O tronco ficou particularmente apertado aos seus pés. A parte superior da madeira se apertando, se quebrando… Um frenesi se iniciou. Dandara juntou todas as forças em seus braços e se arrastou para a luz no fim do túnel.
Tudo desmorona em suas costas. Poeira e insetos caem sobre seu corpo nu, e a serpente prova ser tão rápida quanto ela ao fugir. Os estalos se transformam em estrondos, e a madeira em suas nádegas começa a esmagá-la.
Dandara passa, mas a madeira em sua cintura se aperta... e a saída está tão perto. Tão próxima…
Esmagada é uma forma boa de morrer? Ela crava as unhas na madeira e se joga para frente. Não! Esmagada lentamente é péssimo!
A cobra esmagou, esmagou e esmagou.
Dandara pula para fora, rola na grama e corre. E então, um bote é dado.
A serpente salta no ar, sua boca se abre de forma medonha e captura sua presa…
Pelo calcanhar.
Os pulmões da escrava se enchem rapidamente de ar, e sua boca se abre tanto que os lábios doem quando um grito ensurdecedor escapa. Agudo, intenso e sonoro. Os pássaros próximos levantam voo e as cristas da serpente se remexem em resposta.
Toda a floresta deve ter ouvido... até mesmo Alexandre. Por um segundo, a serpente fica imóvel. Paralisada.
O silêncio é quebrado quando, da mata, um rugido soa grosso e feroz.
É tudo o que Dandara precisa para chutar a cabeça da serpente e se puxar para longe, mesmo que isso signifique deixar um de seus pés para trás. Não foi necessário tal drástica medida. O aperto da criatura já estava frouxo, mas a força que a escrava usou a fez derrapar colina abaixo.
A serpente não a segue.
Outra coisa vinha em sua direção.
Dandara rola, rola e então cai em um barranco rochoso.
Tudo se apaga. De novo…
Por um instante, toda a luz e o sol desaparecem. O chão se torna uma fonte de conforto. As folhas, as flores e a grama são tão convidativos como as escassas camas que Dandara já conheceu. Seus músculos estão exaustos... e seus olhos pesados. No entanto, uma dor latejante se espalha por seu corpo gradualmente à medida que ela abre os olhos.
A luz nunca queimou suas órbitas com tanta intensidade. Seu crânio pesa como uma pedra amarrada a um corpo feito apenas de penugem. Ela suspira... e seu peito dói. Ao tentar mover os braços, seus ossos protestam contra o mínimo movimento.
Levante-se! Sussurra para si mesma, mas seu corpo não obedece.
Seus ouvidos também parecem falhar. Entre chiados, uivos e sons desconhecidos, Dandara pressente a aproximação da serpente. Seria a terceira? Ou a mesma?
E lá está ela... enroscada em uma árvore, descendo lentamente o barranco. Sem pressa, calma e confiante na letargia de sua presa.
Levante-se! Fique de pé. Corra!
No entanto, Dandara permanece imóvel. Seu calcanhar dói intensamente... Provavelmente quebrou todos os ossos na queda. É um milagre — ou talvez uma maldição — que sua cabeça não tenha sido esmagada contra o chão. Seria uma morte indolor. Em paz. A serpente apenas se aproximaria para engolir sua insignificante carcaça.
Mas a vida e o destino são cruéis. Em vez do peso esmagador que acabaria com tudo, Dandara está viva, e a serpente se aproxima cada vez mais. Ela será engolida viva, talvez mastigada por aqueles dentes afiados. Será que morrerá sufocada no estômago da víbora?
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ACASALAMENTO: Lua Cheia
WerewolfA era da escravidão no Brasil não é fácil. Dandara, uma negra, sabe muito bem disso. Sua rotina... angustiante. Ela estava a bordo de um navio negreiro quando uma tempestade irrompeu e transformou o oceano. Trovões, raios... parecia que o mundo iria...
C A P Í T U L O 11
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