Capítulo XII

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Abro os olhos devagar, incomodada pela leve claridade que adentra a janela do quarto, tento me mexer, porém sinto um peso sobre meu corpo, me impedindo de fazê-lo com facilidade, abaixo o olhar e me deparo com a minha filha dormindo tranquilamente sobre minha barriga e as mãozinhas agarradas a minha blusa de moletom, não consigo deixar de sorrir ao vê-la dormir, percebendo o quanto assisti-la dormir me fez falta nos dias em que estive longe dela, me recuperando no hospital e agora, tudo o que eu quero é curtir o máximo de tempo ao lado dela.

Eu estava com o corpo dolorido por ficar por muito tempo na mesma posição, mas ver Lizzie dormir, me abraçando com tanto amor, compensava toda a dor. Ela tem dormido comigo todas as noites, desde que voltei para casa.

Recebi alta a três dias, e durante esse período de recuperação estou na casa de Alex e Samantha, devido a necessidade de ficar em repouso a maior parte do tempo para evitar forçar a minha perna, não consigo fazer muitas coisas sozinha. Minha mãe chegou ontem a noite de Midvale, quer que eu vá com ela para casa, assim ela poderia cuidar da minha recuperação  de perto e provavelmente me vigiar também, mas não quero deixar minha vida aqui e nem ficar dependendo de todo mundo pra tudo.

Faço um movimento suave na cama, tomando o máximo de cuidado para não acordar Lizzie, vou me virando devagar até conseguir colocá-la deitada na cama, ela abre os olhinhos rapidamente e se ajeita na cama.

— Ainda é cedo mamãe? — ela pergunta manhosa

— Sim, gatinha ainda é cedo. — deixo um beijo demorado na bochecha dela. — pode continuar dormindo. — falo sussurrando para ela.

— Eu te amo, mamãe.

— Eu também amo você, além das estrelas. — ela abre um sorriso sonolento antes de voltar a dormir.

Com bastante dificuldade consigo me levantar da cama e pegar as muletas para me firmar em pé, tomando todo cuidado para não apoiar a perna direita no chão. A minha recuperação inclui repouso, fisioterapia e consultas com psicólogo, minha volta ao trabalho e a minha antiga rotina parece muito distante agora.

Faço minha higiene diária quando consigo chegar ao banheiro, quando me olho no espelho, vejo os machucados no meu rosto refletidos sobre ele e meus lábios curvarem pelas dores frequentes a cada movimento, tudo para não me deixar esquecer tudo o que aconteceu. Levanto a blusa de moletom até abaixo dos seios, retiro com cuidado a fita que segura as gases do curativo da noite anterior, limpo a área e passo a pomada receitada pela Lena e só depois refaço o curativo.

Lena.

Lizzie conversa com ela toda noite por chamada de vídeo, e em todas elas eu consigo ouvir a voz dela, é o máximo que eu consegui ter depois que recebi alta. Tentei algumas vezes ligar, mas todas elas caíram em caixa postal, Samantha disse que ela tem trabalhado duro para reestruturar o hospital, quando não está de plantão, está no escritório administrando a parte burocrática.

Se não fosse pelo repouso e por estar sendo vigiada pela minha família, sem dúvidas eu já a teria procurado naquele hospital. Passei tanto tempo fugindo de relacionamentos e agora eu pareço uma adolescente, correndo atrás dela, não consigo tirá-la dos meus pensamentos, meus lábios se contraem em um sorriso bobo toda vez que penso ou vejo alguém falando sobre ela, meu coração acelera sempre que à vejo tão perto e fico extremamente feliz ao ver a relação de cuidado e carinho que ela tem com minha filha, ela se importa e se interessa por tudo que diz respeito a Lizzie.

Como não me apaixonar?

Ainda posso sentir o toque quente das mãos dela no meu ombro e pescoço, o beijo que demos naquela noite. — levo meus dedos até os meus lábios, fecho os olhos e deixo as lembranças envolver meus sentidos. — O contato foi suave no começo mas não demorou para se transformar em algo mais intenso, como uma faísca se acendendo quando fica muito próxima do fogo. E mesmo agora, ao relembrar cada detalhe, ainda consigo sentir a emoção pulsante daquele beijo.

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