012; - Visita inesperada.

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QUANDO AURORA ACORDOU de seu vigésimo pesadelo na semana, era madrugada. Só havia ela na enfermaria e ela ainda não conseguia ouvir sua voz. Ela se lembrava de sua infância, do quanto era aterrorizante abrir a boca para falar e simplesmente nada saia. Não era como se ela tivesse travado, ela queria falar, ela sabia falar, apenas sua voz era inaudível.

Seus pais nunca foram do tipo de demonstrar amor e carinho, isso sempre foi óbvio, mas eles silenciaram uma garota de 5 anos apenas porque não gostavam de sua voz e ela se pergunta; porque? Porque eles não gostavam de sua voz? Porque não gostavam de suas palavras?

Talvez fosse…

Eles começaram a colocá-la em silêncio após uma de suas frases quando criança. “Por que temos que odiar os sangues-ruins?” E desde então, ela se calou. Não por experiência própria, eles a calaram. E era a coisa mais dolorosa do mundo quando ela chorava e não conseguia escutar sequer os próprios soluços. Inclusive, seu pai nunca respondeu essa pergunta de Aurora, porque eles não gostavam, talvez? Porque sua voz os irritou? Não, porque eles não tinham respostas. Porque no fundo, eles sabiam que não existiam motivos, eles apenas odiavam porque era cabível.

Aurora sempre teve essa dúvida. Nunca deixou de ter. Eles eram humanos, eles eram pessoas, por que ela tinha que os odiar? Porque eles eram inferiores? Mas como eles eram inferiores sendo que eles ainda eram humanos?

Porque odiá-los sendo que eles não fizeram nada contra ela?

Foi esse o pensamento que ela teve até o amanhecer, quando a luz se fez presente em Hogwarts e Madame Pomfrey chegou. Aurora era a única paciente ali.

— Bom dia, senhorita Fawley, dormiu bem? - Perguntou, com um pequeno sorriso enquanto chegava perto com um medicamento.

A garota de cabelos pretos se sentou sob a cabeceira, fazendo um gesto de “mais ou menos”, apenas para não preocupar caso dissesse que “não”.

— Certo, beba devagar. - Ela disse, mas o gosto era tão ruim pela careta de Aurora que a fez ter vontade de botar tudo que havia comido para fora.

Com força, ela engoliu. Tossindo em seguida, mas novamente, sem nenhum som. Madame Pomfrey a consolou enquanto passava uma das mãos por suas costas, dando leves batidinhas, dizendo que já havia “passado”, então ela se acalmou.

Se confortou na cama novamente, pronta para voltar ou tentar ir dormir. Madame Pomfrey parecia ter dito algo a alguém, mas logo ouviu se o barulho da porta fechando, indicando que ela havia ido embora, Aurora abriu os olhos, mas se surpreendeu com a imagem em sua frente.

— Oi. - Ele disse, parecendo sem graça e ela teve vontade de socar sua cara, mas a única coisa que fez, foi revirar os olhos e ele se sentou. Fawley estava confusa, por que caralhos ele estava ali? — Vim à procura da minha aula.

Aquilo fez Aurora se mexer na cama, ficando de costas para ele, não podia falar nada e era obrigada a escutar asneiras, aquilo era o cúmulo!

— Tá legal, não quer papo. - James disse, enquanto se sentava numa cadeira.

Por incrível que pareça, ele não gostava de ver ela daquele jeito. Aquilo fazia seu corpo se revirar de uma maneira… desconfortável. Ver Fawley encamada era, de uma forma estranha, irritante. Principalmente seu silêncio ignorante, não dava pra escutar nada vindo de sua voz.

Ele não gostou daquilo.

Porque, por mais irritante que seja as palavras que saíam da boca dela, gostava de como elas soavam em seu sotaque, ele gostava de a escutar. Jamais admitirá para si mesmo, mas no fundo, sabia que a voz dela era brilhante, principalmente quando ela falava espanhol, e puxa! Como ele ficava caidinho por ela quando ela falava espanhol.

Ele batucou os pés no piso de madeira, se confortando no ambiente de uma forma… irritante para a garota que estava na cama.

