Liberação

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eu gosto muito deste capítulo.

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Edmundo Camilo, o governador da Bahia, um dos homens cujo poder estava em ascensão no país, não podia acreditar no que estava acontecendo.

O quintal do Palácio de Ondina, onde ele esperava longas reuniões e encontros com autoridades, festas de gala e a nata da sociedade decidindo destinos em meio a canapés e espumantes, estava repleto de brinquedos para crianças, almofadas e trampolins; uma bola com arranhador, cobras e ratos de brinquedo, e uma casinha com arranhador – além de um sobrado de três andares com rede, toca, casa e arranhador, embalado dentro de um plástico com um laço imenso amarrando o material.

Ele não aguentava mais ver arranhadores ao seu redor.

Para completar, espalhados pelo quintal, alguns potes de água, comida e leite aqui e ali, renovados periodicamente.

E gatos. Muitos gatos.

Além de um bolo encomendado com ingredientes próprios para os gatos consumirem, decorado com desenhos de um gato preto e o nome PRETINHO escrito em cima da cobertura.

O gato estava completando um ano de idade, e ao invés de circular pelo quintal, seguir os gêmeos ou miar para os outros bichanos "convidados" para a festa, ele preferiu ficar ao lado de Edmundo, o corpo próximo às pernas do governador.

Ele olhou para baixo e encarou o gato, que girou o corpo e o encarou com seus olhos azuis-cinzentos.

Edmundo buscou o animal e o deixou no colo, passando a mão na cabeça de Pretinho.

- Você deveria estar era conversando com o gato branco, ou perseguindo as crianças. Eu não gosto de animais. Você é carente. Na verdade, não, você é inteligente, esperto. Apresenta-se como um animal carente, para obter carinhos de Maria Rosa e Rafael, além dessa festa nababesca.

Edmundo observou a comemoração do aniversário de Pretinho, os convidados – entre os seguranças da família, coleguinhas de escola, os netos de dona Rita (que brincavam de pega-pega com os gêmeos) e Acácio Fontana, que estava com o gato dele no colo – um animal de pelo amarelo e lustroso – e conversava com a primeira-dama, que apontava para o gato e perguntava sobre algo.

- Mas ele é enorme, Acácio! Qual é o nome dele?

- Tadeu, meu amigo desde sempre. Me acompanhou na pós, especialmente dormindo em cima da tecla do notebook, e um grande conquistador.

- Ele tem filhotes espalhados por aí?

- Não, porque é castrado...

- Eu corri pra castrar Pretinho na época por causa disso...

- Pois é, fundamental... Mas é porque minhas ex eram conquistadas mais por Tadeu do que por mim.

A jovem arregalou os olhos e depois conteve uma gargalhada escondendo os lábios com uma das mãos.

- Pois é, eu já coloquei minha foto junto com Tadeu em app de encontro pra ver se tenho mais matches...

- Vai dar certo, Acácio, não se preocupe. Você é uma boa pessoa, excelente profissional, uma hora chega a pessoa certa.

- É o que eu espero... – o assessor procurou o gato aniversariante pelo quintal, enquanto Maria Inês conversava com Tadeu com uma voz mais aguda, "você é um menino lindo, sabia?" – Será que ele vai gostar do presente, Inês?

Acácio olhou o governador de soslaio, praticamente colado na esposa – e Maria Inês não notou ainda – e pigarreou.

– Desculpa, dona Inês...

ControleWhere stories live. Discover now