Alexithymia.

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POV de Alane

Alexithymia (n.): A dificuldade em descrever sentimentos para outra pessoa.

- ISABELLE! - Gritei, jogando-me de costas na porta do quarto com todo o meu peso, fazendo-a bater com muita força e consequentemente fazendo muito barulho.

Minha amiga foi tomada por um susto tão grande que virou-se na cama em desespero e acabou caindo no chão.

- EU SOU LÉSBICA. - Dei outro grito abafado, sem nem me importar com o fato de que minha amiga estava caída no chão, me olhando como se eu fosse um espírito do mal, pronto para possuir seu corpo.

A minha respiração estava pesada e eu sentia meus joelhos cada vez mais fracos. A minha cabeça estava girando tanto quanto as lâminas de um liquidificador ligado na potência máxima. Eu não conseguia formar pensamentos coerentes. Tudo estava passando pela minha consciência como um raio e eu não conseguia entender nenhuma vírgula do que se passava na minha cabeça. O único pensamento que era claro era: "eu sou lésbica". A sensação que eu tinha era de estar vomitando aquele pensamento, como se estivesse engasgado em mim e fosse tão grande que eu não conseguia parar de colocar para fora.

Minhas pernas cederam à fraqueza e ao desespero emocional que emanava por todo o meu corpo e eu escorreguei, porta abaixo, batendo o bumbum no chão com força, tal foi o tamanho do peso com que deixei meu corpo cair.

Por instinto, Isa levantou-se em um pulo e correu até mim quase sem realmente levantar-se completamente.

- AI MEU DEUS, ALANE! - Ela exclamou, ajoelhando-se no chão com tanta pressa e falta de zelo com o próprio corpo que o som do choque de seu joelho com o piso foi um estalo. - O que aconteceu?! - A minha amiga perguntou-me, segurando o meu rosto com as duas mãos e me forçando a olhá-la. - Eu achei que tivesse desmaiado! Meu Deus! - Seu tom melhorou quando percebeu que eu estava de olhos abertos, mas ainda havia tanta preocupação em sua voz que por um momento eu consegui sentir alguma coisa além do congelamento causado pelo pânico: culpa por ter assustado tanto a minha amiga.

Passou tão rápido quanto veio. O pensamento avassalador que tomava conta de cada molécula minha veio outra vez, como um tsunami: destruidor, impiedoso, enorme, consumidor.

- Eu sou lésbica. - Minha voz saiu tremida e baixinha. Meus dentes chocavam-se uns nos outros a cada tentativa fracassada de emitir um som coerente.

Todo o meu corpo tremia. A origem dos tremores eu não sabia se era o meu coração ou o meu estômago, mas àquela altura eu desconfiava que os dois fossem uma só coisa. Não duvidaria nada se tivessem se unido.

- Você está muito gelada, Alane! - Isa exclamou outra vez, ignorando o que eu havia dito, tocando em minha mão e em seguida, em minha testa.

Seu olhar era alarmado em preocupação e eu queria dizer à ela que eu estava bem, que ela não precisava se preocupar, mas a verdade é que eu não estava nada bem. Eu tinha um terremoto, abalando todas as minhas estruturas, acontecendo dentro de mim naquele exato instante.

- Olhe para mim, Alane. - Falou em um tom mais ameno, segurando o meu rosto com as duas mãos e assim, eu a olhei. Ela estava tentando se acalmar para me acalmar, eu percebi em seu olhar. - Você precisa respirar fundo e se acalmar. Eu não sei o que aconteceu pra você ficar assim, mas antes de qualquer coisa, você precisa amenizar esse turbilhão dentro de você. Certo? - Ela disse, olhando no fundo dos meus olhos. Eu apenas concordei com a cabeça. - Ok, eu vou buscar um copo de água para você e eu quero que, enquanto faço isso, você respire fundo e tente não pensar no que está pensando agora, seja lá o que for. - O polegar da minha amiga deslizou pela minha bochecha. - Acha que consegue fazer isso? - Ela perguntou e eu acenei positivamente com a cabeça outra vez. - Ótimo, muito bem. Eu já volto.

Wonderfall - Fernanda e Alane.Where stories live. Discover now