Dei-me por satisfeita, depositei mais um beijo em sua testa e murmurei que a amava antes de me retirar. O sol estava preguiçoso, e o vento parecia mais frio aqui no alto do penhasco. Irin estava com o rosto direcionado para o horizonte, parecia perdida em pensamentos. O vento fazia com que os seus cabelos chicoteassem no ar, mas ela não importava em ajeitá-los.

Entrei em seu conversível vermelho sem capota. Amo o seu carro, com exceção de tempo chuvoso, mas fora isso, adoro a sensação do vento batendo em meu rosto, era como se eu sentisse a vida mais vibrante e intensa. Olhei para Irin que permanecia na mesma posição, os seus olhos estavam escondidos por óculos escuros. O rádio do carro soava a música de Sin Bandera:

Kilometros.

Conheço a música, e sei espanhol por que ao invés de escolher literatura inglesa, como quase todo mundo, optei por espanhola. Não me arrependo, sou fascinada por tudo que é latino, tenho a sensação de que em outra vida fui uma mexicana.

- Irin. O que você... - antes mesmo de completar a minha fala, fui interrompida por ela.

- Cortando novamente o cabelo, Becky? - ela pergunta com um suspiro e liga o carro. - Você sabe que não precisa se aventurar nisso sozinha, não é? Eu cortaria de bom grado pra você. - deu partida, ainda olhando para frente.

Dei de ombros.

- Não queria incomodar. 

- Não sei por que a sua preocupação em incomodar quando você nunca incomoda. - Irin afirmou, fazendo a curva com cuidado. - Depois temos que dá um jeito nisso aí. 

- Ok... - olhei para a estrada quase vazia. Ainda era muito cedo, e poucas pessoas trafegavam. A melodia e a letra da música pareciam que estava reproduzindo uma espécie de alento que transmitia de mim para a Irin... Percebi também que ela estava estranhamente calada, não tinha a animação de sempre. Olhei-a de relance, e Irin apertava tanto o volante que parecia que os nós dos seus dedos iriam explodir. - Você está bem?

- O quê? - finalmente me olhou, mas por um breve momento.

- Você me parece estranha, como se tivesse acontecido alguma coisa. - franzi o cenho. -Aconteceu, né?

- Porque tinha que acontecer alguma coisa? Não aconteceu nada de relevante. - explodiu num grasnido que me assustou. - Você também está estranha, com um brilho nos olhos que parece que descobriu o mundo pela primeira vez e eu não estou a questionando, estou? - soltou aborrecida.

Encolhi-me no banco, confusa, não esperava essa reação ela... Geralmente, Irin era um doce comigo. Percebendo o meu jeito, esmurrou o volante do carro que buzinou sem querer. Ela respirou fundo.

- Desculpe-me, Becky... Eu não queria ser grossa com você. - tocou o meu braço suavemente. -Por favor, desculpe-me de verdade. É que... O Luke me beijou. - confessou num sussurro de voz.

Arregalei os olhos e sorrir, sem acreditar!

- Jura? - perguntei com euforia. Ela balançou a cabeça em confirmação. - Isso é ótimo,  Irin! Já era pra acontecer. Foi bom? Você sentiu mil borboletas no estômago? Sentiu o mundo parar? - Falei descontroladamente, lembrando-me a sensação de ter os lábios de Freen em minha bochecha. - O seu pé se levantou como num doce conto de fadas?

Irin sorriu com as minhas perguntas bobas. A realidade é que eu nunca tinha beijado na boca, mas sempre imaginei que quando acontecesse, seria a sensação mais sublime de toda a minha vida.

- Ah, Becky... Só você para me fazer sorrir. -  falou com um sorriso de lado.

- Mas você não me respondeu. - disse animada, a olhando. - Sentiu tudo isso?

- Sim. - ela confessou com as bochechas rosadas, e eu soltei um gritinho animado. - Senti tudo isso e um pouco mais... Foi inexplicável. - suspirou, então, seu semblante decaiu um pouco.

- O que foi amiga? - perguntei com o cenho franzido.

- Eu tenho medo... - disse baixinho, nessa altura, tínhamos chegado ao estacionado do colégio, e ela parava na sua vaga habitual. Desligou o carro e virou-se para mim. - O Luke é bonito... - então, soltou uma risadinha. - Bonito é apelido. Ele é lindo, tão lindo que sempre tem garotas correndo atrás dele, e é isso que me dá medo, sabe?

- Medo da beleza dele? - pergunto um pouco confusa.

- Em partes. - suspirou e ajeitou os seus cabelos negros e lisos. - Ele é muito atraente aos olhos de quase todas... Em algum momento, pode chegar alguma garota e ele simplesmente vai perceber que o que suspostamente sente por mim é uma simples atração que pode ser substituída á qualquer momento.

- Eu não acho que seja tão simples assim. - comento com sinceridade. Então, escuto um barulho de moto e vejo ao longe que é a Freen... Meu coração simplesmente explode dentro do meu peito e bate descompassadamente. - Sei que sou inexperiente em quase tudo, principalmente em relacionamento, mas acredito que quando amamos de verdade, com todo o nosso coração, pode surgir milhares de pessoas em nossas vidas, mas o nosso sentido ainda continuará naquela pessoa... - suspiro ao vê-la retirar o capacete e seus cabelos caírem pelos ombros. - É algo irrevogável, sem previsão e data para acabar...

Irin ficou pensativa com as minhas palavras. Ela saiu do carro, e eu também. Senti vontade de me aproximar de Freen, mas, acovardei-me. E se por ventura, ela me enxotasse? Pelo a sua expressão, também não me parecia com bom humor. Fiquei no meu lugar, apenas a olhando... Freen mexia no celular quando passou por nós sem nem erguer a cabeça, mas deixando o rastro do seu perfume. Percebi que a minha boca ficou seca e minhas mãos úmidas de suor de um nervosismo que parecia que ia me sufocar. Abaixei a cabeça entristecida por ela não ter falado comigo.

Devia nem se lembrar mais de mim...

- Vamos entrar.... - Irin tocou suavemente o meu pulso para segui-la.

Ia comentar que ainda era cedo. Geralmente, ficávamos na frente do colégio, conversando e deixando o tempo passar, mas logo vir quem ela queria evitar: Luke. Ele mal tinha acabado de estacionar o carro, quando Irin seguiu em disparada para a entrada do colégio. Vi a cara exasperada do Luke ao sair do carro, coitado. Chego à conclusão de que o amor não é complicado, e sim, as pessoas.

- Opa! - escutei uma voz que me arrancou do meu breve devaneio juntamente com uma mão no meu colo que me empurrou para trás. Como eu estava subindo as escadas, meu corpo desequilibrou, e o estouro foi inevitável. Fico desnorteada com a queda que machuca o meu fêmur, e infelizmente, sinto o impacto no meu corte ponteado, escuto também várias risadinhas, olho para frente em busca de quem fez isso, e meu olhar encontra com os olhos esverdeados e malvados de Alison. - Não sabe lê? - perguntou e apontou para uma placa. -Proibida à entrada de animais. 

Gargalhadas estouraram por todos os lados, e os meus olhos encheram de lágrimas com uma imensa vontade de chorar...

El Sabor De Lá Venganza { FreenBecky }Where stories live. Discover now