Take Me To Church

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Eu escolhi esse título de música porque ela é importante e aqui começa a parte importante da história que eu planejei pra aqui. Toda vez que escrevo essa fic sinto que os santos da minha mãe querem me bater. Até estou sendo mais gentil com Jesus porque vai que ele sai da imagem e me bate.

    Mon me mostrou como confeccionar coisas para os órfãos e tivemos uns momentos bonitos juntas naquela sala. Momentos encantadores que aqueceram meu coração. Pelo menos, para mim, foram os melhores momentos da minha vida até o presente momento. Peço perdão a todas as mulheres que passaram por minha vida eterna. Não é que vocês não significaram nada para mim, mas que Mon é uma mulher que conquistou meu coração de uma forma diferente. Vocês possuem meu amor eterno, mas é um amor diferente. O amor possui suas formas tão diferentes. O amor possui faces e não deixa de ser amor por ser diferente. É amor e ponto. Mon tem o meu amor que eu jamais pensei que sentiria algum dia. Um amor que me faz pedir para algo acima de mim para que eu tenha um pouco de reciprocidade vinda dela. Ela ora aos céus por amar o ser humano. E eu peço a algo que possa existir acima desse Pai horrível que temos para que ela me ame. Eu jamais pensei que faria isso. Pedir para algo maior um amor vindo de qualquer um. Mas é aquela coisa... Nunca diga nunca porque é uma promessa que não se sabe que vai se cumprir. Diga talvez, mas não diga nunca. Diga quem sabe, mas não diga nunca. Melhor deixar a possibilidade aberta do que cuspir pra cima e cair na testa. E eu cuspi, agora minha testa está aqui com cuspe. Está molhada, encharcada. Assim como eu estou repleta de amor.
    Saímos da oficina e eu já dei de cara com o primeiro anjo. Ele estava na forma de uma freira branca de olhos azuis. Me lançou aquele olhar e seguiu o caminho. Ele não pode intervir no livre arbítrio de Mon, mas sabendo como as coisas funcionam, poderão matá-la para impor à ela o céu eterno porque é o que ela tem tem e eles não querem que eu a possua. Mas não é nem questão de possuir. Eu sei que não possuo o amor dela, não o amor que eu sinto por ela. É questão de que eu tenho o direito de estar ao lado dela. Deveria ser simples, não é? Eu apenas estar ao lado do meu amor. Olhar para ela e sentir meu amor. Não deveria haver um ato de salvação de alguém que já está salva. Por que ela não poderia apenas me amar? Por que eu não posso apenas ficar ao lado de quem eu amo? Por que isso deveria acabar em morte? Meus irmãos preferem matar o amor do que aceitá-lo. Meus irmãos não ouviram Lúcifer. Eles ouviram o Pai. Eles seguem as ordens do Pai. Meu pai não me amou. Ele me jogou na rua porque eu disse que era errado o que ele fazia. Eu tive que ir embora porque ele não aceitou meu sentimento. Meu pai fez minha caveira por aí, falou que eu era um monstro feio e escuro. Meu pai me odeia, mas manda para mim todos os que ele não aceita. Manda os que são iguais a mim. Então nós nos unimos no único lugar que ele ainda deixou que habitássemos. Nós nos respeitamos em nossas imperfeições. O lugar escuro e obscuro. Dizem que o bueiro foi feito para todos nós. Abaixo da terra, escondidos aos olhos. Somos escuros e sem asas. Eles dizem que não voamos. Mas, por que eu ainda vejo essas asas nas minhas costas? Meu irmão não me vê como igual. Ele pode fazer com que ela morra como tantos morreram só por eu amá-la. Ele diz que eu sou egoísta. Mas onde está o egoísmo? No meu amor ou no assassinato que eles podem cometer? O pecado está em mim por amar, não neles por retirar a vida de alguém.
