Selcouth.

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POV de Alane

Selcouth (adv.): desconhecido, raro, estranho e maravilhoso.

"O que está acontecendo com meu corpo?", pensei ao me dar conta dos meus músculos se contraindo em resposta ao olhar invasor de Fernanda.

- Droga. - Sua voz soou baixa e fraca. - Você arruinou a minha sophrosyne.

Então, o mundo se calou.

Sua mão tocou o meu rosto e instantaneamente meus sentidos desligaram-se para o resto mundo, só funcionavam para ela. Meus olhos só enxergavam Fernanda, meu olfato só distinguia seu cheiro, meu tato só sentia seu toque.

"Eu preciso me controlar. Eu não posso ser lésbica. Isso é errado. Eu não posso ser...", pensei. "Não importa, a mão dela é tão...tão...".

Seus dedos tocaram tão delicadamente meu rosto que em qualquer outra situação, se fosse qualquer outra pessoa me tocando daquele jeito, eu mal poderia sentir. Entretanto, o toque de Fernanda, embora fosse suave, estava-me fazendo tremer.

Seus olhos não desgrudaram-se dos meus e por mais que a minha vontade de desviar o olhar fosse grande, maior ainda era a minha vontade de olhar eternamente o seu rosto, seus traços profundos e suaves... seus láb...

- Por que está tremendo? - Ela perguntou, retirando a mão do meu rosto e eu olhei para baixo imediatamente, cedendo à timidez.

- Eu não sei... - Confessei, ouvindo a minha própria voz sair fraca demais e amaldiçoando-me por isso. - O que quis dizer sobre eu estar abalando a sua sophro...so.. - Fiz uma careta tentando pronunciar a palavra que ela havia dito.

- Sophrosyne. - Ela me ajudou.

- Isso, sophrosyne. - Repeti, tentando memorizar a pronúncia daquilo.

Fernanda continuava a me olhar da mesma maneira que me olhava da primeira vez em que conversamos, nos corredores das salas de pranchetas da HGSD. Parecia querer me engolir, parecia querer me partir ao meio e mergulhar dentro de mim. E eu continuava a sentir estrelas se chocando e explodindo no meu peito cada vez que ela me olhava.

A mulher soltou algo parecido com um suspiro e com o olhar intrigado, como se discutisse com ela mesma, ainda me olhando, respondeu.

- Eu quis dizer, literalmente, que você está destruindo a minha paz de espírito. - Ela disse em um tom ameno. - Eu tenho perguntas a seu respeito e não consigo respondê-las. Eu preciso das respostas e só você pode me dar essas respostas.

"Merda!", exclamei mentalmente. "Como eu vou dar à ela respostas que eu ainda não consegui dar nem para mim mesma?".

Era evidente que eu tinha total consciência de que eu devia respostas para a minha professora, afinal, eu havia lhe dado um beijo sem mais nem menos e da mesma forma eu havia desaparecido de seu carro cinco segundos depois. Eu sabia que lhe devia respostas, mas eu não tinha resposta alguma.

- Eu não sei se... - Tentei começar a falar a respeito.

- Por que você me beijou, Alane? - Ela me interrompeu, ignorando totalmente a minha intenção de falar.

Foi direta. Objetiva. Foi mulher.

A tempestade de pensamentos que vieram à minha cabeça como resposta à pergunta dela foi tão intensa e tão cheia de fatos que eu não queria aceitar como verdades que eu travei outra vez. Apertei os dentes com força uns nos outros, tentando dissipar aquela enxurrada de palavras e frases que eu me recusava a dar como resposta para ela e principalmente para mim.

Wonderfall - Fernanda e Alane.Where stories live. Discover now