"Pensei em pedir para JI-su, mas confio em você. Acho que somos amigos, não?"

Queria ser mais do que seu amigo, mas me contentei em esperar por mais tempo. A observei balançar a cabeça e apertar os dedos entrelaçados nos meus.

"Se eu te prometer isso, precisa me prometer algo em troca. Prometa que quando estiver perdendo o controle, vai lembrar que tem alguém pra voltar. Vou estar te esperando, Hyun-su."

Eu me lembrei, Ryu. Eu me lembrei de você. Me lembrei da nossa promessa. Eu estou aqui, mas você não. Você não está me esperando. Eu não sei onde você está. Queria te ver uma última vez. Quem sabe você acordasse e sorrisse para mim. Queria tanto ver o seu sorriso mais uma vez.

Sorri, triste.

Você ficava tão brava quando eu sumia, mesmo eu sempre dizendo que voltaria. Acho que agora entendo o porquê.

Estou bravo por ter sumido, Ryu, então, por favor, apareça.

"Estava indo procurar você, idiota! Quer um motivo além disso para que eu esteja irritada!?"

Sei que se estivesse aqui tentaria me impedir de seguir em frente. Iria querer me proteger dos tiros que estão atravessando meu corpo agora, um a um.

"Onde você vai? Eun mandou você subir de novo?"

"Vou procurar por comida. Só vou subir dois andares. Não se preocupe."

"Você precisa parar de fazer o que ele manda. Vai acabar se machucando."

"Eu não me machuco."

"Mas você pode perder o controle."

"Tenho uma âncora."

"Qual é a sua âncora?"

"Você."

Fiquei tão envergonhado em te dizer isso aquele dia. Mas essa foi provavelmente uma das coisas mais sinceras que já disse em minha vida.

"Você também tem a sensação de que vai perder alguém a qualquer momento? Alguém importante."

"Por que acha que não quero que suba aquelas escadas? Estou a um mês tentando evitar que essa sensação esteja certa, Hyun-su."

Naquele dia, depois de eu finalmente ter reunido coragem para te beijar, a primeira coisa que a ouvi dizer quando nossos lábios se separaram foi:

"Você comeu chocolate?"

E, depois que eu ri, fiquei envergonhado ao te ouvir falar das minhas covinhas.

"Você me deixa envergonhado."

"Foram dois sorrisos. E ainda te deixei envergonhado. É um bônus!"

"Você está contando?"

Até então você não sabia, mas eu também estava.

"Não posso te perder. Você não pode morrer, Ryu!"

"Não vou. Vou viver, Hyun-su."

Aquilo foi uma promessa. Sei que foi. Eu confiei em você. Confiei com todo o meu ser.

"Beijar, cara. Beijou a Ryu? E o que você quer com ela?"

"Como assim?"

"Pare de intimida-lo, Sunwoo."

Está frio aqui fora.

Meus pés estão descalços e congelando. Meus olhos estão pretos, mas me mantenho no controle. Na ponte, enfileirados horizontalmente estão os militares, todos apontando suas armas para mim. Os buracos feitos pelos tiros no meu corpo sangram, mas um a um começam a se curar. Alguns deles estão descendo, vindo me buscar. As armas continuam apontadas para mim, mesmo que eu não esteja demonstrando nenhum sinal de perigo. De todos os lados, um grupo de soldados se aproxima.

Vindo de longe, o grito de desespero chega aos meus ouvidos. Me viro em direção a ele, sentindo meu coração apertar.

- HYUN-SU!

Eu me julgaria mentalmente se não reconhecesse a voz da garota por quem estou apaixonado.

A vejo na entrada do prédio, caminhando pela neve em minha direção antes de ser segurada por Sunwoo. Os soldados estão apontando as armas para eles agora. Os lasers vermelhos marcam seus corpos e parte das grandes luzes brancas iluminam os dois. Estico minha mão, tentando fazer um sinal para que ela não se aproximasse mais. Em resposta, um novo tiro atravessa minha perna, me fazendo cair de joelhos na neve. Ryu grita mais uma vez.