     Ando mais um pouco e tem mais um ali na cozinha. Ele sente quando eu estou passando com Mon. Ela sorri falando sobre os órfãos, enquanto segura seu terço em suas mãos delicadas. Ele vira para trás brevemente e me olha. Eles fazem questão que eu saiba que eles me vigiam. Vigiam o meu amor por ela. E quando saímos para fora para olhar o pôr do sol, há mais um ali na horta. Ao que parece, meu pai não poupou pessoal. Parece uma excursão de um novo convento para cá. Tantas freiras novas! E eles fizeram parecer que já faziam parte daqui. Eles são assim. Aparecem do nada. Eles entram sem pedir entrada. Se sentem donos de todos os lugares. Não são como eu que vim com minhas pernas e pedi licença ao entrar. A casa é deles, não é? Não é minha. Eu preciso do livre arbítrio do acolhimento. Eles já são acolhidos. Como eu disse, a casa é deles, não minha.
    E por quê eu falo que eles são eles, não elas por serem freiras... Eu já disse... Anjos de Deus são masculinos. Eles aceitaram ser apenas masculinos. Na casa do Pai, mesmo quando eles são femininos, ainda são masculinos. Travestidos, eles... Não são? Mas matam travestis por aí todo os dias por fazerem o mesmo. Eles podem se vestir de mulher e serem mulher, mas se um homem faz o mesmo, eles querem morto. E sempre o mandam para o meu lar. O único lar que ele será aceito como é. São apenas roupas, vestes, vestidas num corpo... Pessoas não deveriam morrer por usarem roupas. Respeitamos o coração. Algo que o nosso Pai não respeita. Ele nos cria, diz que temos livre arbítrio, mas nos joga na rua, nos vê indo embora e quando nos vê na rua, ele nos diz que nosso lugar é no bueiro. Sempre abaixo da terra, o lugar escuro. Ele nos diz que somos escuros e feios. Diz que não merecemos aquele lar lindo e cheio de ódio que ele nos quer fazer acreditar que é o melhor lar que poderemos ter. Um lar onde nosso pai bate na gente ou mata a gente por a gente ser apenas o que ele nos criou pra ser.
    - Irmã... - Eu olho para o céu e vejo aquele azul se tornando escuro, e o laranja em volta.
    - Pode dizer, irmã. - Eu escuto sua voz leve e angelical em meus ouvidos, pensando sobre como é injusto amar em um lugar como esse criado pelo Pai.
     - O que você pensa sobre pessoas que gostam de pessoas do mesmo sexo? - Suspiro porque sei a resposta, mas eu quero ouvir ela dizendo para mim.
    - São pessoas perdidas do amor de nosso senhor Jesus. - Ela ainda segura aquele maldito terço em seus dedos delicados, pois está sempre orando.
    - Se Jesus viesse e falasse que elas podem se amar, o que você pensaria? Jesus mudou tantas coisas do Antigo para o Novo Testamento. - Eu suspiro mais uma vez.
    - Eu respeitaria o que o senhor Jesus diz. Se ele disse, é porque ele tem razão. Ele é Deus. - Mon sorri de leve, pois ama muito Jesus e falar sobre ele é um prazer que ela sente. Mas ela não imagina que é estranho Jesus não estar no meu lar depois de algumas coisas que ele fez.
    - Entendo, irmã... Eu também respeitaria. - Concordo, ainda suspirando. - Você gosta de sopa de couve com fubá?
    - Amo bastante. - Ela sorri aquele sorriso que eu amo tanto.
    - Tomara que tenhamos hoje... Também amo. E os órfãos vão amar o que fizemos hoje. Alguns vão levar nossos gestos em seus corações por suas vidas todas. - Eu sorrio, pensando como Mon faz pelos órfãos algo belo, mas a igreja apenas faz uma evangelização. Dão coisas para os pobres pra cobrar devoção eterna e não para... É sempre um tome esse presente e venha pra igreja orar para Deus te dar mais. Nunca é um tome esse presente e seja feliz, guarde e se lembre que existem pessoas boas no mundo.
    - Amém, irmã. - Mon beija o terço feito de madeira que segura. É um daqueles terços com cheiro forte. Cheiro de lugar antiquado. Assim como tudo aqui cheira. Igrejas possuem o mesmo cheiro. Tudo que envolve o Pai é assim... Um cheiro forte e antigo. Gosto mais do cheiro das boates cheias de cor e perversão, safadeza, amor, alegria... As boates escondidas na rua perdida de um centro perdido de uma cidade perdida. Eles não estão perdidos. Eles se encontram ali naquele lugar. Eles se encontram, entende? Não estão mais perdidos. Estariam mais perdidos orando na casa do Pai.
