Capítulo 3

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Ao acordar no dia seguinte, tive de explicar o machucado em minha cabeça da mesma forma que Samuel explicou a Paul para não levantar suspeitas. E ainda bem que a reação da família não foi nem de perto o que seria se soubessem que eu havia tido uma crise sonâmbula.

O dia estava extremamente agradável lá fora, então meus irmãos decidiram que iriamos para o lago que ficava a poucos quilômetros da mansão. Era uma caminhada agradável em meio a mata que logo dava para o grande lago onde eles iriam pescar, especialmente Lily que estava animadíssima. Já eu decidi que ficaria sentada encostada em minha árvore de costume para ler um pouco, aproveitar que minha cabeça não estava doendo e que eu tinha tido uma boa noite de sono após o chá de camomila. Perdi a noção do tempo e dos barulhos ao meu redor, estando absorvida pela leitura, foi quando percebo Paul vindo sentar próximo a mim.

- Em, está tudo bem mesmo? – disse ele com semblante desconfiado, afastando uma mecha do cabelo loiro da frente dos olhos com um sopro engraçado. Paul era meio desajeitado, mas uma ótima pessoa, o que me deixava um pouco culpada por mentir para ele.

- Claro que sim. Foi só um susto e uma dor de cabeça de matar. – falei forçando um sorriso.

Estávamos só nós dois próximos à beira do lago, os outros estavam pescando do outro lado e eu podia ouvir as risadas de Lily.

- Eu achei muito estranho ver vocês dois na cozinha ontem e percebi que havia sangue na camisa do Samuel.

- Ora, Paul, o coitado me ajudou a limpar a ferida só isso. Ele estava acordado e estava indo fazer um chá quando me viu.

- Hm... Eu fiquei um pouco preocupado porque o Bertie me contou umas coisas sobre ele e então eu fiquei com o pé atrás. – disse coçando a cabeça.

- Você achou o quê? Que ele havia batido em mim ou algo assim? – eu ri.

- Ah Em, você não leva nada a sério! – sua expressão perdeu a preocupação e ele começou a ficar irritado, então perguntei sobre o que também me deixou curiosa.

- Afinal, que coisas são essas que o Albert contou pra você e não contou pra mim?

- Você não pode falar pra ninguém, entendeu?!

- Quando foi que eu espalhei os segredos de alguém, Paul?

- Tá. É que parece que ele estava vivendo em um mosteiro, sabe aqueles lugares que os homens estudam para se tornarem padres?

- É claro que eu sei, Paul. – falei revirando os olhos.

- Então! Bertie disse que ele foi expulso do mosteiro! Ninguém sabe o que ele fez de errado, mas deve ter sido muuuuuito sério. Então nosso tio enviou ele pra cá, na esperança de que os rumores sobre ele se acalmem e quem sabe ele se estabeleça aqui no interior, porque voltar para a capital vai ser bem difícil.

- O papai sabe disso?

- Sabe. Bertie disse que temos que fazer vista grossa e que não podemos confiar muito nele.

Por um instante observei as três figuras com as varas de pesca, Lily com seu vestido azul e pés descalços não poderia estar mais contente, Albert estava sério mas conversando com Samuel. E esse não aparentava nada uma pessoa digna de ser expulsa de um mosteiro, os cabelos negros rebeldes voavam com o vento e ele conversava amigavelmente com meus irmãos.

- Entendi. Obrigada por me contar, Paul.

- De nada. Vou voltar para lá e te deixar ler.

Depois do almoço estávamos todos sentados na sala de estar, alguns conversando, outros lendo e Paul, obviamente, tocando piano. Fiquei com preguiça de fazer conversa e me dirigi até a varanda para tomar um ar, eu sempre sentia sono após almoçar. Não demorou muito para que eu percebesse Albert parar próximo de mim, descansando os braços na guarda, imitando minha posição.

Mansão KramerWo Geschichten leben. Entdecke jetzt