15 "Medicamentos"

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— Quanto tempo irá me punir com esse silêncio? — Falo, assim que saímos do carro.

— Tenham um bom dia, crianças. — Roy diz, em tom brincalhão.

— Ed! — Corro até ele que caminhava até a entrada da escola em passos largos. — Ei, não pode fazer isso, somos parceiros, esqueceu!?

— Me deixe, Lysandra! — Ele se vira raivoso quando eu seguro o seu braço.

O solto, após o seu berro, e seguimos o mesmo caminho até a sala de aula.

Edward ainda estava bravo comigo, e não há como não entendê-lo. Joe pega no nosso pé desde a infância, e eu simplesmente ignorei tudo o que passei todos esses anos, o beijando. Não posso julgá-lo, se ele fizesse o mesmo com alguma garota que eu odiasse, com certeza ficaria uma fera com ele.

Durante todo o dia, não vi Joe em nenhuma das aulas, e nem em lugar algum.

E no dia seguinte, o mesmo, ele não havia vindo, e isso de alguma forma me afetava, e muito. Não deixava de pensar em como ele pudesse estar, e o motivo de não ter vindo, eu já imaginava, e não era nem um pouco reconfortante.

•••

Faziam três dias em que Joe não vinha para a escola. E após entrar em sala de aula, o meu coração quase para ao vê-lo sentado ao fundo, de cabeça baixa.

Um alívio enorme toma conta do meu corpo, sinto minha respiração acelerada, e rapidamente caminho até ele, me sentando ao seu lado.

Ele parece não se importar com a minha presença, já que sequer olhou para mim. Mas eu não me importo, eu queria saber como ele estava, o que aconteceu, tudo.

Não conseguia prestar atenção na aula, sempre desviando minha atenção para Joe.

E não deixo de me culpar por isso, era óbvio que ele não estava nem aí para mim, e mesmo assim eu queria ajudá-lo.

Após o fim da aula, assim que Joe sai da sala, o sigo até o refeitório, tomando coragem para falar com ele.

— O que pensa que está fazendo? Uma escolta para mim? — Ele diz, enquanto caminha.

— O que? Eu só... Queria saber como você está. — Cruzo os braços envergonhada.

— Não importa.

Sempre fofo nas respostas.

— Eu... — Ando mais rápido, o acompanhando. — Não perguntaria se não me importasse.

Eu falei mesmo isso? Só posso estar ficando louca.

Enfim, Joe me olha, por breves segundos, antes de responder.

Parece que ele não esperava ouvir aquilo, tanto quanto eu não esperava falar.

— Só... Pare de me perguntar isso. — Seu olhar era suplicante, e sombrio ao mesmo tempo.

— Por que...?

— Ei, dá pra pegarem o de vocês e saírem logo daí? — Um garoto berra, atrás de nós.

— Porque é só o que eu ouço vinte e quatro horas por dia.

Me sirvo rapidamente, só pegando algumas frutas e um suco de caixinha, seguindo ele, que se senta em uma das mesas afastadas.

Os seus amigos estavam todos juntos, mas ele apenas passou direto por eles, preferindo se sentar sozinho.

— O que houve? Quero dizer... Você faltou por três dias seguidos... — Me sento à sua frente, mesmo sabendo que ele não queria a minha presença aqui.

— Precisei ficar em casa, para receber os novos medicamentos, são mais fortes. — Ele diz, dando de ombros, como se aquilo não fosse nada.

— Medicamentos fortes...? Mas... Isso é bom?

Novamente ele me olha, com o mesmo olhar de quando eu perguntei se estava bem.

— Desculpa... — Observo a sua bandeja repleta de frituras e coisas pesadas. — Não te faz mal comer essas coisas?

Só o fato de estar em tratamento com tantos remédios pesados, ele não devia está aguentando nem tocar nesses alimentos.

— Eu não me importo. Isso aqui. — Ele pega uma batata frita. — Não é nada comparado ao que eu tenho aqui.

Isso me deixava ainda mais intrigada, e até chateada, em como ele não estava nem aí para o seu tratamento, é como se ele não se importasse, come o que quer, continua vindo às aulas, e até a festas.

Eu nunca vi ninguém nessa situação levar isso dessa forma. E os pais dele? Não ligam para o que ele está fazendo com ele mesmo?

— Pare de me olhar assim. — Joe diz, me fazendo sair de meus pensamentos.

Nem percebi que estava encarando ele todo esse tempo.

— Por que você não fica em casa? Quero dizer... Você devia estar se cuidando... — Sinto meu peito doer ao falar isso.

Eu realmente estava preocupada com ele, e não iria mais negar esse fato.

— Esse é o único momento em que eu esqueço que tenho essa droga de doença. — Observo seu maxilar travar ao falar. Já percebi que ele não gostava nem um pouco de falar sobre isso.

Por mais que eu não concorde, eu entendo ele.

— Eu sempre achei que o lugar mais confortável para se estar, fosse em casa. — Falo.

— Não na minha. Prefiro estar nesse inferno, do que me sentir nele, vendo os meus pais chorarem todos os dias.

Ouvir isso me doeu até a alma. Não só Joe, mas os seus pais devem sofrer muito com isso.

— Eu... Nem imagino o que deve estar passando.

— Eles só me permitiram voltar para cá se trouxesse minha enfermeira.

— Enfermeira? E onde ela está?

— Eu não sou tão burro assim, ela sabe se misturar, não anda por aí vestida como tal.

Sei exatamente que isso foi uma indireta para mim, por ter Roy como segurança e motorista, que ainda por cima se veste todo de preto, e armado.

Antes Que Tudo Acabe - LysandraTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon