Refreamento

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Estou em clima de VITÓRIA CAMPEÃO BRASILEIRO SÉRIE B e por isso o capítulo chegou nesta bat hora.

Está bem grande e uma das promessas foi cumprida. Só digo isso.

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Maria Inês acordou um pouco mais cedo do que o habitual naquela manhã.

Para a jovem, às vezes era bastante comum que ela acordasse antes mesmo do canto do galo que vivia em uma granja nos fundos do Palácio de Ondina, e passasse alguns minutos de olhos abertos na cama, na tentativa de conciliar o sono. No entanto, naquela madrugada em específico, "conciliar o sono" foi a última coisa que a jovem foi capaz de fazer.

Ela virou o corpo lentamente na direção do marido, que dormia com sua habitual placidez. Maria Inês era consciente de que Edmundo tinha um sono leve, e qualquer movimento, qualquer passo, qualquer respiração diferente ele perceberia logo. Porém, aqueles ligeiros instantes em que ela pôde ver a expressão neutra do marido, alguém que parecia sequer ser capaz de sonhar com algo e demonstrar em seu rosto, a primeira-dama notou muitas coisas. Coisas que ela sempre guardava, que estava em sua mente, em seu coração, e até mesmo nas memórias mantidas pelo próprio corpo.

Há algum tempo que Edmundo não cortava o cabelo, e deixava num tamanho um pouco atrás da nuca, os cabelos iniciando um pouco lisos e descendo ligeiramente ondulados. Era algo diferente, estranho, e pouco usual para os políticos, mas ela gostava daquilo. Havia algo confortável e familiar a ela, saber que pelo menos de uma certa formalidade, Edmundo parecia ter se liberado um pouco. Tinha também a barba por fazer, que ele sempre deixava um pouco mais aparada antes do dia começar, porque ele precisava manter a imagem de "homem do povo"; quando ele passava longe de ser alguém vindo de baixo, mas Edmundo sabia disfarçar bem.

Uma das características de seu marido que ela simplesmente ignorava e deixava seguir em frente.

Havia algo confuso, ao mesmo tempo que confortável para Maria Inês ao pensar que ela era casada com ele. A pedagoga precisava se lembrar dos primeiros dias, das primeiras tensões, de como ela chegou à posição que estava naquele instante, de como o anel repousando em seu dedo anelar chegou ali. Mas no fim das contas, Maria Inês sabia que talvez, de uma forma muito estranha, se casar com Edmundo Camilo foi a melhor decisão, mesmo que por meios tortos, de chantagem, sem um começo bonito ou no mínimo amistoso. Maria Inês não se importava mais com os meios, apesar de aquela conclusão não ser de acordo com seus valores, sua personalidade.

Contudo, era uma sobrevivente, e mãe. Sua preocupação era com os filhos, e agora, as crianças tinham um pai que lhes protegia, dava uma vida confortável para os gêmeos, algo que Maria Inês não poderia dar, pensando na vida que levava.

A própria Maria Inês também tinha... O que ela tinha?

A jovem tinha alguém que, para o total estranhamento dela, ouvia-a e regularmente parecia repensar conceitos ou mudar de ideia quando ela colocava suas considerações. Ela tinha alguém que parecia sempre distante, mas a todo momento mudava sua agenda, sua programação, para dar prioridade às crianças – e à Maria Inês. Ao lado dela, havia alguém que, apesar da dificuldade em expressar de forma verbal algum sentimento, agia de maneira que às vezes Maria Inês considerava questionáveis para fazer valer a segurança e a tranquilidade dela e dos gêmeos.

Para ela, tais ações valiam mais do que quaisquer palavras.

Assim, como Maria Inês não poderia se sentir agradada, feliz? Querida? Edmundo poderia não ser capaz de falar ou de demonstrar, mas toda a proximidade, preocupação com os filhos, era o suficiente para acalmar seu coração.

Porém, não era apenas aquilo... Mas toda a parte que envolvia os momentos em que não havia ninguém, não havia agenda de reuniões, não existia o governador e a primeira-dama. Quando havia apenas os dois. Quando Edmundo dizia que ela era perfeita, e que não havia ninguém que poderia aspirar a perfeição dela, e Maria Inês não acreditava, mas ele mostrava.

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