Capítulo 19 - Welcome Home.

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Lúcifer Morningstar

Eu odeio ter que me curar das coisas que não foram minha culpa.

Continuei visitando Stolas normalmente todas as noites durante três semanas. Nesse tempo, descobri que a família Goetia estava à beira da falência; o papo de "herdeiro" era apenas uma fachada para encobrir um relacionamento homossexual que o pai de Stolas iria arranjar para ele. Aproveitando-se do fato de que o filho é gay, o pai planejava casá-lo com um homem de uma família nobre, tentando assim salvar a fortuna e o status da família.

Não havia muito que eu pudesse fazer a não ser estar presente no dia do casamento como padrinho, apoiando Stolas nessa decisão forçada.

Com o tempo que me restava, aproveitei para visitar os lugares onde costumava ir quando era criança. Adorava passar os dias no parquinho, brincando com a BeeBee e o Ozzie, meus irmãos de consideração. Era um refúgio para mim, onde podia ser apenas uma criança sem preocupações. Odiava voltar para casa, pois sabia que Sara iria brigar comigo por não fazer nada, mesmo eu tendo apenas sete anos. Ela parecia nunca entender que eu só queria um pouco de liberdade e diversão, como qualquer criança da minha idade.

Deixo meus pensamentos de lado ao avistar uma loja com o nome "Snuggly Duckling" ou "Patinho Fofo". A entrada chamativa, decorada com luzes cintilantes e uma fachada colorida, me atrai imediatamente. Assim que entro, sou recebido por uma visão encantadora: um pato radialista gigante, com um microfone de brinquedo e fones de ouvido, se destaca no centro da loja.

Sigo rapidamente em sua direção, encantado com o contraste entre seu tamanho imponente e sua expressão adoravelmente caricata. Aproximei-me com cuidado, estendendo a mão para tocar na pelúcia que parecia incrivelmente macia e, ao mesmo tempo, exalava um aroma agradável de baunilha. Ao apertá-lo, sinto a textura aconchegante do tecido, como se estivesse abraçando um pedaço de nuvem.

A loja em si era um paraíso de fofura, com prateleiras repletas de brinquedos e pelúcias de todas as formas e tamanhos. Cada canto estava decorado com figuras acolhedoras e luminosas, além de algumas plantas conhecidas, criando uma atmosfera de pura magia e nostalgia. Por um momento, todos os problemas e preocupações desaparecem, dando lugar a um sentimento de felicidade pura e simples, como aquele que só uma criança pode sentir ao encontrar seu brinquedo favorito.

— Esse pato me lembra o Alastor — Aprecio a pelúcia. — Em pensar que eu acordava cedo todas as manhãs apenas para ouvir o Locutor de Rádio, Diavolo, e que esse ano pude conhecer ele pessoalmente, é estranho.

Depois que ele parou de fazer os programas de rádio, fiquei um pouco frustado pois apreciava muito o trabalho dele, e adorava ouvir as músicas que colocava, mas decidi não ligar tanto. Quando finalmente o conheci pessoalmente, esqueci quem era ele, no entanto, isso nos aproximou, de certo modo.

— Não pode tocar nas pelúcias! — Bate na minha mão com uma bengala. — São colecionáveis.

Recolho minha mão, massageando a área que foi atingida pela bengala. A dor é aguda, mas ao reconhecer a voz, paro abruptamente. Viro-me para olhar Sara, agora uma mulher idosa e chata, que tenta mascarar os efeitos do tempo com maquiagem.

Seus olhos, ainda penetrantes, me observam com uma mistura de impaciência e familiaridade. A bengala que ela segura é um lembrete constante de sua fragilidade física, mas também de sua personalidade autoritária que nunca mudou, infelizmente. Apesar da irritação que sinto ao vê-la, há um pequeno lampejo de nostalgia ao lembrar dos tempos passados, mesmo que muitos deles sejam repletos de suas reprimendas e críticas constantes vindo dela.

— Nossa, vovó. Que cabelos brancos você tem — Sorrio ironicamente. — Como digo que você é a coisa mais feia que eu já vi na vida sem ser ofensivo?

𝗖𝗼𝗿𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗱𝗲 𝗩𝗶𝗹𝗮̃𝗼 - 𝑹𝒂́𝒅𝒊𝒐𝑨𝒑𝒑𝒍𝒆Where stories live. Discover now