Capítulo 1 ✿

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 Não sei quando minha vida começou a decair tão drasticamente desta maneira. 

Em um dia, eu estava competindo atletismo contra minhas primas na escola e no outro, estou tentando descobrir qual doença eu possuo com uma infinita lista de exames que eu nem sabia que existia. Balanço minhas pernas para frente e para traz enquanto observo o corredor quase vazio.  

_ May Grace? - Ouço a voz da enfermeira me chamar em frente a porta do consultório e me levanto sem vontade alguma. Minha mãe que está ao meu lado deseja um 'boa sorte' e eu apenas lhe retribuo um singelo sorriso.

Acompanho a enfermeira que me olha como se eu fosse um pedaço de gelo e adentro a pequena e familiar salinha com paletas de cores cinza e branco.

Que deprimente. 

_ Senhorita Grace. Como tem passado?

Ergo meu olhar e vejo Rogério, o clínico que está responsável pelos meus exames, rabiscar alguma coisa em sua caderneta.

_ Não tão bem quanto eu queria. - Me sento na cadeira enquanto o vejo se levantar e ir até a porta, chamando pela minha mãe e ignorado a minha resposta.

Ela entra com o espanto sobre sua face, tomada pela preocupação. Sinto suas mãos em meus ombros, os apertando com força, e eu a olho tentando passar minha calmaria para ela.

_ Grace, você fez todos os exames que eu te pedir, não é mesmo? - Eu assinto em confirmação e o olho, buscando algum requisito de milagre em seus olhos sobre minha saúde. Mas não é isso que acabo encontrando. _ Pois bem. Infelizmente, Senhora Chris, sua filha está com uma doença que não temos muitos registros sobre o que te fato ela possa ter.

_ O que? Mas como isso é possível?

_ Eu não sei lhe dizer ao certo. - A voz do homem falha a minha frente e as unhas de minha mãe estão fincadas em meus ombros, me fazendo sentir dor.

_ Mas há cura, não é?

Silêncio é o que predomina na sala depois dessa pergunta. O ecoar que sai da garganta de minha mãe me estremece e suas unhas se suavizam de meus ombros. Eu posso sentir sua fraqueza. E eu... Minha cabeça está completamente vazia e já não consigo escutar muito bem o que o médico diz a respeito.

_ O que temos no momento para sua filha, é o tratamento à base de remédios e quimioterapia. Já lhes adianto que a sua vida, Senhorita Grace – Ele coloca sua mão sobre a minha e o volto a escutar novamente, sem olhar em seus olhos. _ Nunca mais será a mesma. Sei que no início será difícil para você tentar aceitar, mas com um tempo, você conseguirá se acostumar. O tratamento pode estender sua expectativa de vivência.

_ Quanto tempo me resta? - Minha voz quase não sai e minha mãe logo se abaixa ao meu lado, virando meu rosto para encará-la.

_ Não diga essas coisas, meu amor. Você irá viver bem mais do que pensa e...

_ Um ano, Senhorita Grace. Foi o tempo que os outros dois primeiros pacientes tiveram.

Assim como um copo se quebra quando cai, assim é a reação que eu e minha mãe tivemos. Mesmo assim, reações opostas. Enquanto eu não consigo esboçar sentimento algum, minha mãe se desespera. Gritando e questionando a Deus do porquê tamanha condenação para a sua única filha. Vejo duas enfermeiras entrarem no local depressa para tentar conte-la enquanto a aplicam um calmante, que logo faz efeito quando percebo sua voz ficar baixa.  

Coloco minhas mãos sobre a cabeça, tentando assimilar um pouco que seja essa verdade, mas não sei o que pensar. O choro que está em minha garganta não quer sair, nem ao menos lágrimas meu corpo é capaz de produzir nesse momento.

VIVERWhere stories live. Discover now