Capítulo 2 ✿

91 37 26
                                    

_ Você precisa comer, mãe. Ao menos faça um esforço. - Estou com a colher erguida para minha mãe, que logo revira a face negando pela milésima vez. não me lembro desde quando eu consegui a alimentar direito.

Ouço a campainha soar no andar de baixo e me apresso a levantar da cama e dando uma última olhada em minha mãe, que tem seus olhos vidrados na janela ao lado.

Quando alcanço a porta, paraliso antes que minha mão encoste na maçaneta assim que escuto uma voz familiar adentrar o recinto.

Mais que merda de dia!

Vou até as janelas na ponta dos pés e abro um pouco as persianas, olhando quem está logo atrás da porta.

É Meredith. Minha ex-treinadora.

_ May, eu sei que está aí atrás da janela como da última vez. Abra a porta pelo menos para assinar o documento de que você estará fora do próximo campeonato. - Me estremeço quando a escuto e caminho até a porta e a abrindo, vendo sua face parecida com as demais que já vieram me visitar.

Deprimidas.

Ela me olha como se quisesse dizer algo entalado em sua garganta, mas nada sai quando ela abre a boca.

_ Como você está?

_ Sinceramente. Não aguento mais perguntarem como estou sendo que a resposta é óbvia. Entre, por favor. Está fazendo muito frio para ficarmos aqui fora.

A moça de cabelos cacheados entra receosa e se senta no sofá, olhando o lugar parecendo desconfortável com alguma coisa.

_ O que está lhe incomodando? Está parecendo que quer sair correndo daqui a qualquer custo.

_ Não é nada disso. Já adiantando – Ela retira uma pasta da bolsa que a trouxe consigo e me estende umas folhas amassadas e meio sujas. O intuito da pasta não é garantir que as folhas não amassem? _ Preciso que leia com atenção e assine para mim as levar ao supervisor de nossa equipe.

Folheio as frases sem um pingo de vontade e meus olhos logo param em um nome bem específico que eu gostaria que não estivesse ali.

_ A Júlia? É sério que irão colocar ela para me substituir? O mundo todo sabe que ela não agrega em nada e muito menos corre rápido. - Digo com raiva e a mulher me olha dando de ombros.

_ Ou era ela ou colocávamos a Vitória que é ainda pior do que ela. Ah, May. Você não irá mais fazer parte da nossa equipe. Não precisa mais se dar o trabalho de ficar preocupada. Foque em sua saúde.

A moça faz menção de pegar em minha mão, mas logo recua.

Não é possível...

_ Jura que está com medo de encostar em mim? - A vejo encolher seus ombros e já sinto a raiva crescer dentro de mim. Pego uma caneta que por coincidência está ao meu lado na mesa e assino o que é necessário. _ Pronto. Está feito. Se era apenas isso que precisava, peço que saia imediatamente da minha casa e nunca mais coloque seus pés nem na minha calçada novamente. Talvez isso evite de pegar a minha doença.

Ando depressa até a porta e a abro, esperando que ela saia.

_ Eu sinto muito, May. Fico com pena que esteja passando por essa situação turbulenta. - Ela diz andando para fora com a cabeça baixa.

_ Eu não preciso da sua pena!

Bato a porta com força, e assim que ela se fecha, caio sobre meus joelhos, não conseguindo mais ficar de pé.

_ tinha que ser justo agora...

Há semanas que eu consigo sentir que já não estou mais resistente como antes. Tenho sentido fraqueza nas pernas e enjoos constantes. Não me lembro a última vez em que comi uma refeição descente a não ser macarrão instantâneo ou algumas frutas doces. Para piorar, não estou fazendo o tratamento e nem me medicando já que não posso deixar minha mãe sozinha nem que seja por uma hora.

VIVERWhere stories live. Discover now