CAPÍTULO 20 - O QUE FRANKLIN NÃO SABIA

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São duas e quarenta da tarde e o detetive Michael volta ao departamento, ao entrar, na sala de espera, se depara com Lorena.

-Senhora Lorena? Chegou cedo! – Se admira Michael.

Lorena carregava pastas em seu colo, e demonstrava estar aérea, pensativa, olhando o vazio.

-Lorena? – Insiste Michael.

-Oi! – Diz Lorena como se despertasse. – Desculpe detetive, tenho pensado em muitas coisas.

-Vamos para minha sala. – Lorena de levanta e Michael continua – Deixa que eu levo isso -Ele pega as pastas das mãos de Lorena e continua – Por favor por aqui.

-Obrigado detetive.

Eles saem da sala de espera, são liberados em uma portaria de acesso a funcionários e seguem sentido a um extenso corredor, a sala do detetive era a penúltima.

O detetive abre a porta e Lorena entra observando tudo com descrição, a pequena sala do detetive estava cheia de pastas aglomeradas em vários lugares, havia um quadro cheio de anotações, armários abarrotados de coisas, não era possível nem sequer ligar o ventilador devido a tanta papelada.

-Fique à vontade, deixa eu só tirar isso daqui. – Ele remove, com a mão que lhe sobrava, as pastas sobre as cadeiras e as põe sobre a mesa, Lorena aguarda em pé junto a entrada da sala, o detetive prossegue - Pode se sentar numa dessas cadeiras aqui. – Diz Michael demonstrando desconforto com o estado de sua sala, não que ele fosse desorganizado, mas a demanda do seu trabalho era muito grande.

Michael devolve as pastas de Lorena que se assenta e inicia a falar:

- Detetive, naquele dia que esteve no prédio da Marcones, você tinha perguntado a mim e ao Franklin se teria alguém que poderia nos querer mau, respondi que não, mas menti, não queria tocar nesses assuntos frente ao Franklin.

Michael se assenta na cadeira da mesa frente a Lorena demonstrando interesse no que ela estava falando, ela prossegue.

- Esse nosso tipo de trabalho nos atrai muitos inimigos, principalmente quando se deseja ser alguém honesto, há uma onda de corrupção sem precedentes quando o assunto é licença ambiental. – Michael confirma com a cabeça, Lorena continua.

-Aqui nessas pastas estão alguns dos casos que já fomos ameaçados, aí consta nomes, registro, razão social de todas as empresas e de seus responsáveis, inclusive alguns boletins de ocorrência e denúncias que fizemos, acredito que está muito completo. – Lorena entrega as pastas a Michael. – São cópias! Claro! Mantenho as originais guardadas em um lugar seguro.

- Muito bom senhora Lorena! – Diz Michael, que pega as pastas e começa a folear.

- Nesta primeira pasta está a que considero a situação mais delicada que já passamos, não por violência, mas porque quase perdemos nossa empresa, fomos vítimas de um golpe de um dos membros participantes do núcleo da empresa.

-Roberto Santavez? – Afirma Michael enquanto lia um arquivo da primeira pasta, Lorena continua.

-Isso mesmo, ele estava envolvido com compra ilegal de ações, enquanto recebia propina de grandes empresas, liberando licenças ambientais de forma ilegal, quando percebemos já quase que tarde demais, quase quarenta por cento das ações já pertenciam a ele, mais de trinta licenças ilegais já haviam sido liberadas, todas as empresas e nomes públicos envolvidos estão aí.

-Mas como ele conseguia essas licenças? – Indaga Michael.

-Ele já tinha comprado uma parte dos funcionários, funcionários de todos os setores, assim conseguiram trabalhar dentro da empresa de forma individual colocando a sujeira debaixo do tapete, debaixo do nosso nariz.

Michael fecha a pasta e pergunta.

-E como conseguiram descobrir esse plano tão bem elaborado?

Lorena prossegue:

-Um dia, se foi sorte não sei, Marcos foi a sala do Roberto para entregar ou pegar algo, não me lembro mais, ao chegar na porta ouviu risadas, ele então se deteve e ficou escutando com atenção, Roberto estava falando algo do tipo "-Consegui mais cinco por cento das ações! Logo, logo consigo os quinze por cento que preciso e serei o acionista majoritário dessa empresa!... Dane-se Marcos e sua honestidade incorruptível!", ele falava com alguém no telefone, quando Marcos entrou na sala ele rapidamente desligou o telefone. A partir daí a confiança em Roberto havia ruído.

-Mas foi apenas isso? Seu esposo ouviu ele falando essas coisas ameaçou de denunciar e o mandou embora? – Pergunta Michael.

-Não, não detetive, meu marido sempre foi um homem muito inteligente e engenhoso, Marcos contatou a uma de nossas empresas parceiras e montou uma "arapuca" para Roberto, ele estava tão sedento por assumir a empresa que sua ambição lhe segou os olhos. Marcos combinou que a empesa faria uma proposta a Roberto, ele liberaria uma licença e eles o dariam uma propina de quinhentos mil dólares em uma conta no exterior, todas as conversas e negociações foram gravadas e mantemos em um lugar seguro, enfim, no dia de fechar o acordo Marcos trocou de lugar com o presidente da tal empresa pegando o Roberto com a "boca na botija". Em troca de não ser denunciado Roberto assinou um acordo onde devolvia todas as ações compradas ilegalmente a Marcos, fizemos uma limpa na empresa, quarenta por cento dos funcionários de todos os setores foram demitidos, inclusive abrimos processos contra muitas empresas, algumas delas, multinacionais detentoras de muito poder financeiro, tenho medo de alguma retaliação detetive!

Lorena suspira e continua.

-Detetive foi um recomeço para nós, mas isso foi antes do Franklin, ele não sabe de nada disso, e não queremos que ele saiba que temos esses problemas, ele é só um menino! Meu menino! – Uma lágrima escorre pelo rosto de Lorena – Desculpe detetive, desculpe -Diz ela retirando um lenço da bolsa.

- Não precisa se desculpar! Entendo bem o que está me dizendo, sou um detetive, procuro fazer o que é certo e sei como é difícil se manter correto nesses tempos, o mundo não reconhece mais as coisas cem por cento corretas, se criou o conceito de que um pouco de erro não altera o todo, mas a partir do momento de que um barco se desvia sequer um centímetro de sua rota inicial nunca chegará no destino esperado. – O detetive abre uma gaveta e retira um quadro que deveria estar sobre a sua mesa e o entrega a Lorena – Ninguém desse departamento sabe, mas essa é a minha filha, Lara, ela tem três anos.

Lorena pega o quadro e logo suas lágrimas se vão dando lugar a um sorriso afetuoso e ela comenta:

- Muito linda sua filha Michael, não me disse que era casado? – Michael por um momento olha o vazio como alguém que tem um flash de memórias e responde.

-Eu era, a perdi para a leucemia tem dois anos e meio, mas ela me deu esse presente, hoje ela está com minha mãe que mora nos Estados Unidos, sempre que dá vou fazer uma visita.

Alguém bate na porta do detetive, Lorena rapidamente devolve o quadro e ele põe na gaveta novamente, um policial abre a porta e diz:

- O capitão esta te chamando na sala dele.

Lorena se levanta e aproveita a deixa para se despedir, antes de sair pela porta, o detetive a chama.

-Dona Lorena! -Ela se vira e ele prossegue- Caso perceba algo suspeito rondando a você ou a seu filho me contate, você tem meu número, pode ligar a qualquer hora, não hesite!

- Obrigada detetive! – Lorena dá as costas e sai.

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⏰ Last updated: Mar 02 ⏰

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FRANKENSTEINWhere stories live. Discover now