Mansão Kramer

Capítulo 21

Tive a sensação de como se estivesse levitando e sentia falta de ar, abri meus olhos e puder perceber que tudo ao redor era água. Eu estava submersa em uma lago escuro e a cada segundo meu corpo ficava mais próximo do fundo, eu tentava mexer meus braços e pernas para ir até a superfície mas era inútil, só conseguia ver um clarão da luz do dia que adentrava brevemente as águas enquanto meu corpo afundava. A pequena luminosidade vinda de cima parecia cada vez mais distante e inalcançável, enquanto isso meus pulmões ardiam clamando pelo ar que eu não conseguia respirar. Tentei nadar com todas as minhas forças, me debati e por último gritei em desespero. De repente tudo começou a ficar ainda mais escuro, a água que entrava pelas minhas narinas me sufocava, meu corpo cada vez mais pesado traía minha mente que queria movê-lo, e aos poucos minha consciência deu o sinal final de que estava desistindo de lutar. Era o meu fim. No último sopro de vida que me restava, tive a sensação de ser puxada para a superfície. Acordei em sobressalto puxando forte o ar que tanto me faltara.

- Vai ficar tudo bem, Em, foi só um sonho ruim. Você está segura agora. – estávamos ambos sentados em uma cama enquanto ele me abraçava e fazia pequenos movimentos pra frente e pra trás, me embalando como se eu fosse uma criança indefesa.

Era bom finalmente respirar. E era bom sentir essa sensação de acolhimento depois de tanto tempo.

- Eu estou com você agora, não vou deixar mais ninguém te fazer mal ... – sua voz melodiosa só não era mais carinhosa do que os olhos castanhos que eu virei para encarar.

- Eu estou mesmo aqui com você? – minha voz saiu falhada enquanto as lágrimas não derramadas embaçavam minha visão.

- Sim, está. E eu só sinto muito por não ter chegado até você antes, meu amor. – Samuel deixou transparecer um tom de culpa e ressentimento enquanto tornava ainda mais apertado o enlace de seus braços ao meu redor.

- Eu sonhei tantas vezes com você que é difícil acreditar. - Fechei os olhos e encostei minha cabeça em seu peito, decidida a aproveitar essa sensação de calor e calmaria ao máximo, sendo realidade ou não.

– Eu sei que sua mente deve ter muita coisa para processar agora. Só quero que saiba que você não está mais sozinha e que, se depender de mim, jamais vai ficar novamente. – ele aninhou o rosto no topo de minha cabeça.

- Você me disse isso várias vezes nos meus sonhos... mas em nenhuma delas eu podia sentir esse cheiro de lavanda amadeirada. – senti seu corpo atrás de mim enrijecer na primeira frase e relaxar na segunda, logo depositando um beijo carinhoso na minha bochecha.

- Falando em lavanda, eu estava só esperando você acordar para tomarmos um chá. Você também precisa comer alguma coisa, dormiu por um dia e meio! – disse ele já levantando e estendendo a mão para que eu fizesse o mesmo com sua ajuda.

- Onde estamos? – perguntei levantando e seguindo seus passos.

- Estamos na casa de um amigo, ele concordou em me ajudar a tirar você de lá. Logo você irá conhece-lo. Vou te deixar à vontade para que possa se trocar e lavar o rosto, roupas limpas foram deixadas em cima da cômoda. – disse ele apontando para o móvel onde era possível observar uma muda de roupas.

Apenas concordei com a cabeça e aguardei ele sair para que eu pudesse me lavar e tirar a camisola branca do hospital.

Poucos minutos depois eu estava pronta e saí pela porta que dava a um pequeno corredor iluminado pelo sol da tarde que entrava pelas janela. Decidi seguir pelo direita na direção da voz distante de Samuel que parecia estar conversando com alguém, certamente o anfitrião. Quando adentrei a peça que deveria ser a sala de visitas pude observar Samuel conversando com um homem que aparentava ser uns dez anos mais velho do que ele. Eles estavam sentados de frente um para o outro, um em cada poltrona. Ao perceber minha presença, o homem de cabelos castanhos acobreados virou em minha direção com um pequeno sorriso.