Occhiolism.

647 83 107
                                    

Olá, meus amores.

Dessa vez vim conversar com vocês antes de iniciarem o capítulo.

Tô amando essa ansiedade de vocês por mais e por isso, estou postando mais uma atualização hoje.

Esse capítulo é do caralho e eu espero que gostem.

Beijocas e até mais. <3


***********************

POV de Alane

Occhiolism (n.): a consciência da pequenez da sua perspectiva.

Eu sempre achei que a parte mais difícil da vida fosse "crescer", ter responsabilidades adultas e priorizá-las. Entretanto, um mês em Harvard havia cravado na minha essência, uma placa de letras gigantes com a revelação de que a parte mais difícil da vida é aceitar a si mesmo.

Uma das fases mais difíceis do processo de ser um ser humano é aquela onde você tem que se aceitar. Magro, alto, gordo, baixo, infantil, maduro, mentiroso, sincero demais, insuportável, escrachado, influenciável, inteligente, burro, preguiçoso, não comprometido, comprometido demais, fofoqueiro, omisso, atrasado, "certinho", desleixado, medroso, gay, "bicha", "mulher macho", lésbica.

As coisas sempre haviam sido muito fáceis, muito claras, para mim. Eu era Alane Dias, fruto da união de um empresário bem sucedido com uma filha de pastor. Eu ia à igreja todos os domingos, ia à uma boa escola, tinha "paixonites" pelo capitão do time de futebol, estudava (porque gostava) e estava tudo muito confortável para mim. Eu não tinha consciência alguma dessa parte complicada da vida. Chegou para mim como uma bala perdida, um terremoto sem aviso, uma erupção espontânea, um telão gigantesco de LED no meio da quinta avenida, estampando a notícia: "Alane Dias, você é lésbica", acompanhada de explicações para tudo o que eu ainda não entendia em mim.

Era como se eu estivesse sendo jogada na minha própria cara, com força; como se houvesse um outro lado de mim despertando apenas naquele momento e estivesse gritando com a boca colada no meu ouvido: "é isso o que você é, está na hora de viver de verdade". Então, era de se esperar que nesse ponto específico eu estivesse entrando em estado de pânico. Era de se esperar que, como todo mundo faz, eu tenha tentado fugir.

O magro tenta engordar porque todo mundo diz que ele está magro demais. O gordo diz que vive de dieta porque todo mundo diz que ele come demais. O baixo dá desculpas hormonais para sua estatura, o alto faz o mesmo. O infantil tenta ser maduro, o maduro esconde sua maturidade pra não ser taxado como chato. O preguiçoso finge que não é preguiçoso, porque estamos na "geração saúde" e a moda é a disposição. O filho desleixado finge ser aplicado, mas na verdade odeia estudar. O gay tenta não ser gay. A lésbica tenta não ser lésbica. E no final, estão todos tentando ser exatamente quem não são. E eu, por um momento, afundei-me em negar o que brilhou instantaneamente como verdade dentro de mim, desde a primeira vez em que o assunto havia surgido na minha mente: eu era lésbica.

"Certo, e agora? O que eu faço?", perguntei-me mentalmente, mexendo as pontas dos dedos entre a testa e o cabelo, enquanto estava de cabeça baixa, olhando para o livro sobre a mesa, mas sem realmente ler sequer uma vírgula do que estava escrito ali.

O clima em Cambridge começou a esfriar mais do que as roupas de outono costumavam suportar e o aquecedor daquela biblioteca, com certeza, não estava ligado, ou eu estava com algum desequilíbrio na minha temperatura corporal. O dia estava nublado, o que, brilhantemente, combinava com a iluminação da biblioteca, criando uma sensação tão forte de aconchego que, ainda que estivesse frio, eu não sentia a mínima vontade de sair dali. Fernanda havia sido absolutamente brilhante na construção daquele edifício, até mesmo em detalhes como aquele, que usualmente passavam desapercebidos da atenção da maioria dos arquitetos.

Wonderfall - Fernanda e Alane.Where stories live. Discover now