CAPÍTULO 10 - O QUARTO 12

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-Um brinde a nova e provisória fase da Marcones ambiental! –Diz Fernando com a gravata folgada e a camisa um pouco desabotoada levantando um copo de cerveja.

Fazia pouco tempo que Franklin havia voltado a morar na casa de seus pais, logo que Marcos estava no hospital, não seria bom Lorena estar sozinha.

Era uma sexta à noite, alguns dos funcionários e alguns amigos da família estavam reunidos, faziam um churrasco nos fundos, uma área muito bela da casa, com piscina, gramado, aliás muito bem cuidado, uma pequena cozinha com churrasqueira, balcão de mármore e tudo que uma cozinha tem direito acompanhado de uma varanda grande.

- Onde está minha mãe? –Diz Franklin, parecia preocupado, mesmo naquele ambiente não estava completamente confortável, desde o acidente estava pensativo, mais calado, mais sério, não era sua obrigação, mas carregava o peso de ser a coluna dorsal da família agora que Marcos não poderia estar, e para ser como ele, precisava ser muito bom, pelo menos ele pensava assim.

Nesse momento, Lorena abre a porta de vidro que dá acesso a varanda com um telefone na mão, seu semblante estava alegre pela primeira vez desde a entrada de Marcos ao hospital.

- Ótimas notícias! - Seus olhos lacrimejam, olhava diretamente para Franklin dentre a multidão - Seu pai acordou do coma! Concluiu as cirurgias e está em estágio de recuperação! – Mal conseguia ser escutada pelos gritos de comemoração, para Franklin era um sinal de esperança, a alegria surge repentina, era como o despressurizar de uma panela de pressão.

Até que Bruno amigo de infância de Franklin ergue a voz:

- Um brinde! A melhora de seu Marcos, que com certeza olhou a morte nos olhos, chamou para briga, saiu todo arrebentado! Mas deu uns bons cassetes nela e venceu! – Ele fazia brincadeira com tudo, em tempo ou fora de tempo, com o que devia ou até mesmo com o que não devia.

Mas não havia como resistir ao jeito hilário de Bruno, todos caem na gargalhada, levantando os copos ao som de "vivas" e assovios, menos Lorena, permanece séria, todos percebem e começam a abaixar os braços com os copos para o brinde, quer dizer, todos menos um, Vinícius, um jovem auxiliar do departamento de imagem da empresa que fica rindo sozinho dando "vivas" em meio aquele clima de tensão, é quando Mário um dos fiscais da Marcones lhe fala ao ouvido:

- Eu acho que ninguém está achando mais graça!

Logo em seguida Robson, que também trabalhava na empresa, lhe dá uma discreta cotovelada enquanto balança a cabeça pensando "que Zé Mané cara!", Vinícius se toca, rapidamente fecha a cara e com um tom de autodesprezo diz:

-Des...culpe, desculpe, dona Lorena, piada idiota! - Vinícius tentava exprimir desprezo a piada, mas acabou por piorar sua situação com sua mudança súbita e nada sútil de opinião.

Bruno, autor da piada, segura o riso, fica observando o que viria a seguir.

Todos ficam em silêncio, um silêncio muito desconcertante para todos, e pior ainda para Vinícius. Então Lorena, com um olhar sério fixo em Vinicius, vai até ele lentamente, se não fossem os passos de Lorena, daria para escutar o coração de Vinicius saindo pela boca, "perdi meu emprego", ela para na frente dele e dá dois tapinhas em seu ombro e diz:

-Ele detonou ela filho! Meu marido é bom de briga! – Todos ficam sem reação, meio sem entender o que Lorena havia dito, Fernando esboça um sorriso depois de notar que Bruno não estava nem um pouco desconsertado, ela continua- PEGUEI VOCÊ! – Ela pisca rindo.

Não há um que não sucumba ao riso e a gargalhada.

-Eu não disse! – Diz Bruno dando de ombros, logo todos levantam os copos e taças e começam a brindar pela saúde de Marcos e a viagem da equipe para a Confraternização Ambiental em Washington, Lorena pega logo um copo de Whisky com bastante gelo, vai até Bruno lhe dá um beijo na testa dizendo – Aqui é meu filhote mais novo!

Aquele ambiente alegre e agradável era típico da família dos Garcia, para Franklin um bálsamo em dias sombrios, não via a hora de rever seu pai, não sabia o que poderia encontrar, e nem se estava preparado, mas precisava reencontrá-lo vivo!