    - Irmã Margareth mandou que colhesse as folhas de rúcula para o jantar. - O anjo vem e olha para mim. Ele não me chama de irmã, pois não me vê como uma irmã.
    - Sim, irmã. - Eu concordo e faço questão de chamá-lo de irmã.
    - Vou com você, irmã. - Mon sorri e o anjo me olha com seu olhar intenso. Eu não dou atenção.
    - Obrigada por sua companhia, irmã. Será muito abençoada. - Eu sorrio para ela e saímos, deixando o anjo para trás.
    - Deus abençoe, irmã. - Mon fala para o anjo, mas eu não falo o mesmo.
    - Deus sempre a abençoará, irmã. - Ele responde, mas não dou atenção.
    - A praia é sempre muito bonita nessas horas. - Eu falo quando seguimos de forma tranquila para o lugar onde está o outro anjo.
    - Sempre, mesmo. Deus fez tudo da forma correta. Tudo lindo e perfeito assim como sua imagem e perfeição. - Ela sorri mais uma vez e eu fico feliz por saber que ela sorri ao meu lado e gosta da minha companhia.
    - Irmã, você ama muito as coisas de forma muito bonita. Alguém já te disse isso? - Eu olho para ela de lado.
    - Sim, algumas. Mas a que mais me tocou foi uma mulher na praia antes de eu vir para cá. Era uma senhora muito gentil que conversou comigo. Eu guardo aquela nossa conversa em meu coração. - Ela sorri e parece sentir carinho. O carinho que ela sente é por mim. Ela gosta de mim em todas as minhas formas, não importando meu rosto. E ela nem sabe que sou eu. O que será que ela sentirá quando souber? Eu não sei. Eu só posso saber o que ela sentiu e já pensou. Eu não sei o que ela sentirá. São incógnitas que me fazem pensar todos os dias enquanto ela dorme. Eu nunca durmo. Eu apenas medito para ter forças para aguentar esse lugar. Por ela, eu aguento.
    - Você só viu ela uma vez? - Eu pergunto.
    - Sim, apenas uma. Mas sabe quando nós temos uma ligação com alguém? Penso se ela sentiu que teve isso comigo também. Deus coloca pessoas em nossas vidas em momentos especiais demais. E aquele foi especial para mim. - Mon ainda sorri com certo carinho e meu coração se enche de alegria. Ela sente isso e eu também. Ela sentiu a mesma conexão que eu. 

    Ouvir isso da boca dela é tão importante pra mim. Ela é uma mulher tão especial e só dela sentir isso por mim, eu já ganhei por estar aqui e eles estarem aqui não muda nada. Eu vou protegê-la deles. Eles impõem proteção bruta e cruel. Mas eu a protegerei com todo meu amor. Nem que seja necessário eu chamar meus irmãos de verdade para me ajudar. Eles não vou fazer mal para Mon só para impedir que ela me ame. Ela já gosta de mim. Ela só não sabe. Ela não entende ainda. Porque não ensinam que é normal amar uma mulher. Ela gosta de mim. Gosta de quem eu sou. Exatamente de quem eu sou. Eu sei. Eu sei... Entende? Eles não vão retirar isso de mim. Eu vou colocar minhas asas brancas que eles inventaram por aí que são asas negras em volta do meu amor. Eu vou a proteger. Minhas asas são coloridas assim como meu amor. Eles são desbotados e sem cor. Não brancos... Apenas desbotados e feios. Não nós. Eles dizem que são luz, mas luz somos nós. Eles não aceitam que somos arco-íris após a chuva. A luz nos toca e faz surgir no céu a coisa mais linda do mundo. Coloridos e cheios de luz. Não eles... Eles são desbotados. Onde há desbotamento, não há cor. E eu sou cheia de cor.

False GodWhere stories live. Discover now