Ai meu coração...

- Você quer que eu chame uma ambulância? - ela me perguntou ficando cada vez mais aflita. Agachou-se na minha frente, retirou um lenço de seda que sempre carregava no bolso e tratou de enrolar á minha ferida. Os toques dos seus dedos em minha pele eram simplesmente mágicos. - Você fala? - questionou-me diante do meu silêncio.

- Sim. - engoli á seco, várias vezes, antes de responder. Estou sonhando. Freen falando comigo, me tocando... É o céu. Talvez, eu tenha morrido no acidente e antes de partir para a glória estava tendo um pequeno deslumbre do paraíso. Ah, como era belo. E esse perfume? Queria tanto deitar a cabeça no ombro dela e aspirar o seu cheiro. - Quero drenar o seu cheiro. - soltei em voz alta, atraindo a atenção dela que me olhou como se eu fosse uma louca. Fiquei vermelha. Ótimo Becky! Parabéns! - Eu... Eu... Olhe... Veja bem, eu... É... - não tinha o que dizer, então, soltei uma risadinha débil.

Quase li um doida varrida nos olhos maravilhosos de Freen.

- Eu acho melhor irmos ao hospital. - ela disse ao terminar de amarrar a minha perna. - Não sei a gravidade da tua perna, mas acho que tem que pontear.

Também acho. Está sangrando muito e o tecido tão macio e suave de seda estava praticamente encharcado, mas se eu fosse ao hospital, perderia muito tempo e não quero ficar mais um minuto longe de minha mãezinha. Tento me levantar e a perna me incomoda bastante, engulo a careta de dor e tive a ajuda de Freen para ficar em pé. Como foi bom. Suspirei quase em prazer por poder abraçá-la, mesmo que rapidamente.

Nessa altura do campeonato, as pessoas já tinham se dispersado.

- Não precisa. Em casa eu cuido disso, tenho um kit de primeiros socorros que é quase um hospital. -  brinquei, mas era verdade, tinha um pouco de tudo lá. - Eu só preciso ir pra casa. - sorrir pra Freen que continuou me olhando sem expressão, então, voltei a suspirar e olhei para a embalagem amassada. - Você poderia me dá...? - apontei.

- Ah, claro. - pegou a embalagem e também a minha mochila, me entregando em seguida. - Você quer que eu chame um Uber para te levar pra casa? - perguntou solicita.

Só se o Uber aceitar ticket refeição. Pensei e rir sozinha com a piadinha. Freen me encarou novamente com aquele olhar de doida varrida.

Parei de rir.

- Não Freen, obrigada. - ajeitei a mochila nas costas.

- Como sabe o meu nome? - perguntou-me cautelosa.

- Estudamos no mesmo colégio. - respondi sem deixar de me ressentir por ela não saber quem eu era. Mas eu não a culpo. - Na mesma sala, eu sento atrás de você... Todos os dias.

- Ah sim! - sorriu de lado, mas sem nenhuma empolgação. - Eu tenho que ir agora, ah... Ah... - ela estava hesitando como se tentasse descobrir o meu nome.

- Rebecca. - eu disse.

Ela deu de ombros.

- Ok Rebecca. - pegou o capacete do chão. - Nos vermos amanhã no colégio. - disse, mas eu não sentir muita firmeza. - E cuidado ao atravessar, o sinal de trânsito existe por um motivo. -terminou de dizer e foi para a sua moto.

Sorrio suavemente, acabo de receber uma pequena bronca de Freen. Que amor. Volto a suspirar. Ela sobe na sua moto com destreza, liga e acelera, andando alguns metros, fico observando-a ir... Até que algo á faz parar por uns segundos, então, ela volta de ré até mim e me olha.

- Sobe aí. - diz ela.

- Quê? - pergunto abobalhada e sem acreditar se de fato á Freen me quer em sua moto.

- Eu disse sobe aí. Vou te levar até a sua casa. - ela responde meio impaciente.

Não deixo de me admirar com a sua atitude, poderia simplesmente me deixar aqui.

- Não precisa se preocupar comigo, eu vou andando. - eu disse simples.

- Garota! Eu sei que você pode ir andando, mas estou oferecendo carona, sobe logo nessa moto que estamos atrapalhando o trânsito. - mandou subitamente estressada.

Um doce, não? Ainda olhei para a moto um pouco indecisa, mas a forma que Freen me olhava indicava que não ficaria com nenhum remorso em retirar a carona e minha perna estava de fato, doendo. Ignorando o meu medo de motos e com um pouco de dificuldade, subi.

- Onde você mora?

- No alto da cidade, no penhasco. - respondi.

Ela apenas balançou a cabeça.

- Melhor se segurar.

Quando ia questionar á onde, Freen deu partida na moto e eu, agarrei-me nela como se fosse um polvo, mas protegendo a minha caixinha de cupcake. Fechei os meus olhos e encostei a minha testa próxima a nuca dela. Não quero ver absolutamente nada, porque se eu vir às pessoas, os carros, as casas, a passagem voando diante dos meus olhos, irei ficar paranoica por estar em cima de uma moto e ainda por cima sem capacete...

El Sabor De Lá Venganza { FreenBecky }Where stories live. Discover now