- Parem! Parem de atirar! Ele não é perigoso, por favor! - ela ergue os braços no ar. Sunwoo faz o mesmo.

Vê-los assim, daquela maneira, me faz pensar. Sunwoo e Ryu, meu amigo e minha namorada, que odeiam tanto os militares depois de serem torturados por eles estão prestes a se entregar. Eles vão se entregar por mim. Não quero que façam isso. Não quero que se entreguem. Eu também não quero ir. Agora que sei que estão vivos, eu não quero ir. Eu quero ficar. Mas, se eu me mexer, eles vão atirar. Preciso protegê-los. Tenho que proteger Ryu e Sunwoo.

- Nós vamos com vocês! - ela gritou. - Olhem, olhem para nós! Somos nós!

- Kang Sunwoo e Eun-Ji Ryu! - continuou Sunwoo, segurando Ryu quando ela se desequilibrou na neve ao dar mais um passo. - Infectados Especiais procurados.

- Parem! PAREM! - berrei, atraindo os olhares dos dois. - Por favor! Ryu, por favor!

Ela fixou os olhos em mim. Ainda estamos muito longes para que eu não precise mais gritar. A neve atrapalha a visão, mas eu me esforço para enxerga-la o máximo possível. Seus olhos castanhos estão ali, marejados enquanto me observam, as lágrimas escorrem em suas bochechas. Os meus olhos também não estão mais pretos, porquê ela está ali, a minha âncora.

Quero falar com ela. Quero falar com ela sem precisar gritar.

Me lembro então que há um jeito. Ryu certa vez conseguiu falar comigo mentalmente. Talvez eu devesse tentar.

Você precisa ficar, Ryu.

Fique ai, com Sunwoo. Fujam. Fujam e se protejam.

Ryu, de repente, para de andar. Ela estica o braço, segurando o pulso de Sunwoo, que também para, um pouco confuso.

"Não." - ouço sua resposta, ficando aliviado por saber que havia funcionado. - "Não vamos sem você."

Eu não quero que venham. Você está machucada. Precisa se curar. Não vai sobreviver aos testes deles.

"Estou curada. Estou curada, Hyun-su. Por favor, venha comigo. Diga que quer vir. Eu e Sunwoo conseguimos trazê-lo. Ainda conseguimos busca-lo. Por favor."

Não quero que se arrisquem. Fiquem ai. Por favor, só dessa vez, me escute. Fique aí.

Os soldados estão se aproximando mais de mim. Continuo ajoelhado no chão, os olhos fixos em Ryu, mais a frente. Quando os militares me alcançam, eu me esforço para encontrar um jeito de vê-la e me certificar de que está tudo bem. Ryu e Sunwoo continuam parados, sem nenhuma tentativa de fuga.

Vou distrai-los. Vou distrai-los e vocês vão correr. Você entendeu, Ryu? Você precisa correr!

"Não posso."

Pode. Você vai. Se deixá-los te capturarem, não vou te perdoar. Eu não quero que você venha. Você tem que fugir!

"Es... está bem. Nós vamos... vamos embora."

Isso. Por favor. Vão.

"Vou te encontrar. Vou te encontrar em qualquer lugar que te levarem. Eu prometo, Hyun-su. Vou me recuperar e vou te encontrar. Só... continue sobrevivendo, está bem?"

Vou viver, Ryu. Vou viver e vou voltar para o meu lar. Meu doce lar. Para você.

Os militares me erguem com brutalidade e começam a gritar para Ryu e Sunwoo.

- Se entreguem! Venham até nós com os braços para o alto e se entreguem pacificamente! Vocês estão cercados!

Está na hora.

"Ainda não."

Precisa ser agora.

"Mas..."

Eu te amo, Eun-ji-Ryu.

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Os Mais Fortes Sobrevivem - Sweet HomeWhere stories live. Discover now