Domanda

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Nos cenários suntuosos do Teatro alla Scala, na vibrante cidade de Milão, o palco estava iluminado com os ensaios para uma ópera comovente. Entre os todos os artistas ao meu redor, minha atenção estava em uma soprano mundialmente renomada, que chamava atenção todos os dias com sua voz etérea emparelhando sobre uma orquestra e seu carisma diante o público. Um contraste gritante comigo, que tinha sua indiferença gritante comigo, porém ainda assim. Há algo que me chama a minha atenção a Callas.

Poucos dias antes, compartilhamos uma noite agradável em um bar aconchegante, seu dueto de risadas e confissões fluindo naturalmente. Mas, quando o sol nasceu, Maria se retraiu em sua casca, fingindo que nada havia acontecido. Agora, no palco, uma distância palpável emparelha entre nós. Sabemos que ela era "complicada", foram bem claros com todas as línguas que sua personalidade pode ser um pouco difícil de compreender. Mas, reconheço alguém que precisa sempre se defender. E acho que não é questão de ela em si, ser chata. A verdade é que ela se cobra por demais, talvez a combraram demais.

A todo momento que ensaiamos ela busca a perfeição. Claro, se ela não sai corretamente com o esperado, o público, a mídia e todos que estiverem ao seu lado, caem em cima dela. Tal perfeição que buscam nela, qual não sei se existe. Porém, oque ela acredita ser a "perfeição", oque me parece, sempre sai de modo extraordinário. E geralmente ela alcança com maestria. As pessoas acham que ela cobra todos por ego, em suma maioria. Mas acredito, pelo o tempo que trabalhamos juntos, que existe a "Maria" e a renomada "Callas". Mas ainda estou a tentar descobrir. Como posso tirar essas conclusões de apenas uma parceira de trabalho, onde ela deixa claro sua necessidade de distância entre nós. Que obviamente, devem ser respeitadas por mim, já que são decisões e opção dela. Mas ainda assim, há momentos que sinto uma tentativa ou "esquecimento" de que ela não gosta de mim. Eu acho.

Enquanto os ensaios progrediram, Maria parecia assombrada. Sua preocupação latente, algo além do que conversamos no bar, parece atrapalha-la. E sinto-me um idiota por não poder lhe ajudar de alguma forma. Mesmo sabendo que não poderia fazer nada, já que ela não me permite.

Teatro alla Scala, Milano, Itália

Geralmente sou um dos últimos a chegar. Portanto hoje vim mais cedo em busca de treinar com o piano do teatro, já que o meu teve que ser levado ao concerto, consequências de ter uma irmã mais nova, como Stella que o destruiu, e usou como argumento que o fechou de modo grosseiro. Mas, é claro que ela se sentou em cima do meu piano. Mas como não tinha prova, deixei de lado. Portanto, sempre a vejo com livros e em cima do piano. Pode parecer estranho, mas Stella explica que lá é o melhor.

Passando entre os camarins, escuto o som de algo pesado de vidro quebrando e um grito com raiva de alguma mulher. Logo reconheço de onde saiu esse grito, era o camarim de Callas.

Escutei o barulho vindo do camarim e logo vejo Maria saindo, visivelmente irritada. Me preparo para falar com ela, mas antes que possa dizer qualquer coisa, recebo seu olhar dissimulado de desaprovação e ela volta para o camarim, fechando a porta bruscamente na minha frente. Por um momento, fico sem entender completamente o que acabou de acontecer. Já está ficando cansativo. Juro que estou a tentar ser o mais paciente possível. Entendo que passamos por situações complicadas.

Mas acho, quero dizer, tenho certeza. Que nunca fiz mal algum a Callas. Se fiz, foi sem a intenção. Mas como hei de saber se nem xingamentos, recebo dela. Apenas olhares de aprovação quando sigo bem com a equipe, ou olhares de desaprovação quando erro algo. Diante disso só. Nada a mais. Nem menos. E estou a começar a agir de mesmo modo.

Antes que a situação esfriasse, Gal, advogada da soprano, sai do camarim e se dirige a mim, sua expressão séria e determinada. Mas ela parece contente em me ver

Studio 54Where stories live. Discover now