a levantadora se aproximou da cama com cuidado para não pisar em Bayley e parou do lado de Júlia, que já havia estendido os braços em sua direção para passá-los em volta de sua cintura. Sem outra opção, já que seu equilíbrio se tornou inexistente por conta dos braços da namorada, Naiane sentou na beirada do colchão, por pouco não caindo em cima de Júlia.

Drops of JupiterWhere stories live. Discover now