✩ | ONE - 📸

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MINHA FICHA AINDA NÃO TINHA CAÍDO e acredito que só fui perceber que estava embarcando num voo direto para Paris quando vi, pela janelinha do avião lotado, aquele monte de construção abaixo de mim. Tipo, caramba, eu deixei meus pais, meus amigos e minha casa para trás, apenas para chegar até aqui e ingressar numa das melhores faculdades do país — o que não é pouca coisa, convenhamos.

Belas Artes sempre foi meu sonho desde a adolescência, acho, ou desde o momento em que meu pai me deu uma câmera canon (que mais tarde eu colei trocentos adesivos da hello kitty), no meu aniversário de dez anos e descobri que amava fotografar. Desde então, pesquisei incansavelmente sobre diversas faculdades de artes até achar o motivo da minha vinda não-repentina para cá: A Academia e Faculdade de Belas Artes em Paris.

Eu estava parada perto da área de desembarque, com meus braços abarrotados de malas, Conan Gray tocando nos meus fones e esperando ansiosamente por Kazuha Nakamura —minha melhor amiga— vir me buscar com seu carrão luxuoso.

Kazuha vem de uma família podre de rica, assim podemos dizer. Seus pais tem casas e mais casas espalhadas pelos cantos do globo, inclusive em Seul, onde eu nasci e cresci durante boa parte da vida. Desde então, Zuha e eu nunca perdemos o contato e, de vez em quando, ela até viaja para fazer uma visita básica e atualizar as mil e uma novidades que aconteciam dentro do seu ramo familiar.

—— Vai esperar a manhã toda aí em pé, Pupu? ——ouvi Kazuha perguntar, enquanto estacionava o seu carrão no local apropriado. —— Até a Sakura já chegou, e olha que ela tem um baita medo de avião.

Revirei os olhos e sorri, Pupu, meu apelido desde pequena (que eu nunca admitiria, mas amo esse apelido). Não posso negar, estava com uma baita saudade dessa japonesinha bailarina.

Colocamos as minhas inúmeras malas no bagageiro e nos preparamos para uma viagem que, de acordo com algumas — lê-se muitas — pesquisas sobre o tempo médio do aeroporto até a faculdade, duraria em média uns vinte minutos.

—— Zuha, as divisões do quarto já estão feitas?

—— Estão e, infelizmente, não consegui colocar a Kkura no mesmo dormitório que o nosso. A notícia boa é que a Yunjin estará lá e vocês poderão se conhecer! —— a japonesa falou animadamente, afinal não havia motivos para reclamar já que uma regra era clara: a primeira pessoa a chegar no dormitório pode escolher em qual quarto ficar e, como são cinco pessoas em um dormitório onde tem dois quartos em dupla e um solo, uma delas fica com o quarto maior, digamos assim.

Segurei um suspiro de alívio. Não me leve a mal, mas tem dias que Miyawaki Sakura vira a noite com um energético em mãos e em ligação com alguém, jogando algum daqueles joguinhos de computador que tanto é viciada. E, confesso, não estou afim de ver amassos todos os dias quando acordar ——céus, como as japonesas conseguem ser, ao mesmo tempo, melosas e um ótimo casal.

—— Já estava na hora de conhecer Yunjin, espero que me dê bem com ela ——murmurei, abrindo a mochila em meu colo e retirando dela um exemplar de "O retrato de Dorian Gray" super-mega-hiper velho apenas para passar o tempo.

—— Não acredito! você ainda tem esse livro?! ——Kazuha perguntou, rindo em seguida. —— Meu pai deu dois desses, um para mim e outro para você de natal, lembra? Eu tinha pedido uma sapatilha nova, foi decepcionante.

Eu ri junto a ela. Os pais de Kazuha sempre tentavam empurrar livros e mais livros para ela ler e aperfeiçoar seu vocabulário, mas o seu maior desejo era dançar balé— era a corda que movia-lhe e a guiava em um ponto escuro. no meu caso, sempre amei fotografar e sempre tive interesse na literatura antiga, então era um lucro para mim toda vez que minha melhor amiga ganhava um novo livro.

✩ | 𝓒oexistir; purinz.Where stories live. Discover now