No outro dia, Franklin visita a Marcos no hospital com Lorena, apenas um por vez poderia entrar, o tempo de visita era bem limitado logo que o estado de Marcos ainda era delicado.

Esse era o primeiro contato de Franklin com seu pai depois do acidente, seu coração gelava, mas desde o acidente se mantinha forte, tentava transparecer tranquilidade, que estava conseguindo administrar tudo aquilo, alguém como ele não poderia demonstrar fraqueza, afinal muita coisa dependia dele agora.

Mas ao chegar à entrada do quarto 12, ali, bem ali, vendo o deslumbre de seu pai pela pequena janela da porta, cercado de aparelhos e imóvel, tem a completa convicção que não era tão forte quanto a situação o pedia, seu conceito de fraqueza o acabara de condenar, estava desmoronando por dentro, congela por segundos, nunca um pesadelo foi tão real para ele.

- Pode entrar senhor! - Diz a enfermeira, pois ele estava parado junto a porta.

Ele volta a si, estava em choque, se aproxima devagar e entra no quarto, a sensação só piorava.

-Pai? –Diz ele se aproximando da maca, ele tira a máscara, Marcos reconhece a voz e tenta mover o pescoço, mas não conseguia, estava paralisado, vira apenas os olhos já cheios de lágrimas, aqueles olhos, Franklin sabia decifrar, ele o conhecia profundamente.

Aquela cena é como um golpe para Franklin, era seu pai ali, o homem que sempre admirou, o homem que sempre quiz ser igual, as lágrimas escorrem em seu rosto, se agarra ao corrimão da maca, o aperta com força. Marcos estava consciente, mas muito debilitado e quase irreconhecível, tinha feito uma cirurgia no crânio graças ao traumatismo sofrido, não conseguia falar ou se mover, estava todo inchado, difícil não se emocionar ao ver o pai daquela forma, Marcos sempre foi muito articulado e vivo, vê-lo daquela forma era inadmissível.

- Senhor aconselho que reponha sua máscara, seu pai está muito suscetível a infecções e senhor Marcos por favor não se mecha, isso não vai ajudar em sua recuperação. –Diz a enfermeira.

- Desculpe! – Diz Franklin repondo a máscara enquanto enxugava os olhos, já não importava tanto parecer forte.

-O Senhor... é muito forte! Você já superou essa! Tá bom?! Eu te amo! Todos nós te amamos! – Sua voz estava trêmula, olhava nos olhos de seu pai e passando as mãos no seu rosto, as lágrimas dessem novamente em seu rosto, sua vontade era abraçar seu pai tirá-lo daquela situação, acordar daquele pesadelo sabendo que tudo não passava de uma noite ruim.

Para sua surpresa, um ruído surge, um sussurro longe, debilitado.

-Fran... Fran... ufu... Frank... – Marcos estava se esforçando ao máximo para sussurrar algo, seus batimentos estavam alterados.

- Pai não se esforce! –Diz Franklin, mas não adiantava ele precisava falar algo e iria dizer.

- E..e.u teee aa..mo fii..lho

Aquilo o desestabiliza por completo, Franklin chora copiosamente -Eu também! Eu também! - Confirmava desesperadamente, enfim deixava transparecer seu desespero. Os batimentos de Marcos começam a aumentar ainda mais, a enfermeira entra em alerta, suas emoções estavam muito afloradas, ele poderia ter AVC a qualquer momento.

- Senhor... O tempo de visita acabou - Interrompe a enfermeira - Preciso que saia pelo bem dele. - Ela olha para o monitor cardíaco.

- Eu não quero ir - Franklin sussurra.

- Os batimentos dele estão alterados! Ele vai ter um AVC a qualquer momento se não sair!

Ouvir aquilo o traz de volta a si, ou se compunha ou perderia seu pai, se afasta, procura a mão de seu pai imóvel.

-Se acalma, eu tenho que ir! Tudo está bem!

Beija a mão de seu pai e sai da sala.

Já fora, vai caminhando pelo corredor até estar longe do quarto de seu pai, uma revolta lhe vem ao coração, ele para por um momento e começa a chorar, tira a touca, as luvas e se senta no corredor encostado na parede.

-VOCÊ VAI PAGAR MISERÁVEL! Quem quer que seja! Você vai pagar! – Ele grita, arrancando a roupa hospitalar, a rasgava com raiva, chorava em voz alta atraindo atenção dos funcionários e pacientes que passavam pelo corredor, alguns se aproximaram para ajudá-lo, mas Franklin não queria ser consolado, Franklin queria VINGANÇA.

FRANKENSTEINOnde histórias criam vida. Descubra agora