Capítulo - 41

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    Freen Narrando


Acordei com um dedo me tocando com insistência. Balanço o meu rosto para afastar aquele dedo chato, mas ele continuava a me importunar. Da minha bochecha vai para o meu nariz, mexo o nariz que causa cócegas, depois bato no dedo. Escuto uma risadinha divertida.

Abro os meus olhos querendo me matar quando a luminosidade machuca as minhas íris. Abro e fecho os olhos diversas vezes até me acostumar com a claridade. Minha cabeça parece que tem um chumbo em cima, ainda me sinto tonta e tenho quase certeza de que a qualquer momento vou morrer. É isso, a minha morte.

Ou não, já que escuto novamente a risadinha. Viro a cabeça na direção daquele riso, e vejo o Chris sentado no sofá, trajando roupas esportivas. Minhas costas reclamam demais. Oh droga, além de dor de cabeça, ainda tem a bendita dor nas costas.

– O que estou fazendo aqui? – pergunto para ele desnorteada. Arrisco me sentar, sinto todo o meu corpo reclamando.

– Não sei, você estava aí dormindo, roncando mais que uma porquinha. – rir. – Você é muito bonita, menos dormindo.

– Cara, você sabe como elogiar uma garota, vai arrasar quando estiver mais velho. – ironizo, tombando a cabeça para trás. Por que tão pesada?

Ele apenas rir.

Tento sorrir, mas minha cabeça lateja mais ainda, massageei as minhas têmporas, tentando amenizar uma dor que só iria passar com aspirina e um banho de cabeça. O que eu tinha feito?

A minha mente vai me trazendo lembranças da noite anterior. Depois que sair da casa dos meus pais, sentindo-me miserável e desprotegida, busquei a única coisa que me trazia conforto, o álcool, entrei no bar... Depois imagens destorcidas, elas surgem até uma que estou colocando um comprimido na boca e depois, tudo some...

Ah, merda!

– Chris, vamos! – escuto a voz de Rebecca. Ela está bem arrumada, e com o semblante fechado. Me olha com tanta raiva que me encolho um pouco. O que eu tinha feito a ela para variar?

– Bom dia Rebecca.

– Boa tarde você quer dizer. – abriu a sua bolsa. – Aqui, procure alguma coisa para fazer ou vá encher a cara como sempre, mas não quero ver o seu rosto mais hoje.

Ela joga umas cédulas de dólares na minha cara.

– Tchau Freen... – Chris murmurou, se levantando.

– Tchau campeão.

Rebecca segurou na mão de Chris e saiu com ele, deixando o seu rastro de perfume, sem nem ao menos me olhar pela última vez. Levanto-me bem tonta ainda e cambaleio para o meu quarto. Guardo o dinheiro, depois vou tomar um banho, me sinto melhor. Olho no relógio, é quase dezoito horas. Por quanto tempo fiquei apagada? E o estranho é que Rebecca não me acordou.

Visto uma roupa simples, porém, confortável. Pego o dinheiro que Rebecca me deu, e saio da mansão. Decido pilotar um pouco, sempre me faz bem. Acabo indo na casa dos meus pais. Bato na porta e quem abre é a Rose que me olha dos pés à cabeça.

– O que quer?

– Ver os meus pais.

– Eles não querem ver você. Pode ir embora.

– Por favor, Rose. É rápido, eu só quero falar com eles e...

Eliana gargalhou alto.

– O que você está pretendendo? Vir mora aqui depois que Rebecca te expulsar da mansão? Porque esse interesse pelos seus pais, acredito que é tudo, menos genuíno.

– Rose, eu não devo satisfação da minha vida a você e não me importo o que pensa sobre mim, se você quer saber. – falo sério. – Só quero ver os meus pais mesmo.

– Eles não querem te ver, garota. –  diz incisiva, olhando-me com nojo. – Pode parar com esse teatrinho, não acreditamos em você.

Sinto vontade de chorar. Ninguém acredita em mim, ninguém acredita em minha mudança. É como se eu estivesse dando vários murros em ponta de faca. Eu quero gritar que olhem pra mim e escutem o que eu estou dizendo, que prestem atenção em minhas atitudes, mas eles não olham, eles não me ouvem. Sempre me olham com desconfiança, com rejeição. Sinto o meu peito queimar em uma dor latejante, porque eles não enxergam o que eu estou me tornando? Por que ninguém me dá uma chance?

Nem Rebecca, nem os meus pais.

A sensação é que jamais terei redenção e isso me deixa muito claustrofóbica. Sabia que o perdão não seria fácil, mas também nunca imaginei que seria difícil ou uma ilusão da minha cabeça. Será que o que fiz á eles foi tão destruidor a um ponto de que o perdão é nulo?

– Oh, agora vai chorar? – Rose debocha ao ver uma lágrima que desliza pela minha bochecha. – Você é mesmo uma manipuladora, acha mesmo que umas lágrimas de crocodilo vão convencer?

Rapidamente limpo a lágrima, mas em vão, já que as outras começam a cair. Ter a indiferença dos meus pais é demais para suportar. Eu nunca tinha percebido antes de que eles eram as únicas pessoas que me amaram sem esperar nada em troca, seguido de Rebecca. Eles me amaram e se doaram por mim, mas a minha imaturidade e ganância não me fez ver tamanho sentimento.

– Rose... – respiro fundo antes de continuar com os olhos brilhando em lágrimas. – Sei que é difícil de acreditar, mas eu não estou aqui com segundas intenções ou manipulações. Eu estou aqui sendo eu mesma, de coração aberto, de alma aberta, só quero a oportunidade de consertar tudo com os meus pais, de ser a filha que eles tanto sonharam, por favor, não tire isso de mim. – imploro com a voz baixinha.

Ela me olha por uns segundos, a acusação e julgamento sempre presente em seu olhar, o que me deixa um pouco retraída.

– É tarde demais para isso. –  responde friamente. – E não é apenas eu que acho isso, mas os seus pais também. Por tanto, não os incomodem mais. Como deve saber, eles tem problemas de saúde e não podem se aborrecer, já causasse muito mal a eles, deixo-os em paz.

– Eu não vou desistir dos meus pais, Rose. – olho-a firmemente. – Não vou cometer mais esse erro, vou reconquistá-lo, querendo você ou não.

Á porta batida na minha cara foi a minha resposta. Soluço baixinho, sentindo a mesma sensação de quebramento de ontem. Dou a volta na casa até chegar no quintal, na esperança de encontrar os meus pais lá. Eles não estavam. Abro a cerquinha, passo pelo jardim bem cuidado e olho pela porta de vidro, mas não vejo absolutamente nada. Não sei quanto tempo fico olhando para dentro com a esperança de que ao menos, os veriam de longe.

Isso claramente não acontece.

Volto para a minha moto com a sensação de esgotamento, sinto que estou chegando cada vez mais no meu limite. Piloto sem destino até que paro na frente de um bar. Ironicamente, na frente do bar tinha uma igreja. Fico parada no encostamento, olhando de uma para a outra. Alguém sai do bar, e o cheiro da cerveja me atinge em cheio, atiçando os meus sentidos até que desço da moto e escolho o lugar para onde vou...



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Será que Freen já merece ser perdoada? E onde será que ela entrou, no bar ou na igreja? 

El Sabor De Lá Venganza { FreenBecky }Onde as histórias ganham vida. Descobre agora