Corte

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Opa, chegamos à pós-revelação do "eu te amo"...

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"Eu te amo, Inês".

"Eu te amo, Inês".

Maria Inês nunca pode imaginar que ouviria de Edmundo Camilo justamente aquelas palavras. Na verdade, tudo que ele havia dito a ela parecia vindo de um sonho, e se assim fosse, ela não queria acordar.

Então tudo aquilo que ela preparou, imaginou, tentou até treinar internamente para dizer, ele respondeu de forma clara e objetiva, do jeito dele. Ele amava e era espantoso que ele acreditasse não merecer o amor que ela e as crianças davam a ele.

Como Edmundo era capaz de dizer algo assim? Como era capaz de achar que não merecia, quando era um excelente pai para os gêmeos, quando era um marido que ela inicialmente achava que não era um bom homem, mas ele era uma boa pessoa mesmo com suas complexidades, erros e acertos... E ela aprendeu a amá-lo. Maria Inês sabia quem era Edmundo, ela tinha consciência de que ele podia ser o mesmo homem frio, distante e egoísta, e que faria de tudo, mover céus e terras, derramar sangue pelo bem dela, das crianças, do bebê que esperava.

Era um homem capaz de ouvi-la, de entendê-la, absorver suas ideias, e de mudar suas opiniões. Era um homem de posição alta, um homem muito rico e privilegiado, que poderia ignorar suas considerações. Porém ele não o fez.

Como era capaz de acreditar que não merecia esse amor?

- Como, Edmundo... Como você é capaz de pensar que não merece o amor que eu e as crianças te damos?

- Você sabe exatamente quem eu sou...

- Ainda bem que eu sei quem você é. Essa é a parte mais importante. Você não esconde nada de mim, nem a parte boa, nem a parte ruim. Pode parecer estranho, mas você é mais transparente do que imagina.

Maria Inês testemunhou um raro momento em que o marido foi surpreendido com a própria reação. Alguém que gostava de esconder seus sentimentos havia exposto sua surpresa nos olhos arregalados ligeiramente, e os lábios entreabertos.

- Eu sei que você é um homem distante, difícil, irritante. – sorriu. – Ao mesmo tempo que mostra seu amor pelas crianças com atitudes, gestos, e elas sabem disso. Elas já disseram isso a você, que sabem que você as ama, mas que você tem dificuldade em verbalizar isso. Hoje entendo a profundidade de seus sentimentos por mim... Acho que agora eu entendo. Você só é teimoso até a página dois, quando eu digo algo que faz você repensar.

- Impossível não repensar quando você me convence tão bem, Inês.

- E essa é uma das razões pelas quais eu te amo, Edmundo.

As palavras de Maria Inês pareciam dar a Edmundo uma confiança que talvez ele não tivesse se não tivesse confessado tão diretamente o que sentia, o que pensava. Até mesmo seu corpo parecia dar as respostas, as réplicas tão necessárias para confirmar que ele não estava sonhando. Suas mãos foram direto aos cabelos da esposa, pacientemente enrolando as mechas em seu dedo, enquanto a outra mão seguia pelo rosto de Maria Inês, tocando lentamente na parte da bochecha onde havia o ferimento ainda a ser recuperado.

-O que você enxerga quando me vê parece muito mais bonito do que eu acho, do que eu imagino...

- Eu enxergo o homem que eu amo, o único homem que eu posso dizer que eu amo e que me fez questionar até mesmo boa parte de minhas decisões. Se você acha, Edmundo, que é o único com dúvidas... Deveria passar um dia dentro de minha cabeça.

- Se eu passasse um dia como você, voltaria uma pessoa bem melhor.

Edmundo ficou ainda mais próximo de Maria Inês, e deslizou uma trilha de pequenos beijos ali, pela bochecha, no mesmo lado onde ficava o curativo, como se aquilo ali fosse uma forma de ajudar a deixar a cura mais rápida. Maria Inês, por sua vez, gostava daquele arrepio, daquele arranhar suave, gentil vindo da barba fechada do seu marido. Não havia dor, e sim um toque aveludado e até mesmo rústico, que ela gostava. Era um desejo único e primitivo, que agora estava aliado a uma coisa primordial na vida dos dois.

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