— Soube o que houve com Lúcio, você foi bem corajosa, apesar de que você poderia ter desviado daquele feitiço. - Potter disse, daquela maneira nojenta que só ele consegue dizer aos olhos dela.

E seus ouvidos.

Ela queria rebater, gritar com ele, o agredir, e xingar, mas sua voz era inaudível. Então ela simplesmente se virou para ele, com os olhos escuros ameaçadores, e desviou o olhar quando ele notou a cara feia dela.

— Tá certo… - James murmurou, enquanto ele sentia que faltava algo.

Puta merda, como ele sentia falta de seus xingamentos! Brigar sozinho não tem graça.

Ele a olhou, ela se concentrava em um ponto fixo, o silêncio era desconfortável. Ela sabia disso, Aurora não gostava de paz, preferia o caos. Foi por isso que quando Potter ameaçou de levantar, seu corpo agiu por conta própria e agarrou sua mão, ela não falou nada, sequer olhou em seu rosto. Mas não aguentaria ficar remoendo toda sua dor naquele momento, porque é isso que ela faria se ficasse sozinha.

E James se tornou um refúgio para ela naquele momento.

Fawley com os olhos desviados, ele notou que ela pediu para ele ficar. Potter se sentou na cadeira novamente e começou a contar de seu dia, pois não sabia o que dizer. Não sabia como reagir.

Aurora fingiu não prestar atenção, quando escutava cada uma de suas palavras, cada vez que ela parava de falar para soltar um suspiro ou até quando tinha que segurar o riso sobre as pegadinhas de Sirius. Foi quando ela ouviu o nome da Nott.

— E a Camila, nossa, nem sei como ela continua com ele! - Ele disse, rindo achando engraçado.

Seus olhos foram em direção ao seu rosto ele se encolheu no lugar quando notou seu olhar curioso.

— A Camila tá bem, se é essa sua dúvida. - James afirmou, interpretando com seu olhar. — Ela foi… expulsa. De casa.

O olhar de Aurora se amedrontou, as pessoas da Sonserina sempre tinham o mesmo resultado quando não acreditavam nos ideais dos pais; sempre eram expulsas, rejeitadas da própria família. Esse era um dos maiores medos – se não o maior – medo da Fawley.

Ela tinha medo dos próprios pais, do que eles poderiam fazer caso ela não seguisse seus pedidos.

Aurora inclinou a cabeça, e ergueu uma das sobrancelhas, em uma pergunta do tipo “E para onde ela foi?”

— Ela está morando com Lily, os pais dela acolheram ela na casa Evans e elas estão se dando super bem. - Comentou, animado com tudo.

Aquilo fez o maxilar da morena travar, seu olhar se fixou em um ponto que pareceu paralisar diante os olhos negros queimando cada canto que passava. Ela se virou para o lado, não querendo conversar mais. O clima de repente pesou quando ela se confortou no cobertor grosso da cama.

Fawley detestava a ruiva. Cada parte de seu corpo queimava em escutar sobre a garota de sangue ruim. A inveja dominava seu coração e sua mente, ela enfiou a cabeça no travesseiro, pronta para soltar o grito mais traiçoeiro do mundo, quando sua voz não saiu, de novo.

Lily roubava toda a beleza do mundo, era uma das garotas mais gentis de Hogwarts, a mais pura, mais perfeita, mais magra, mais inteligente, e agora havia roubado sua melhor amiga. O universo nunca conspirou tanto contra ela. Porra, ela a odiava.

Potter estranhou, como ela ficou triste e intensamente com raiva de uma hora para outra, mas não perguntou. Suspeitou que tinha estragado todo o início de conversa entre eles, de novo.

Então se levantou, e saiu da enfermaria.

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01. Omg, dois capítulos no mesmo dia? Quem é ela???????????

02. Um capítulo só para James e Aurora? Omg, QUEM É ELA???????

03. O passado da Aurora é tão doloroso que vocês vão se chocar com tamanha crueldade. Talvez não, porque em outras fanfics tem tantas coisas dolorosas que eu até me surpreendo.

04. Até daqui muitas semanas, docinhos!!! 🥰🥰🥰

𝐒𝐋𝐎𝐖 𝐃𝐎𝐖𝐍, (James Potter)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora