Não consigo mais voltar para junto de Celine. Não consigo ficar mais parada. Sinto uma carga de nervosismo em meu corpo que me deixa profundamente estressada e ansiosa. Não sei quanto tempo fico andando em círculos, mas a minha mente tinha vários pensamentos desconexos, inúmeros sentimentos explodem dentro de mim, cada um pior e letal que o outro.

Não posso mais ficar parada!

Usando da amizade, a residente me deixa acessar o sistema do hospital através do tablet. Primeiro, vejo a situação do Chris, soltando um suspiro exasperado, continuava da mesma forma. Depois, procuro o nome de Freen... Oh, merda! Overdose por heroína, o nível alcoólico em seu sangue estava altíssimo. Vejo os procedimentos feitos com ela... Lavagem estomacal, administração de um antagonista para o bloqueio da heroína, hemodiálise para filtrar o sangue e reposição de eletrólitos. O quadro dela era considerado estável.

– Dra. Rebecca, preciso do tablet de volta. – a residente pede baixinho, quase aflita.

– Eu ficarei com ele. – os olhos da residente se arregalaram com horror e medo. – Não se preocupe, vá até a Angelina e diga que eu mandei lhe dá um tablet novo. Ela não vai questionar e você não ficará em maus lençóis.

A residente prontamente faz o que eu digo. E eu fico atualizando o tempo todo os prontuários online de Chris e Freen... Chris continua da mesa forma, e Freen na sessão de hemodiálise. Ela faria por doze horas.

Penso em retornar para a recepção, mas tem uns familiares chorosos sentados esperando noticiais, por algum motivo, Celine os olham com estranheza. Buscando um lugar calmo, e conhecendo esse hospital... Adentrei na capela que como imaginei, estava quase vazia, se não fosse um homem em frente ao altar e de costas para mim. Sento-me em silêncio no terceiro banco e fico olhando a imagem de Santa Maria.

Era como se ela me olhasse de volta...

– Rebecca?

Ergo a cabeça e fico surpresa ao me dá conta de que o homem que estava no altar era o Padre André.

– Padre André, o que o senhor está fazendo aqui? – pergunto um pouco confusa.

Ele sorrir levemente.

– Visitando a casa de Deus.

– Eu achei que a sua capela era no centro de Seattle. – franzo o cenho, até porque essa capela do hospital era apenas para confortar os desesperados, já que nem missa tinha.

– E é. – ele se senta um banco a frente, e me encara com sua eterna tranquilidade. – Como você está? Parece bem abatida.

Padre André me conhecia desde que eu era uma bebê. Ele que tinha feito o meu batismo, sempre acompanhava a minha mãe aos domingos para a capela em que ele pastoreava, e infelizmente, ele que fez a missa fúnebre da mamãe. Desde então, nunca mais o tinha visto. Estava um pouco mais velho desde que eu me lembro.

– Péssima. O meu filho está entre a vida e a morte, e... E... A mulher que eu amo está inconsciente. – os meus olhos enchem de lágrimas. – Eu... Eu sinto que estou na beira do fim.

– Oh, minha filha. Não diga isso, para Deus nada é impossível. Tenha um pouco a mais de fé Nele que tudo vai se resolver. Ás vezes, essas coisas acontecem em nossas vidas para nos avisar que estamos percorrendo por um caminho errado e nos dar uma segunda chance para fazer tudo certo.

Suspiro, sinto vontade de dizer que minha fé está sendo triturada em um ralo, mas opto pelo silêncio. De alguma forma, ou jeito estranho, a sua presença me dá uma leve paz. Parecia tão fácil acreditar naquilo que ele me dizia...

– Acho que nada tem mais solução... – murmuro mais para mim do que para ele.

– "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.". 1 João 1:9

Olho com significância para o padre a minha frente. Suas palavras eram meio confusas para mim, mas aos poucos, a compreensão me vinha.

– O senhor está visitando alguém aqui? Por que não acho que tenha se deslocado da sua capela para ver se as velas do alto daqui estão acessas.

Padre André rir por uns segundos, então, a sua expressão entristece.

– Uma amiga passou muito mal e o seu contato de emergência sou eu.

– O que ela teve?

– Overdose. –  suspirou com pesar. – Ela estava indo tão bem, frequentando as reuniões do AA, com força revigorante, dava para ver a força de vontade refletindo nos seus olhos, sabe? Quando acolhemos as pessoas em nosso grupo, ficamos cientes de que a qualquer momento a pessoa pode cair em tentação, mas ela... Ela estava tão firme e obstinada que quando o meu celular tocou, achei que fosse qualquer um, menos ela. Não sei o que aconteceu para fazê-la cair dessa forma.

– Overdose? – pergunto atônita.

– Sim, por heroína. Ela misturou a droga com álcool... – sorriu tristemente. – O resultado já sabemos.

Não precisei procurar mais nenhum outro paciente com overdose de heroína, porque eu sabia que isso não tinha acontecido. A verdade estava na frente dos meus olhos.

– Há quanto tempo a Freen estava frequentando AA? – pergunto quase com a voz estrangulada.

– Então, você conhece a doce Freen. – balanço a cabeça em positivo. Ele sorrir, complacente. – Faz uns dois meses que ela frequenta, o grupo parecia estar a renovando, até estudar para exercer a profissão ela estava e...

Não o escuto mais. Não tem nada para ser ouvido. Dois meses! Tudo fazia sentido... Ela não surgia mais embriagada ou com bafo de onça. Parecia mais ativa, e também mais feliz, suas pequenas grandes mudanças que tanto foram ignoradas por mim. A sua busca por rendição...

Ela estava indo bem, Padre André disse. Agora ela tinha decaído e de maneira cruel. Minha mente é enchida pelos últimos acontecimentos... Eu chegando no hospital enlouquecida, a bofetada em Freen, as palavras que jorrei em cima dela.

"Porque não se mata de uma vez e poupa-nos de sua presença?"

Minha boca amarga ao me lembrar das palavras pronunciadas da minha própria boca. Ela tinha seguido o meu conselho, ela tinha tentado se matar por minha causa. Sinto-me mais doente, o meu estômago esmurra e sinto a bile subindo pelo meu esôfago e se prendendo no início da minha garganta, enquanto, o meu coração vai se desfazendo e um dedo imaginário aponta para mim, gritando que eu sou um monstro.

Á realidade cai em meu colo como uma bomba. As consequências dos meus atos. Minhas ações voltando para mim, o lixo de ser humano em que me transformei. Eu não sou mais a mesma, eu não conheço mais quem eu sou, eu...

O tablet vibrou em minhas mãos e quando olhei, meu coração quase parou por uns segundos ao ver um alerta no prontuário do Chris. Levanto-me ás pressas, sob olhar assustado do Padre André e corro em direção á UTI, sem me importar de que nesse momento eu não era médica, mas apenas uma acompanhante. As lágrimas caiam em minha face.

Oh meu filho...

El Sabor De Lá Venganza { FreenBecky }Where stories live. Discover now