Não há descanso às sextas-feiras.

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"Sacrifique suas crenças e desacredite das escrituras: os verdadeiros monstros não são aqueles que preferem a noite, mas aqueles que matam lentamente durante a luz do dia."

Enquanto o Sol se punha novamente, Christopher observava pela janela, através da cortina fina de cor negra que impedia os raios solares de atravessarem os limites do quarto e atingirem sua pele. O rapaz se perguntou como seria a sensação, para aqueles que eram humanos, de sair e sentir o calor familiar em seu corpo, como uma carícia. Como seria olhar para cima e precisar desviar os olhos da imensidão brilhante que era o Sol. Alguns de seus irmãos, aqueles que já haviam sido humanos um dia, tentaram descrever o esquentar gradativo da pele para ele diversas vezes, mas palavras pareciam não surtir qualquer efeito no que dizia respeito à sensações. E sentimentos também.

Talvez ele estivesse se ressentido de sua própria condição naquele momento, mas não havia muito mais do que fazer na situação em que estava: desde o dia da missão, que acarretou na cena deplorável de discussão que os irmãos se envolveram, estava tudo em silêncio no castelo, mesmo após a aposta proposta por Axel. E portanto, sem ninguém para conversar, ele era obrigado a abraçar as próprias paranóias.

Mesmo que já fizesse um mês, ainda era um silêncio de luto. Luto de um pai, Maksin, que havia perdido seu precioso e único filho Louis; de Heloise, que perdera o noivo e Bernard que perdera o melhor amigo, assim como o primo, e o sentimento era compartilhado por todos os Volgermann. Mas eles não eram os únicos que mantinham agora um espaço vazio em sua mesa, diversos familiares e amigos não voltaram para casa, e isso era sentido por todos os que rodeavam a área dos castelos e das bases militares, desde os funcionários aparentemente abatidos até os soldados que haviam cortado até mesmo sua corrida matinal em torno do Reino.

Havia uma nuvem de melancolia que cobria tudo.

Um suspiro escapou por seus lábios, e Kit abriu as cortinas novamente quando o Sol desapareceu por entre nuvens grossas, com a promessa de voltar apenas no dia seguinte. Não era noite ainda, portanto era possível enxergar de forma precária o que acontecia no Reino abaixo de si. E naquele momento, todos já deveriam saber sobre o cortejo que aconteceria. Ele estava curioso para escutar os pensamentos dos plebeus sobre isso.

Talvez por isso ele tenha resolvido sair com os irmãos.

— Kit? — A voz de Fioretta se fez ouvir e ele se virou para ver a bela mulher trajada com um vestido negro e um capuz da mesma cor, estonteante como sempre — Estamos prontos. Vamos, antes que mais alguém mais queira ir conosco.

O rapaz sorriu levemente e assentiu, resolvendo trancar seus pensamentos dentro de sua mente por um momento antes de sair do quarto e seguir os passos dela pelos lances de escada abaixo, na direção dos portões do castelo. Axel e Farah já os esperavam, ambos igualmente bem arrumados com trajes que continham o famoso capuz preto, para tornar difícil a visão de seus rostos pelas ruas. O mais novo sabia que não havia um risco real de serem atacados em público, pois além de serem perfeitamente capazes de evitar um ataque e vencer em uma luta, ainda haviam muitos soldados pelas ruas. Mas, em especial depois do anúncio do cortejo, Christopher sabia que era um cuidado a mais que deveriam ter, portanto ergueu seu próprio capuz sobre os fios claros.

— Prontos para um passeio pelo centro? — Axel foi o primeiro a falar, tão animado que mal conseguia se manter em pé no mesmo lugar por mais de alguns segundos.

— Tem certeza que deveríamos estar saindo depois do anúncio do cortejo mês passado? — Farah comentou, enquanto os quatro começavam a caminhar para fora dos limites do palácio, suas vestes em tom acobreado destacando ainda mais seus cabelos claros — Provavelmente todo o Reino já deve saber agora. As pessoas podem ter as mais diferentes reações, e o que garante que nenhuma delas é... ruim?

Sanguinis PetalaUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum