31 "Raiva"

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Depois da negação, veio a raiva.

Eu sentia raiva de Joe, raiva de tudo o que ele me fez acreditar ao longo dos meses. Raiva de acreditar que ele havia me contado tudo sobre ele, assim como ele havia me dito, raiva de ter sido tão ingênua.

Como eu não pude ter percebido isso antes?

Estava tão na cara. Joe nunca deu a mínima para a doença que tinha, continuando a ir para a escola ao invés de descansar em casa, comendo qualquer comida que lhe desse vontade, sem se importar com a sensibilidade de seu estômago devido aos remédios. Indo em qualquer lugar, sem se importar com sua fraqueza.

Ele sabia que estava morrendo, e não dava a mínima para isso. Como eu não notei isso antes? E por que ele me fez acreditar que teríamos algo?

Por que você quis me enganar, Joe Mallory?

O enterro de Joe foi hoje, e eu não consegui sequer me levantar da cama.

Eu não podia.

Eu não tinha psicológico, nem estruturas para isso, me dói só de imaginar, vê-lo sem vida. Eu não posso vê-lo assim, eu não consigo vê-lo assim, e eu não posso.

Não sei como reagiria a isso. Se teria vontade de estapear a ele, ou se o abraçaria e não largaria mais. Eu não podia vê-lo, mesmo prometendo para ele que o veria quando a semana começasse.

— Lysandra? — Edward entra no quarto, vestido de preto, com uma bandeja nas mãos.

Apesar de eu não ter conseguido ir ao seu enterro, minha família foi, incluindo Edward, que nunca gostou de Joe.

Será que eu sou tão ruim assim, em não ter conseguido ir a um momento desses?

— Você tem que comer, ou serei obrigado a forçar goela abaixo.

— Eu não quero. — Respondo, com o fio de voz que ainda me restava.

— Não precisa querer, basta comer.

— Eu não quero... — Sinto minhas lágrimas voltarem.

— Ei, está tudo bem, beba pelo menos o suco, e uma das frutas, e prometo que não reclamarei mais por hoje.

Relutante, pego o copo de suco, o tomando inteiro de uma vez, e dou uma mordida na maçã.

— Muito bem, descansa um pouco, sei que você não dormiu ainda, se quiser posso até te trazer um remédio.

— Não posso...

— Não pode?

— Toda vez que eu fecho os olhos... Eu o vejo.

O vejo suspirar fundo, e tirar a bandeja de cima da cama, se sentando ao meu lado.

— Vem aqui, sei que não é igual ao da mamãe, mas irei tentar. — Ele bate a mão em seu colo, para que eu deite, e assim eu faço, sentindo seu carinho em meus cabelos.

— Não se preocupe, eu estou aqui.

— Como ele estava...?

— Sinceramente? Ele parecia estar dormindo, sua expressão não estava como a de alguém que sofreu.

Minhas lágrimas já banhavam as pernas de Edward.

— Seja lá o que foi que vocês tiveram, você fez muito bem para ele, então não se culpe por nada, porque você só o ajudou, e deixou seus últimos dias melhores.

Me sinto de alguma forma melhor em ouvir isso de Edward, ele não gostava de Joe, e falar isso para mim, significava muita coisa.

Antes Que Tudo Acabe - LysandraWhere stories live. Discover now